Os trabalhadores cabo-verdianos confinados no hotel Riu Karamboa, na ilha da Boa Vista, estão cansados de viver em permanente quarentena e sem saber se estão ou não contaminados. Ontem, num autêntico desafio ao Governo e ao distanciamento social exigido pelas autoridades sanitárias, concentraram-se num dos jardins do hotel para exigir a realização de exames ao Covid-19 a todos. Como frisam num vídeo que transmitiram em directo no Facebook, foram informados que vão iniciar um novo período de quarentena devido a um teste positivo feito a um técnico do estabelecimento turístico. Isto quando estavam prestes a terminar o confinamento a que foram sujeitos desde o dia 19 de março, portanto há dez dias.
Nitidamente revoltada, uma das funcionárias pergunta se cada vez que for detectado um caso positivo vão iniciar um novo ciclo de quarentena. “Vamos viver permanentemente em quarentena? Isto não é quarentena, é centena!”, diz a funcionária, que exigiu a realização de testes a todos os funcionários do hotel. Como lembra, apesar de estarem em quartos separados, acabam por se misturar nos átrios, na cozinha e noutros pontos do hotel.
Outra funcionária realça que o mais importante neste momento não é saberem se saem hoje ou amanhã da quarentena, mas sim se estão livres da doença. “Tenho um filho, quero voltar a abraça-lo, mas ciente que não estou infectada.”
Este acto de rebeldia terá deixado as autoridades sanitárias com um gosto amargo de boca. Ontem, ao fazer o ponto de situação do Covid-19 em Cabo Verde, Artur Correia, Director Nacional da Saúde, evitou falar directamente sobre o protesto dos funcionários do hotel Riu Karamboa, que exigem a presença de técnicos de saúde no hotel e que estes façam “o seu serviço”. Como um deles realçou, receberam apenas uma caixa com 15-20 máscaras, quando são quase duas centenas de trabalhadores de quarentena.
No encontro com a imprensa, Correia começou por enviar uma mensagem de encorajamento aos mais de 200 funcionários em quarentena nos dois hotéis da ilha da Boa Vista há cerca de 10 dias. Segundo o DNS, estas pessoas estão na cabeça das autoridades 24 horas por dia. “Estão presentes nas nossas preocupações e devo render, enquanto DNS, uma homenagem pela forma como se têm comportado e espero que estejam conscientes que esta quarentena que estão a fazer não é nenhum castigo. É sim um acto heróico para a vossa saúde, das vossas famílias, de Boa Vista e de Cabo Verde”, afirmou.
Instado sobre a possibilidade de mandar fazer testes a todos os trabalhadores, Artur Correia explicou que se está neste momento a organizar um estudo que vai abarcar todas as pessoas em quarentena nos hotéis na Boa Vista e na cidade da Praia, para ver a prevalência ou a circulação do vírus nestes empreendimentos turísticos.
