Cabo Verde vai pedir perdão total da dívida externa

O vice Primeiro-ministro garantiu hoje, em declarações à RCV, que Cabo Verde está fora da lista dos 25 países africanos beneficiadas pelo Fundo Monetário Internacional porque não devem “nenhum tostão” a esta instituição. Olavo Correia reagia ao posicionamento dos presidentes da UCID e do PAICV, que pediram mais empenho da diplomacia nacional para que o arquipélago seja incluido neste lote e poder flutuar no pós-crise provocada pela pandemia global do novo coronavirus. 

Em declarações ao jornalista Júlio Vera-Cruz na manhã desta terça-feira, o Ministro das Finanças disse que  Cabo Verde nunca teve nenhum problema grave com a balança de pagamentos que justificasse uma intervenção financeira do FMI e, por isso, não poderia integrar a lista de 25 países africanos beneficiados com este perdão. Por outro lado, lembrou, o arquipélago integra o grupo de Países de Desenvolvimento Médio (PDM)

O governante aproveitou para anunciar que estão em curso negociações que visam uma moratória no pagamento de dívidas a curto prazo. “A nossa divida para com o FMI é zero, por isso não podemos fazer parte desta lista. Cabo Verde nunca teve nenhum problema grave com a balança de pagamentos. Temos sim vários programas com o FMI, mas sem qualquer reembolso”, afirmou Correia e Silva, admitindo, no entanto, que o país tem dividas com outras instituições internacionais. 

Moratória para pagar dívidas

Neste sentido, frisou o governante, a estratégia de Cabo Verde neste momento, a semelhança de outros países africanos, é de procurar que todos possam ter uma moratória em relação ao pagamento das dividas externas no curto prazo. “Este curto prazo significa ainda para 2020. Para além disso, vamos integrar o grupo de países que vão colocar o perdão global da dívida externa na agenda internacional”, assegurou o vice Primeiro-ministro. 

O presidente da União Cabo-verdiana Independente e Democrática, refira-se, defendeu na manhã de hoje que o nosso país devia procurar, através da sua diplomacia, o perdão da sua divida externa junto de países e organizações internacionais. Antonio Monteiro acredita que, de outra forma, será difícil sobreviver no contexto da pandemia do covid-19.  O líder da UCID reagia a noticia divulgada hoje e que dava conta que o FMI perdoou a divida de um grupo de 25 países africanos, entre os quais Guiné Bissau, São Tomé e Principe e Moçambique. 

“Entendemos que é responsabilidade do Governo procurar o perdão da divida publica externa, que não é pouca. Temos dívidas para com o FMI, Banco Mundial e com outros parceiros, pelo que deveríamos fazer de tudo, em termos de diplomacia, para que o país possa ver a sua divida externa reduzida ao máximo porque os tens que aí vêm são difíceis”, afirmou, lembrando que Cabo Verde vai precisar recorrer a empréstimos para poder manter o país a “flutuar” e, caso não conseguir reduzir a sua dívida externa, será muito complicado conseguir manter-se a tona. 

Posição similar defende o líder do PAICV, Janira Hopffer Almada, para quem cabe a diplomacia trabalhar neste sentido, tendo em conta que o país precisará desse apoio no pós-crise. “Neste momento é papel de quem governa e lidera a política externa apresentar argumentos para fazer ver aos nossos parceiros que é importante podermos contar este apoio para o período que virá.”

Em declarações ontem a Reuters, a diretora do FMI, Kristalina Georgieva, disse que o seu conselho executivo aprovou o primeiro lote de países a receber doações para cobrir as suas obrigações de serviço da dívida por um período inicial de seis meses. Georgieva explicou que esta iniciativa vai ajudar os países mais pobres a “canalizar os seus escassos recursos financeiros para esforços médicos de emergência vitais”.

Segundo Georgieva, o fundo para o alívio de catástrofes tem disponíveis cerca de 500 milhões de dólares, incluindo novas promessas de 185 milhões de dólares da Grã-Bretanha, 100 milhões bolares do Japão e valores não divulgados da China, Holanda e de outros país. O fundo faz pressão para o aumento do montante 1,4 mil milhões de dólares.

Cerca de 215 milhões serão doados aos primeiros 25 países nos próximos seis meses, com prorrogações possíveis por até dois anos. Além dos três lusófonos, o grupo inclui Benin, Burkina Faso, República Centro-Africana, Chade, Comores, República Democrática do Congo, Gâmbia, Guiné, Haiti, Libéria, Madagáscar, Malawi, Mali, Nepal, Níger, Ruanda, Serra Leoa, Togo, Iêmen e Afeganistão.

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