UCID diz que este ano foi marcado por dificuldades profundas e perspectiva um 2026 sem promessas repetidas ou ilusórias 

A UCID considera que 2025 foi marcado por dificuldades profundas que não podem ser ignoradas, com aumento contínuo do custo de vida e um crescimento económico que não chegou à mesa dos cabo-verdianos e nem aliviou a angústia quotidiana de quem vive do seu trabalho. E perspectiva que 2026 não pode ser apenas mais um ano de promessas repetidas e promessas ilusórias, mas de mudança responsável, de correção de rumos e reforço da coesão.

As informações foram avançadas em conferência de imprensa-balanço esta manhã no Mindelo, segundo o partido democrata-cristão, feita com sentido de verdade, respeito pelo cabo-verdiano e coragem política que caracterizou a ação da UCID ao longo da história democrática do país. “Cabo Verde não precisa de discursos triunfalistas nem de propaganda desligada da realidade. Precisa de lucidez, de compromisso com as pessoas e de políticas com transparência que respondam às suas reais necessidades”, garantiu.  

Para João Santos, 2025 foi marcado por dificuldades profundas que não podem ser ignoradas. Cita, em jeito de exemplo, o aumento contínuo do custo de vida, em particular dos bens essenciais, motivados pelo contexto externo, pela concessão e aplicação de uma política fiscal, inimiga do ambiente de negócios, que exerceu forte pressão sobre o rendimento das famílias. “Para milhares de cabo-verdianos, o crescimento económico anunciado pelo governo, não se traduziu em melhoria concreta das suas condições de vida, não chegou à mesa das famílias, nem aliviou a angústia de quem vive do seu trabalho.” 

Santos disse ainda ter constado muita instrumentalização do Estado, sem se registar medidas de responsabilização que pudesse pôr cobro a estes tipos de atitudes e comportamento por parte dos infratores. Mais: manteve-se uma elevada pressão fiscal, tanto sobre os produtos de importação, como sobre as pequenas e médias empresas e os bens essenciais, representando cerca de 20% do PIB. Esta realidade, defende, constitui um entrave sério à iniciativa privada, à criação de riqueza e à expansão de investimentos, agravada por uma burocracia excessiva, que penaliza de forma desproporcional os pequenos operadores, que são quem mais contribuem para a geração de emprego e a coesão social. 

Dívida pública elevada 

A dívida pública, prossegue, atingiu cerca de 314 mil milhões de escudos, o equivalente ao rácio de 103,4% do PIB, enquanto o serviço da dívida pública, interna e externa, rondou os 31 mil milhões de escudos. “Estes números são preocupantes e levantam interrogações sobre a sustentabilidade das finanças públicas e sobre o espaço disponível para políticas sociais mais robustas e eficazes. Pequenos empresários, agricultores, pescadores, trabalhadores com baixos rendimentos e jovens à procura do primeiro emprego sentiram, de forma direta, os limites de um modelo de desenvolvimento que privilegia indicadores macroeconômicos, mas falha na repartição justa dos seus benefícios”.  

Os fenómenos climáticos extremos registados em São Vicente, Santo Antão, São Nicolau e Santiago voltaram a evidenciar fragilidades sérias na prevenção, no ordenamento do território e na capacidade de resposta, tanto ao nível dos municípios afetados, como do Governo Central, indicou, realçando que, para a UCID, estes acontecimentos não podem continuar a ser encarados como fatalidades, mas como sinais da necessidade de mais planeamento, investimento preventivo e maior responsabilização política. 

Mas as constatações não são apenas críticas. Reconhece, por exemplo, que Cabo Verde manteve a sua estabilidade institucional e democrática e que houve crescimento económico. No entanto, defende que esse crescimento não foi inclusivo, não reduziu desigualdades estruturais e não melhorou de forma significativa a vida de muitos cabo-verdianos, especialmente nas zonas periféricas e no meio rural. “O emprego jovem continua marcado pela precariedade, os serviços públicos apresentam desigualdades significativas no acesso e na qualidade de direitos fundamentais como a habitação condigna, a saúde, a segurança e a educação, continuam sendo desafios reais para milhares de famílias cabo-verdianas.” 

Promessas repetidas e ilusórias

A UCID entende que não pode ser apenas mais um ano de promessas repetidas e nem de promessas ilusórias, mas de mudança responsável, de correção de rumos e de reforço da coesão nacional. Argumenta o partido que Cabo Verde precisa de um crescimento económico que crie emprego digno, de uma economia mais diversificada e resiliente, que transforme esta nação, de políticas sociais que promovam autonomia, inclusão e dignidade, e de um Estado mais próximo das pessoas, das ilhas e das comunidades. 

O nosso país tem potencial, tem recursos humanos de qualidade e uma forte identidade solidária. O que tem faltado é visão estratégica de longo prazo, coragem para fazer escolhas difíceis e uma clara prioridade às pessoas, às famílias e ao bem comum,” frisou, indicando que, face a importância das eleições legislativas, de 2026, deve ser o ano da escolha consciente: continuar numa rota que aprofunda desigualdades ou construir um país mais justo, equilibrado, solidário e com futuro e felicidade para todos.

Espera ainda que, no próximo ano, se célebre a união, a esperança e a força do povo. Que lembre um país que cresce quando há equilíbrio, diálogo e respeito e quando o poder nunca se afasta das pessoas. Questionado se o partido está a pedir uma oportunidade para o seu partido, deixou claro que espera apenas que os cabo-verdianos dêem uma oportunidade ao país de se desenvolver de forma equilibrada e de criar oportunidades que não como está. E isto passa, diz, por um sistema de política equilibrado.

“Nada é impossível. Estamos cientes das dificuldades, mas passa, como eu disse, por um sistema político equilibrado que possa devolver mais oportunidades e mais diálogo à nossa democracia e à nossa economia, sobretudo, porque num Estado onde a economia não está orientada para produção, há um grande risco de continuarmos a basear-nos somente num setor da economia, o terciário (turismo, comércio e serviços). Os dois restantes setores que são fundamentais para a fortificação e a massificação. Portanto, da nossa atitude enquanto país, que pode não depender, se os dois setores forem bem desenvolvidos, podemos libertar um pouco da pressão externa.”

Para a UCID, o país tem estado a crescer à base do consumo, não de investimentos fortes. E, exatamente por isso, não chega de forma igual a todos os cidadãos.

Sair da versão mobile