Está instalada uma concorrência desleal na extração de inertes na cratera do Lazareto, a areia disponibilizada aos camionistas não tem qualidade, além de insuficiente para as exigências do mercado. A denúncia foi feita na manhã de hoje em conferência de imprensa proferida no local pela União Cabo-verdiana Independente e Democrática, no término de mais uma visita de circulo à ilha de S. Vicente. António Monteiro, líder da UCID, imputou as responsabilidades à Câmara de São Vicente e ao Ministério do Ambiente por esta situação que, afirma, penaliza o sector da construção civil em S. Vicente.
A escolha do local foi propositada porque, segundo Monteiro, retrata a imagem que se tem neste momento da ilha, que padece de um quadro social difícil, com as famílias a enfrentarem dificuldades em conseguir emprego e garantir os seus rendimentos. Entretanto, diz, a construção civil tem um papel importante para a criação do emprego e garantia de rendimento. No entanto, diz Monteiro, a forma como a Câmara Municipal de S. Vicente está a extrair inertes na zona não permite que este sector possa ter um desempenho na economia local.
“Nesta zona já tivemos vários problemas e perdas de vida, pelo que Câmara e o Governo decidiram regulamentar a extração de inertes. No entanto, as medidas adoptadas não estão a resultar e as chamadas de atenção da UCID não foram levadas em conta. Por isso estamos aqui para exigir, quer ao Governo quer à CMSV, para que se analise esta situação e se tome as decisões que se impõe para melhorar a extração de inertes nesta zona e, com isso, facilitar o normal funcionamento do sector da construção civil.”
É que, de acordo com o presidente da UCID, este é um sector que deve primar pela qualidade. No entanto, a areia que está a ser disponibilizada aos camionistas, em termos de qualidade e quantidade, não satisfaz nem os compradores e nem o seu partido. “Não podemos, de maneira nenhuma, ter uma areia de péssima qualidade e em quantidade insuficiente para desenvolver a construção civil. Não se entende como é que a CMSV vende apenas uma senha para um camionista. Entendemos que são pessoas responsáveis que estão aqui a trabalhar. Pedimos a Câmara para liberalizar a venda de senhas para minimizar as dificuldades aos camionistas e assim acabar com os expedientes para se conseguir mais senhas”, pontua.
Outra questão que preocupa a UCID é a gestão desta areia. É que, afirma, a pessoa responsável por amontoar este inerte não o faz, ou então quando decide fazer é de forma temporária, o que obriga os camionistas a recolher essa matéria-prima de péssima qualidade. Há casos em que, diz, os clientes acabam por recusar o produto. “Há aqui uma concorrência desleal gritante. A empresa responsável por amontoar a areia disponibiliza um produto de pouca qualidade para os camionistas, enquanto armazena o inerte limpo para consumo próprio e/ou para venda. Chamamos atenção para o facto desta extração ser feita com um equipamento que foi doado pela cooperação japonesa e que deveria estar aqui em permanência para fazer a recolha, conforme um plano de lavra. Não é isso que está acontecer. Pedimos, pois, ao Governo e a CMSV para reanalisarem a situação e para elaborarem um plano de lavra para que haja areia de qualidade e em quantidade.”
Com senha, mas sem areia
Todas estas denúncias feitas pelo presidente da UCID foram confirmadas pelo camionista António Soares, que decidiu aproveitar a presença da imprensa no local para mostrar a sua revolta. “Estou aqui desde as 8 horas e vou para casa sem areia, não obstante ter uma senha, porque não disponibilizaram areia. A situação é complicada. Vendem senhas diariamente na CMSV mas, quando chegamos aqui, não têm areia. E, quando há, é um produto sem qualidade, com muitos caroços e terra. A máquina, quando aparece, disponibiliza uma areia para os camionistas e outra, limpa, para a empresa que presta este serviço às autoridades”, conta.
Por causa disso, prossegue, não raras vezes são obrigados a falhar com os clientes. O mais caricato, afirma, é que quando não conseguem atender a demanda, é a empresa que presta o serviço e que sempre tem areia armazenada nos seus estaleiros que responde. “Para terem uma ideia, na semana passada a máquina fez extração apenas durante dois dias. Depois sumiu. Hoje ela está aqui desde cedo, mas, como podem ver, aqui não há areia. Vou para casa vazio. Antes ainda conseguíamos desenrascar, mas a máquina abriu uma enorme cratera para nos cortar o acesso”, desabafa este camionista, que diz, ter sido informado por um agente da Câmara que esta paga dez contos/hora para a operacionalidade da máquina. Já o Ministério do Ambiente afirma que a máquina é da sua responsabilidade e que a edilidade assume os custos com o combustível, enquanto que a empresa Nildo Construções disponibiliza o manobrador. “Mas são tantas versões que não sabemos qual é a verdadeira”, lamenta.
Nesta conferência de imprensa, a UCID abordou ainda a questão da falta de acessos em São Vicente, que constam do programa do Governo, um tema que não acta e nem desacta. Também voltou a falar da Lixeira Municipal, um assunto que tem sempre em pauta, mas cujos problemas de vedação ao público também se mantêm. “Há na lixeira mais de uma centena de pessoas a viver e, quando temos barcos turistas na ilha, muitas mais acorrem ao local porque não há vedação. Também não há um programa de tratamento do lixo na ilha. A UCID já apresentou por diversas vez o seu programa, mas nem o Governo, nem a Câmara nada fazem nesta matéria.”
Constânça de Pina