Dois meses depois de sofrer uma avaria, o ferry boat Kriola ainda não tem previsão para deixar os estaleiros da Cabnave. A demora na reparação deste navio, diz Paulo Lopes, administrador-delegado da ETC – empresa que congrega a Cabo Verde Interilhas, Navex e Transinsular – deve-se à necessidade de mandar confeccionar no exterior peças de raiz, que ainda sequer chegaram ao país.
“A demora na reparação no navio foi devido à necessidade de mandarmos fazer peças fora do país, de entre os quais a hélice, que se perdeu. Estes têm o seu custo. Foi uma avaria, mas complicou a situação da empresa, tendo em conta que coincidiu com o mesmo período em que o Praia d’ Aguada estava na Cabnave e com a avaria do Liberdadi”, explica Pedro Lopes.
Este responsável lembra que, na altura, a CV Interilhas ficou com apenas dois navios, o Sotavento, na região Sul, e o Interilhas, no Norte. “O Sotavento é uma embarcação ro-pax, o que faz com que demore mais tempo nos portos em operações. Já o Interilhas opera na linha São Vicente-Santo Antão e, de 15 em 15 dias, desloca-se para São Nicolau para levar carga”, indica o administrador, realçando que a situação conheceu grande melhoria, com a chegada do San Gwann e com a reparação do Liberdadi.
“Antes da vinda do San Gwann e da reparação do Liberdadi, tivemos de priorizar o transporte de passageiros, em detrimento de carga, para garantir a mobilidade das pessoas. Mas tivemos queixas devido a ruptura de bens essenciais. Então, voltamos a investir no transporte de carga, com implicações no de passageiros. O resultado foram muitas reclamações. Foi então que surgiu a ideia de alugarmos o San Gwann.”
Por ser uma situação de emergência, a escolha do navio não foi precedida de nenhum estudo para se ver se adaptava às condições e realidade de Cabo Verde, como reconhece o administrador Paulo Lopes. Este garante, no entanto, que parte dos constrangimentos foram ultrapassados com a colocação de uma rampa provisória adaptada para permitir ao navio transportar cargas e viaturas ligeiras, ainda que com limitações.
Refira-se que o San Gwann deverá permanecer em Cabo Verde até a reparação do Kriola, o que significa que o período de aluguer terá de ser alargado por forma a garantir a normalidade das operações da CVI, empresa que emprega actualmente 120 trabalhadores, na sua grande maioria cabo-verdianos. Já o Praia d’ Aguada, a reparação está concluída, estando a embarcação em fase de testes. O navio, de acordo com informações fornecidas pela assessoria de imprensa da CVI, já foi inspeccionado pelo Instituto Marítimo e Portuário (IMP), pelo que a empresa está apenas a aguardar os resultados para iniciar as operações.
Lopes garante que estão a fazer tudo para resolver os problemas, mas o facto de serem vista por muitos como “estrangeiros” que vieram para “roubar” o espaço dos armadores nacionais os desanima. Pedro Lopes deixa claro que a única razão que norteou a criação da empresa foi trazer know-how e organizar o sector dos transportes marítimos nacional. “O grupo o ETE tem mais de 80 anos de experiência no sector marítimo e estamos há 30 anos em Cabo Verde. Cobre todos os segmentos do shipping. Temos todos as condições de passar o nosso conhecimento para os cabo-verdianos. Esta é, no fundo, a base do nosso projecto. É importante que os cabo-verdianos percebam isso. A beleza deste projecto é que os grandes armadores nacionais são accionistas da CVI.”
Constânça de Pina