Sampaio da Nóvoa exprime admiração e gratidão por ‘uma história que mudou C. Verde e Portugal’ em elogio académico a Pedro Pires 

O professor-doutor António Sampaio da Nóvoa expressou admiração e gratidão comum por uma vida, por uma história que mudou Cabo Verde e Portugal e muito para além dos dois países no seu elogio académico a Pedro Pires na outorga do título honoris causa. O académico, que aproveitou para transmitir felicitações ao laureado que lhe foi incumbido pelo General Ramalho Eanes, escolheu na sua oração laudatória a expressão “sob o olhar da esperança”, referida em entrevista pelo Presidente Pedro Pires para descrever o seu percurso. 

De acordo com Sampaio da Nóvoa, enquanto Reitor da Universidade de Lisboa, participou de várias cerimónias de doutoramento honoris causa, atribuídos a várias personalidades do mundo académico, político e cultural, incluindo dos três primeiros Presidentes da República de Portugal – Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio, gesto que se cumpriu ontem, por ocasião dos 50 anos da independência de Cabo Verde, com a autoria do título a Pedro Pires. 

Lembrou o jovem estudante Pires a estudar na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, cuja esperança rapidamente se transformou em saída para a a Europa e mais tarde para a África, travando um combate duro contra o colonialismo português pela independência e o seu desejo de não falhar. “Estávamos condenados a vencer,” disse, citando o Comandante, em entrevista à RCV, realçando a importância desta vitória também para Portugal. “Uma vitória, quero dizer-vos aqui hoje,que foi decisiva também para nós,portugueses, pois nela está grande parteda origem da Revolução dos Escravos,desse dia maior da nossa liberdade,o 25 de Abril,” sublinhou. 

Indo mais a fundo, este académico socorre-se de uma entrevista de Pedro Pires publicada no Brasil para sustentar a ligação de “vida e de morte” entre. Colonialismo português e o regime fascista ou ditatorial instituído na metrópole. “Foi o fimdo Império Colonial que arrastouo fim do regime político instaladoem Portugal. E o Comandante Pedro Piresé o rosto da luta contra o colonialismo.É a voz da Independência de Cabo Verde”, reforçou, destacando a importância do papel de Pires na libertação de Portugal. 

Mas também ‘sob o olhar da esperança’, evocou o seu papel na construção de um país hoje com futuro, desenvolvido e democrático. Já sobre o momento atual, adianta que se vive tempos duros e que nenhum humanista pode estar despreocupado com as noticias do mundo, da guerra, da fome, dos ódios, dos ataques à ciência, à liberdade e aos direitos humanos. Quanto a política, defende que deve ser vista com bases em resultados que não podem ser medidos de imediato, ou seja, no curto prazo, mas anda na continuidade, no longo prazo. 

“Hoje, 50 anos depois,Cabo Verde é um país de desenvolvimento médio,de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humanodas Nações Unidas, e de rendimento médio-alto,segundo o Banco Mundial.É pouco? Talvez, porque no dia em que estivermos contentescom a nossa condição, perderemos a forçade lutar por uma vida melhor,essa força que o Comandante Pedro Pires nos ensina. (É pouco? Talvez.Mas, ao mesmo tempo, é tanto se considerarmos a história,o ponto de partida e as condiçõesdeste jovem país”, afirmou. 

Para Sampaio, falar de desenvolvimento e de democracia em Cabo Verdeé reconhecer o imenso papel do Comandante Pedro Pires. Mas agora, defende, os combates são outros, à pobreza e ao atraso, e este se faz com uma forte consciência social, mas também com reforço da investigação, do conhecimento e da ciência, que. Considera serem instrumentos fundamentais para colocar os recursos. “Este mar imenso, este sol, esta cultura,este povo, estas pessoas, ao serviçode um desenvolvimento sustentável”, constata, mostrando-se confiante que este século tem de educação e ciência para África.

“África é o continente onde, neste século, se vai decidir o futuro da humanidade. As causas africanas não são apenas dos africanos. São de todos nós. São a nossa humana obrigação. Se não o compreendermos, não compreenderemos nada do que se passa  no mundo hoje.” E, neste contexto, apresentou Pires como um institucionalista, um homem de Estado que lutou e luta pela paz, dentro e fora de Cabo Verde e que, aos 92 anos, diz ter mais dúvidas do que certezas.

Terminou agradecendo o convite do Reitor da Uni-Mindelo para fazer o elogio académico e deixou no ar algumas interrogações sobre as razões porque Pedro Pires ainda continua a ser reconhecido como Comandante, mesmo depois de ter sido Primeiro-ministro e Presidente da República de Cabo Verde. Para responder logo de seguida que isto se deve porque tanto comandante como mestre são palavras que são atribuídas pelos outros e nunca pelos próprios. 

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