A ilha de S. Vicente está em choque com a inesperada notícia do falecimento ontem à noite de Cely Freitas, 58 anos, filha da malograda empresária e presidente do grupo carnavalesco Vindos do Oriente. Cely, como era tratada pelos amigos, sentiu uma indisposição e foi levada para uma clínica, mas acabou por morrer depois da meia-noite.
As causas da morte ainda não foram reveladas oficialmente, mas pessoas próximas acreditam que estejam relacionadas com lembranças da mãe, falecida em janeiro do ano passado, uma das emblemáticas figuras do Carnaval d’Soncent e que será homenageada amanhã a partir das 18 horas com um desfile a anteceder a entrada dos grupos oficiais em competição este ano. Consta que Cely estava empenhada nos preparativos desse momento especial, mas bastante emocionada.
Muita gente foi apanhada de surpresa com a notícia dessa figura ligada fortemente ao Carnaval e ao desporto, em particular ao futebol feminino. Caso do dançarino Márcio, membro do grupo Heaven Angels, que constitui uma das alas de destaque do Vindos do Oriente. Com os olhos embaciados, o jovem confessa que não esperava ouvir uma novidade dessas. “Tínhamos combinado que iríamos fazer uma bela homenagem à dona Lily, mas, pelo que vejo, agora esta homenagem será para as duas”, diz Márcio, para quem é difícil aceitar um acontecimento dessa natureza.
O jovem descreve Cely como uma amiga especial, que estava sempre pronta a ajudar quem precisasse. E foi esse o tratamento que, segundo Márcio, a amiga deu ao seu grupo de dança.
O coreógrafo William, irmão de Márcio, confirma que Cely fazia tudo para o grupo de dança trabalhar nas condições ideais por altura do Carnaval. William revela que foi o seu grupo que tomou a iniciativa de propor a sua entrada para o Vindos do Oriente devido a capacidade organizativa e qualidade dos seus desfiles. “Ficamos apaixonados pelo VO.” Nascia uma forte relação de amizade com Dona Lily e Cely Freitas, que, diz o jovem, lhe chamava carinhosamente “nha mucim”. “Era como se fizéssemos parte da família “, frisa o jovem dançarino, que não tem palavras para descrever a pessoa de Cely Freitas.
Outro grande amigo que ainda está a processar a notícia é o técnico informático e fotógrafo César Costa. Segundo César, soube que Cely não se sentia bem, mas associou essa indisposição ao momento do Carnaval devido a relação que a família Freitas tem com esta festa. “Mas nunca a ponto de imaginar um desfecho desta natureza”, confessa.
César tinha uma relação de amizade e profissional com Cely, que costumava solicitar-lhe serviços de impressão. Aliás, no dia 13 estiveram a falar sobre a homenagem à mãe dela. E por esta altura, César notou que Cely estava emocionada. “Tal como a mãe, Cely era uma pessoa que primava pela qualidade e se embrenhava de corpo e alma onde estivesse, seja no Carnaval, seja no desporto”, diz César, para quem Cely fez muita coisa pelo Carnaval de S. Vicente.
Cely ligou o seu nome tanto ao Caranval como ao desporto. Antiga atleta, era uma amante ferrenha do futebol feminino e assumiu a direção da equipa feminina do CS Mindelense. Pessoa simples e de fino trato, faleceu por volta da meia noite e vinte minutos após ser levada para uma clínica privada. O corpo está guardado em frio à espera da chegada de um familiar, pelo que, conforme apurou este jornal, o funeral será depois da terça-feira do Carnaval.