A UCID – União Cabo-verdiana Independente e Democrática considera que os sucessivos cortes de energia elétrica que afecta gravemente a vida das pessoas, danifica os seus bens, trava a economia local e compromete o normal funcionamento das instituições é reflexo de um modelo de governação falhado. O líder do partido democrata-cristão vai ainda mais longe ao afirmar que esta crise não é fruto do acaso, mas resultado de uma gestão incompetente.
A constatação foi feita por João Santos Luís em conferência de imprensa na Capital, para quem a cidade da Praia tem sido vítima de uma situação inaceitável e insustentável devido aos sucessivos cortes de energia eléctrica. “Esta realidade que hoje se vive na capital do país não é fruto do acaso, nem de uma fatalidade natural. É, sim, o resultado direto de uma gestão incompetente, de um modelo de governação centralizado e esgotado, que falha em transformar os recursos e as oportunidades que Cabo Verde tem ao seu dispor, em soluções concretas e viáveis para a sua população”, assegurou.
Segundo o líder partidário, não se trata de um caso isolado, pois São Vicente e Sal estão na mesma linha, tendo em conta a péssima gestão que se está fazendo da empresa de produção e distribuição de bens de primeira necessidade. “Como é possível que, em pleno século XXI, numa cidade capital, estejamos a lidar com apagões constantes e com insuficiência de água potável, sem que haja uma explicação transparente, nem um plano de resolução credível por parte da empresa estatal responsável, quando a mesma continua sem prestar contas de forma séria aos cabo-verdianos!”, exclamou.
Para Santos Luís, está-se perante um verdadeiro paradoxo nacional e questionam que mensagem se está a passar à juventude e que país se quer construir, no ano em que se comemora 50 anos da Independência Nacional, com festas, viagens e eventos milionários, enquanto a capital do país fica às escuras. “É difícil compreender — ou aceitar — que num arquipélago com 99% de mar, com sol abundante, com ventos constantes, estejamos a falar de uma crise energética tão profunda. Não é falta de recursos. É falta de visão. Não é uma escassez natural. É deficiência de governação”.
Para o presidente da UCID, a recente divisão da empresa estatal de eletricidade, tomada de forma unilateral e centralizada, é um exemplo claro de decisões mal pensadas, sem estudos de impacto, sem auscultação pública e sem retorno positivo para a população. Pelo contrário, a medida resultou em mais burocracia, mais custos para o Estado, e mais problemas para os consumidores. A título de exemplo, diz que um conector nunca saí do armazém sem autorização, o que o leva a perguntar quem está a ser responsabilizado por esta má gestão e onde está a liderança que se exige num momento de crise?
“Cabo Verde tem tido, ao longo dos anos, acesso a importantes recursos económicos, ajuda internacional e financiamento externo. Mas esses recursos não têm sido canalizados para resolver os problemas estruturais do país. Estão a ser desperdiçados em prioridades políticas que servem interesses eleitorais, mas não respondem às necessidades dos cabo-verdianos”, sustenta, indicando que a questão da energia é central para o desenvolvimento porque sem energia não há escolas a funcionar com qualidade, não há saúde eficiente, investimento, empreendedorismo e esperança.
Em suma, pontua, a crise energética que a cidade da Praia enfrenta hoje é o reflexo de um modelo de governação que já não serve o país, um modelo fechado, excessivamente centralizado, que ignora o potencial das ilhas, das comunidades, das regiões, e que concentra tudo em decisões políticas sem visão, nem planeamento. “É tempo de ruptura. É tempo de mudança. A UCID tem defendido e continuará a defender um novo modelo de desenvolvimento para Cabo Verde, assente em descentralização efetiva da governação e da gestão pública; investimento estratégico em energias renováveis (solar, eólica, dessalinização energética eficiente); transparência e responsabilização da gestão pública; participação cidadã nas decisões que afetam o seu dia a dia.”
E sobretudo, prossegue, planeamento a médio e longo prazo, com foco em soluções estruturantes, e não em medidas avulsas e propagandistas. O presidente da UCID lembra que o país está perto das eleições legislativas de 2026, e os cabo-verdianos terão uma oportunidade de escolher um novo rumo.
Foto: Ilustrativo