Cerca de uma dezena de sindicatos e organizações da sociedade civil de São Vicente querem resgatar a essência do 1º de Maio com uma manifestação de trabalhadores contra os “aumentos descontrolados e exagerados” do custo de vida, sobretudo dos alimentos e serviços essenciais. O propósito é transformar o Dia Internacional do Trabalhador num dia de reflexão, de luta e de homenagem aos que perderam a vida a lutar por direitos hoje dados por adquiridos.
Ao Mindelinsite, Tomas Aquino explicou o convite foi endereçado a todos os sindicatos para, juntos, fazerem uma reflexão sobre a situação sócio-económica do país. Desta reflexão resultou uma Assembleia Geral realizada ontem, no anfiteatro da Escola Técnica, com participação de dirigentes, delegados e activistas sindicais e da sociedade civil. “Tivemos presente cerca de 90 pessoas e, em conjunto, decidimos realizar uma manifestação no dia 1º de Maio, cujo principal propósito é resgatar a essência e o significado deste dia, que é de luta e de reflexão, mas também de homenagem à aqueles que perderam a sua vida a lutar pelos direitos que hoje damos como adquiridos”, explicou.
Este sindicalista recorda que a história do Dia Internacional dos Trabalhadores começou em Chicago há mais de um século quando um grupo de trabalhadores de uma fábrica fez uma greve para exigir a redução da carga horária diária de 17 para 8 horas. Muitos morreram e outros tantos foram presos. A luta expandiu dos Estados Unidos e alastrou-se por toda a Europa. “As conquistas dos trabalhadores são de sacrifícios. Por isso, entendemos, que os trabalhadores devem continuar a encarar o 1º de Maio como um dia de reflexão e de luta. Infelizmente, foi transformado num dia de passeios e de festa, com a conivência dos trabalhadores e dos sindicatos, e agrado patronato”, constatou o porta-voz da reunião.
Outra motivo para a manifestação é a situação económica e laboral do pais, com aumentos descontrolados e exagerado dos bens da primeira necessidade, sobretudo de alimentos, bebidas não alcoólicas e serviços essenciais. Para agravar ainda mais a situação, o Governo fez uma actualização salarial irrisória, que excluiu um número significativo de pessoas, diz, citando como exemplo, os salários superiores a 69 mil escudos, e os pensionistas e reformados com vencimentos neste nível. Igualmente foram excluídos todos os trabalhadores com planos de cargos, carreira e salários aprovados até 2019.
“O aumento salarial foi uma simulação porque, se formos contabilizar quem beneficiou, o impacto financeiro no Orçamento Geral do Estado foi mínimo. O Estado tentou enganar os cabo-verdianos, dizendo que fez uma actualização do poder de compra das famílias que vem deteriorando desde 2011”, afirma, realçando que, durante este tempo, foram feito alguns reajustes, designadamente do Salário Mínimo, que aumentou para 14 mil escudos. Lembro, no entanto, que no acordo estratégico previa-se que este deveria atingir os 15 mil escudos em 2020, pelo que está muito aquém do acordado.
Outras bandeiras que vão ser levantadas nesta manifestação são os contratos precários, a não inscrição de trabalhadores no Instituto Nacional de Previdência Social, a perda do poder de compra, a inflação, a teimosia do Governo em não repor os 2000 contos retirados do INPS para fazer fase a pandemia da Covid-19. E, mais recentemente, o assédio moral nos locais de trabalho.
A par da União dos Sindicatos de São Vicente, que é constituído pelo Simetec, Sintap e Sics, participaram deste encontro o Stif (Sindicato dos Trabalhadores das Instituições Financeiras), Sindep e Sindprof (Sindicatos dos Professores), o Sinapol (Polícia), o STCV (Transportes e Comunicações ligados a CCSL) o SISTCEPP e organizações da Sociedade civil. Tomás Aquino acredita que, com esta manifestação, vão atirar a atenção e conscientizar a sociedade e dos trabalhadores e, de alguma forma, pressionar o Governo a rever algumas decisões.