A União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID) fez as contas e garante que, em três anos de governação do MpD, o país conseguiu criar apenas 15 postos de trabalho, o que leva o seu presidente a concluir que Cabo Verde está a desperdiçar de forma consciente as suas capacidades produtivas, empobrecendo ainda mais as famílias. António Monteiro, que reagia aos dados divulgados esta semana pelo Instituto Nacional de Estatística sobre a redução do emprego no país, exigiu, por isso, medidas urgentes do Governo para inverter este quadro, com maior enfoque nas zonas rurais, tendo em conta a escassez de chuva registada nos últimos anos.
Para este líder partidário, a situação laboral no país é critica e as medidas de políticas levadas a cabo pelo Palácio da Várzea são ineficientes, o que, por si só, significa uma vida cheia de dificuldades para um número cada vez maior de cabo-verdianos, contrariando assim os compromissos assumidos por Ulisses Correia e Silva por altura da campanha eleitoral. “Analisando os dados no que toca ao rácio de pessoas consideradas inactivas com as activas, chega-se à conclusão que o quociente é extremamente elevado, atingindo quase 80%, o que pode ser considerado de muito grave. O número de cidadãos inactivos aproxima-se perigosamente de o de activos, o que põe em perigo todo o equilíbrio social do país”, constata.
E isto está a acontecer porque, afirma, ao invés de se estar a criar os 18 mil postos de trabalhado prometidos em 2017 e 2018, criou-se, sim, mais 14.725 novos desempregados, o que representa um retorno ao número de empregados existentes em 2015. Mais: se for considerado o número de empregados existentes nesta altura – 194.485 – com os de 2018 (195 mil), salienta Monteiro, chega-se à conclusão que, em três anos de governação, o país só conseguiu criar 515 postos de trabalho. Um resultado manifestamente insuficiente tendo em conta a promessa eleitoral do MpD de gerar 45 mil empregos durante o mandato. Aliás, Monteiro estranha, por outro lado, que o crescimento propalado não tenha reflectivo na criação de empregos de forma objectiva e insta o Governo a inverter este quadro.
“Chegou a hora de, mais do que o crescimento do PIB, começarmos a analisar a nossa economia do ponto de vista da produtividade”, analisa o presidente da UCID, que se mostra igualmente preocupado com a diminuição da taxa de emprego em todas as faixas etárias, género e relativamente às cidades e zonas rurais. Isto sem contar com o aumento nominal da dívida pública em mais de 50 milhões de contos, totalizando 280 milhões de contos, e, mesmo assim, o Governo não tenha tido capacidade para criar empregos nestes três anos.
Desperdiçar capacidades produtivas
Outra preocupação levantada pelo líder democrata-cristão é com o número de quadros com formação superior que estão a engrossar a estatística de inactivos. “Cerca de 8% dos desempregados têm formação superior, totalizando 2.160 quadros. Sabemos que existem sensivelmente cerca de cinco mil quadros superiores fora do mercado de trabalho. É caso para se dizer que Cabo Verde está a desperdiçar de forma consciente as suas capacidades produtivas”, pontua Monteiro, rejeitando liminarmente a justificação do Governo de que os anos consecutivos de seca contribuíram para aumentar o número de desempregados existentes neste momento no país.
Este político lembra, por outro lado, que por diversas vezes a UCID alertou o Executivo para a necessidade de haver condições para que as pessoas que vivem na área rural possam ter emprego e rendimento. E mais, recorda que o Governo recebeu em torno de um milhão e 100 mil contos em 2017 e, mesmo assim, não conseguiu reduzir o desemprego. Em 2018, também por causa da seca, pediu ao Governo para abrir emprego nas zonas rurais, o que não aconteceu. Por isso, conclui que o Executivo não pode agora vir atribuir a responsabilidade pelo aumento do número de desempregados à seca, até porque nas zonas rurais, de acordo com o INE, o desemprego atinge apenas cinco mil indivíduos.
Constânça de Pina