Analista Rosário Luz: “Serei uma bala perdida implacável nas eleições autárquicas”

Cancelado o projecto de candidatura à Câmara de S. Vicente, Rosário Luz promete ser uma “bala perdida implacável” na análise das eleições autárquicas. Para o efeito vai lançar um canal audiovisual em Setembro para publicar os seus comentários, doa a quem doer. Luz já está também a preparar uma aliança entre as forças independentes tendo em vista as eleições Legislativas.

A analista política Rosário Luz promete ser uma “bala perdida” nas eleições autárquicas, agora que deixou definitivamente de lado o projecto de candidatura à Câmara de S. Vicente numa equipa independente. Em entrevista ao Mindelinsite, Luz enfatiza que vai acompanhar à lupa a campanha das diversas candidaturas nalguns círculos eleitorais do país e publicar os seus comentários num canal audiovisual que estará online a partir de Setembro. “Serei implacável com todos os projectos políticos que não ofereçam confiança e não correspondam às expectativas dos munícipes cabo-verdianos”, vai dizendo Rosário Luz. 

Esta activista resolveu optar por esta via depois de cancelar definitivamente o seu projecto de conquista da Câmara de S. Vicente nestas eleições. Como explica, a iniciativa foi afectada pela pandemia da Covid-19, que a impediu de montar a máquina de campanha. Segundo Luz, todo o seu plano ficou suspenso por dois meses e isso baralhou tudo. “Ao contrário das outras candidaturas, que usam as estruturas de campanha das respectivas forças políticas, nós tínhamos que fazer tudo do zero. Mas não deu tempo”, frisa.Mesmo assim, Rosário Luz tentou uma espécie de aliança com a UCID, o único partido de “matriz regional” em S. Vicente, mas não foi possível efectivar o “casamento”. A intenção de Rosário Luz era manter uma candidatura cívica à Assembleia Municipal na lista dos democratas cristãos, com bandeira de independente.

Questionada se isso não iria confundir tanto os apoiantes do partido de António Monteiro como o resto do eleitorado, Rosário Luz diz com toda a confiança que seria capaz de separar as águas em “dois minutos” no contacto com as pessoas. Esta faz questão de lembrar que as candidaturas comportam a disputa para a Câmara e outra para a Assembleia. Nesse caso, Monteiro iria encabeçar a lista para o poder executivo, enquanto Luz iria competir para o órgão fiscalizador. No entanto, a ideia era que a Assembleia Geral fosse um órgão independente, capaz de fiscalizar os próprios actos da Câmara da UCID, em caso de eleição.

Rosário Luz reconhece que essa experiência é ousada, mas acredita que seria bem aceite pelo eleitorado de S. Vicente. “Esta ilha é aberta a aceitar inovações e a votar em terceiras forças. Os mindelenses seriam capazes de aceitar um modelo fora das normas, o que seria mais difícil nos outros concelhos”, salienta a analista.

Este projecto foi também cancelado por falta de entendimento entre as partes. É que, como revela a nossa entrevistada, o problema é que a UCID estava aberta a essa parceria desde que Rosário Luz filiasse no partido, exigência que ela recusou. A seu ver, os democratas-cristãos perderam a oportunidade de fazer história e mostrar aos eleitores que tinham tanta confiança na seriedade do seu programa de gestão que estavam dispostos a apoiar uma lista independente para a própria Assembleia Municipal.

Caso esse casamento fosse concretizado, Rosário Luz corria o risco de ser também atacada pelo PAICV e o MpD que tentariam aproveitar para a colar numa força política. Confrontada com essa possibilidade, a analista relembra que sempre foi alvo das farpas dessas duas forças do arco do poder. Mas diz que se mantém de pé porque as pessoas sabem que continua a correr nas suas veias sangue de activista independente.

Rosário Luz deixa claro que uma aliança com o MpD e o PAICV está fora de questão. Questionada se estaria disposta a assumir esse compromisso com a candidatura de Nelson Lopes, diz que nunca essa hipótese lhe passou pela cabeça. Esta realça que tem poucas ou nenhumas informações sobre o empresário e, além disso, a forma como este tem feito contacto com o eleitorado é de um “populismo terrível”, por usar a batucada para chamar pessoas e promover aglomerações. “Uma intervenção vergonhosa associando a sua candidatura aos Mandingas.Ora, isto é um sinal de desrespeito para com a cultura”, acrescenta Luz, para quem Lopes ainda não lhe deu uma única razão para acreditar na sua campanha. Enfatiza que ainda esse “candidato” não especificou as suas propostas para criar mais emprego e dar autonomia à ilha de S. Vicente.

Aliança independente para as Legislativas

Uma vez fora da corrida às autárquicas, Rosário Luz já começou a planear a sua intervenção nas eleições legislativas. Ela própria admite que está a esboçar um projecto alternativo com o objectivo de quebrar a hegemonia do PAICV e do MpD, dois partidos habituados a governar com maiorias absolutas. E, para ela, o grande mal da política nacional é esse poder desmedido colocado nas mãos dessas duas forças políticas. 

Deste modo, o que falta em Cabo Verde, diz, é um equilíbrio no Parlamento que obrigue o poder a negociar com a oposição. “O objectivo é conseguir uma aliança das iniciativas políticas independentes nas diversas ilhas e que já se perfilam para as disputas autárquicas. Estas iriam juntar-se numa única força e competir nas Legislativas”, avança Rosário Luz, que já iniciou contactos nesse sentido e que, diz, estão a ir no “bom caminho”. Para ela tudo pode ser possível, principalmente se for estabelecida uma interface comunicativa entre essas diferentes vozes e que todas assumissem a ética como a bandeira principal.

Segundo Rosário Luz, esse projecto sempre existiu, seria a segunda etapa das eleições autárquicas. “Imagina que não havia Covid e que ganhássemos as eleições municipais, neste caso seríamos mais conhecidos no país, teríamos estabelecido uma rede de contactos que nos seria útil nas Legislativas”, diz Rosário Luz, para quem o sistema político nacional só irá entrar para os eixos quando o PAICV e o MpD sentirem que podem perder terreno para iniciativas independentes. Para ela, é evidente que essas forças têm como principal objectivo explorar os recursos do país para benefício próprio e o dos seus militantes, pelo que essa tendência precisa ser travada por outros meios. “Não será um surto de ética que vai mudar o comportamento desses partidos.”

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