A UCID pediu hoje ao Governo para ouvir a população de São Vicente sob pena de estar a colocar em risco a paz social e a integridade de Cabo Verde. Estas considerações foram feitas por António Monteiro à imprensa, ao reagir a manifestação do dia 05 de Julho que classificou de ordeira, cívica e com exigências claras, mas onde também testemunhou muita indignação e revolta no rosto das pessoas. O líder democrata-cristão afirma que é preciso precaver para que esta indignação e esta revolta não se extrapole e seja o povo a resolver os problemas que o Governo não resolve.
“As pessoas cansam-se quando sentem que os governantes que escolheram não estão a resolver os seus problemas e podem utilizar situações inapropriadas para mostrar o seu descontentamento. É esta a preocupação da UCID, que quer que o país continue tranquilo. Mas, para isso, os governantes têm de precaver e dar respostas às aspirações do povo”, alerta o presidente da UCID, referindo a presença cada vez maior de pessoas nas manifestações, o que indicia, a seu ver, que chegará o dia em que a situação se pode complicar. “O Governo tem de ouvir as pessoas, tem de ir as bases e discutir aquilo que precisa ser discutido. Explicar as razões por as coisas não acontecem e dar uma esperança ás pessoas. O que não pode é fazer tábua rasa, orelhas moucas e fingir que é normal manifestar em democracia. O Governo precisa por os pés no chão e ser humilde.”
Para este dirigente partidário a situação nas ilhas do Norte está em ponto de ruptura porque foram esquecidas pelos sucessivos governos, com consequências sócios-económicas graves e gerando um forte desagrado da população em relação aos seus governantes. Monteiro garante que, no caso da UCID, o partido sempre exigiu do Executivo uma atitude proactiva e simpática para todas as ilhas, particularmente para com São Vicente e suas gentes, até porque, reconhece, a situação que se vive na ilha é crítica.
Fingir que manifestar é normal
“Quanto sentimos que a força política devia ter uma voz forte junto do Governo, mas este faz tábua rasa dela, o povo reage. E foi isso que aconteceu, mais uma vez, no dia 05 de Julho. A UCID interpreta esta vontade do povo de São Vicente como um alerta aos governos Local e Central de que medidas urgentes precisam ser tomadas, no sentido de resolver questões pendentes, no que tange aos transportes aéreos e marítimos, e à própria economia”, sustenta o presidente da UCID, para quem o que não se pode é agir como o Governo está, fingir que as manifestações são normais e deixar passar em branco e não tomar as medidas necessárias para coibir acções futuras.
“São Vicente saiu à rua e exigiu mais atenção para as questões dos transportes, económicas e sociais e para o problema da centralização exacerbada no Palácio da Várzea. Sentimo-nos confortamos porque sentimos que, mais uma vez, as exigências que a UCID tem vindo a fazer no Parlamento, questionando o Governo sobre estas mesmas questões, estão a ter, junto dos cabo-verdianos, a devida atenção e tratamento. Só que não está em sintonia com os desafios e com as exigências do povo de S. Vicente, Santo Antão e São Nicolau é o Governo. E esta falta de sintonia é muito grave, na medida em que cada vez mais pessoas estão a manifestar o seu desagrado contra as atitudes dos políticos e do Governo”, perspectiva.
Por isso, os democratas-cristãos exigem dos governos Central e Local uma tomada de posição consentânea com a exigência das pessoas que querem mais e melhor para as suas vidas e suas localidades. Desafia ainda os poderes a suspenderem os anúncios sem respaldo prático que, diz, já não convencem a população de Cabo Verde e de São Vicente em particular. Instado se o seu partido poderá beneficiar-se politicamente com esta insatisfação, António Monteiro afirma que o seu partido só vai conseguir os seus objectivos do trabalho feito junto da população e no Parlamento. Admite, no entanto, que quando o povo não está satisfeito com os governos, dá à UCID mais margem de manobra para fazer um trabalho político com mais profundidade, que pode ser catapultado a favor do partido.
Já sobre a eventualidade de uma nova candidatura, ainda que defenda que na política nunca se deve fechar uma porta, diz que, em principio, não está inclinado para isso, tendo em conta que já foi candidato cinco vezes.
Constânça de Pina