O Cruzeiros do Norte, campeão em título, promete um espectáculo alegórico à altura de um concurso oficial. Por seu lado, Flores do Mindelo aguarda decisão da CMSV para saber se vai também desfilar. Já os grupos Monte Sossego, Estrela do Mar, Vindos do Oriente e Samba Tropical anunciaram que não têm condições para dar o tradicional brilho à festa do Rei Momo em S. Vicente, no próximo ano.
O carnaval “Mindelo 2026” vai contar, afinal, com o desfile do Cruzeiros do Norte, nada menos que o campeão em título. Nadando contra a corrente – dada a anunciada desistência dos concorrentes Monte Sossego, Estrela do Mar e Vindos do Oriente -, o grupo promete levar para o asfalto no dia 17 de fevereiro um espectáculo alegórico à altura de um concurso oficial. “Vamos levar para a Rua de Lisboa o mesmo projecto, um desfile ao estilo Cruzeiros do Norte, porque S. Vicente merece. Mais do que nunca o nosso povo precisa do Carnaval para espantarmos a tristeza e dinamizar a economia local”, frisa Jailson Juff.
Este posicionamento contrasta com a opção feita pela direção dos referidos grémios, mais o Samba Tropical – grupo que desfila na segunda-feira à noite sem concurso -, justificada pela falta de condições mínimas para prepararem uma apresentação condigna. Isto muito por causa dos danos causados pela chuva torrencial, que lhes destruiu instrumentos da batucada, equipamentos e ainda a falta de estaleiro.
A decisão do Cruzeiros do Norte foi comunicada aos outros grupos numa reunião dos presidentes, quando ainda pairava mais dúvidas do que certezas sobre o posicionamento que deveriam assumir em relação ao desfile de 2026. Segundo Jailson Juff, o Cruzeiros manteve a sua opção e, por discordar com a medida tomada pelo Samba, Monte Sossego, Estrela do Mar e Vindos do Oriente preferiu não comparecer na conferência de imprensa onde anunciaram a desistência.
“Inicialmente tínhamos algumas reivindicações para podermos sair em 2026, nomeadamente melhorias nos estaleiros e entrega das ajudas financeiras em tranches. Eu fui o primeiro a dizer, assim que ganhamos o título, que não iríamos desfilar no próximo ano se as coisas não fossem melhoradas”, revela o dirigente do Cruzeiros. Porém, diz, perante a destruição provocada pela tempestade Erin não fazia sentido continuarem a manter as exigências feitas à Câmara de S. Vicente e ao Governo.
“Deixei claro na reunião que tínhamos de pensar no povo, naqueles profissionais que perderam tudo e que podem ganhar algum rendimento com o Carnaval. Ora, já fizemos desfiles em condições de dificuldade extrema e, para mim, esta é a oportunidade para demonstrarmos, sem sombras para dúvidas, de que realmente amamos o Carnaval e a ilha de S. Vicente”, diz Juff, que ficou triste com o cancelamento do concurso oficial.
Para edificar o desfile, o Cruzeiros do Norte conta com os apoios financeiros da CMSV e do Ministério da Cultura. O grupo já começou a limpeza do estaleiro junto a Escola Técnica do Mindelo e pensa iniciar a construção dos carros alegóricos até o final deste mês. Juff adianta que o CN já tem algumas peças construídas e que vai fazer a apresentação pública do enredo no dia 15 de novembro.
Flores do Mindelo ainda na expectativa
Já o grupo carnavalesco Flores do Mindelo, um dos mais antigos da ilha ainda no ativo, aguarda uma decisão da Câmara de S. Vicente para confirmar se vai ou não desfilar no Carnaval 2026. Esta informação foi confirmada ao Mindelinsite pela presidente da agremiação, que alega até então não ter tido nenhum encontro com a edilidade mindelense. Segundo Ana Ramos, a edilidade sequer se preocupou em prestar solidariedade ao grémio ou tentar apurar quais os prejuízos que sofreram na sequência da chuva de 11 de agosto.
De acordo com esta responsável, o grupo registou grandes perdas, citando, a título de exemplo, a destruição de cerca de metade dos 150 instrumentos da sua bateria, que estavam guardados no Quintal das Artes, além de dois motores de solda, rebarbadeiras, compressores e restos de materiais de outros desfiles que normalmente são reaproveitados nos anos subsequentes.
Ana Ramos assume que a vontade de fazer o Carnaval é grande, mas, diz, a situação é complicada. “Ainda estamos à espera de uma decisão da Câmara de São Vicente, que é a maior patrocinadora desta festa. Por enquanto, há apenas rumores de que não vai haver desfile oficial.”
A presidente de Flores do Mindelo reconhece que o ambiente não é favorável, tendo em conta as perdas, mas afirma que, caso a decisão seja para a realização do Carnaval, as agremiações precisam começar a mexer. Revela que um levantamento inicial aponta para danos sofridos pelo seu grupo em valores que superam os 1.700 contos.
A responsável do FM afirma que, apesar dos danos registados, até agora só foi contactado pelo ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, que solicitou ao grupo uma estimativa das perdas. “A CMSV nunca nos procurou, sequer para manifestar solidariedade. Ainda temos muito material debaixo de lama, que não sabemos se é possível recuperar. Precisamos de recursos para alimentar as pessoas que teremos de colocar para desenterrar os equipamentos e limpar a lama. Só então teremos uma ideia mais concreta da dimensão do prejuízo.”
Em suma, por causa destes constrangimentos prefere adiar a decisão sobre a participação ou não do grupo Flores do Mindelo no Carnaval 2026 até que a CMSV se pronuncie. Por isso também não acompanhou os presidentes das demais agremiações na conferência de imprensa. “Cada grupo sabe da sua situação e decide se participa ou não no Carnaval.”