O recém-empossado presidente do conselho de administração da Escola do Mar alertou esta tarde para a necessidade de haver uma reconversão de mergulhadores e pescadores em guias de turismo subaquático, sob pena de continuarem a pressionar os recursos marinhos e colocar certas espécies em risco de extinção. Segundo José Cabral, o Projecto de Iniciativa de Pesca Costeira revela que há neste momento um número excessivo de embarcações de pesca artesanal, de pescadores e mergulhadores que coloca em causa o estoque existente.
“Há pescadores e embarcações de pesca tradicionais a mais para o estoque que dispomos, pelo que temos de tirar os pescadores e mergulhadores do mar. Só que não podemos fazer isso sem identificarmos uma alternativa viável”, referiu Cabral em declarações à imprensa apos a tomada de posse dos três elementos que agora compõem o Conselho de Administracao da Escola do Mar, equipa integrada ainda por Liliane Pimenta e Ivan Bettencourt.
Uma das saídas para o problema, adianta Cabral, é formar esses profissionais do mar para passarem a ser ecoturistas, mostrar o fundo marinho das áreas costeiras a turistas, tal como já está a acontecer noutros países desta região africana. Por esta via, prossegue, será possível garantir o sustento aos mergulhadores e pescadores e suavizar a pressão sobre os recursos marinhos.
“Já estamos a trabalhar com um jovem da Salamansa, que tem um projecto submetido à Pro-Empresa e que dispõe já de dez mergulhadores prontos a trabalhar com ele nessa área”, exemplifica José Cabral, lembrando que os mergulhadores enfrentam problemas de segurança e muitos já sofreram danos físicos, pelo que essa solução traz benefícios a vários níveis.
No entanto, a Escola do Mar tem outros desafios urgentes pela frente. O principal deles é conseguir recursos para o seu orçamento no domínio da formação profissional. Como refere José Cabral, o Estado tem um orçamento para formação e neste momento a escola está a tentar entrar nesse pacote. Mesmo conseguindo isso, a administração terá que procurar outros meios, nomeadamente com a cooperação internacional.
Outro potencial desafio para a Escola do Mar é formar profissionais para as diversas áreas da actividade marítima, como mestres, maquinistas, cozinheiros, etc. José Cabral afirma que há um défice substancial de profissionais qualificados, significando isto que há oferta de emprego para quem se formar no domínio marítimo. Esta fonte adianta que os Paises Baixos (Holanda) e Açores têm manifestado interesse em contratar cabo-verdianos para o sector marítimo. Inclusive, adianta, houve uma agência que estava disponível em contratar 20 profissionais de uma assentada para irem trabalhar nos Países Baixos.
José Cabral relembra ainda que o mercado tem de estar preparado para lidar com o aumento de turistas na cidade do Mindelo quando o Terminal de Cruzeiros estiver pronto. Os barcos, diz, podem “despejar” 4 mil passageiros em terra, pelo que será preciso saber trabalhar com esses clientes.
José Cabral, refira-se, tomou posse hoje como novo presidente do CA da Escola do Mar, órgão integrado ainda por Liliane Pimenta e Ivan Bettencourt. Durante a cerimónia, que decorreu no Ministério do Mar, o ministro Paulo Veiga salientou que desde a legislatura anterior que o Governo definiu o sector marítimo como um dos pilares fundamentais para Cabo Verde atingir os objectivos do desenvolvimento sustentavel no horizonte 2030. É nesta lógica, disse, que o Executivo acreditou e implementou o Campus do Mar, uma plataforma avançada de resposta às necessidades formativas específicas em áreas economicamente estratégicas, por forma a aproveitar as potencialidades da economia marítima, tecnologias de informática e telecomunicações, da electronica e da mecânica.
“Com vista à capacitação dos recursos humanos, a criação do Campus do Mar, nas suas três vertentes, vai propiciar oportunidades aos jovens cabo-verdianos de ambos os géneros de abracarem carreiras marítimas e marinhas, com grande potencial de empregabilidade nos contextos nacional e internacional”, salientou Veiga. O governante realçou ainda que a Escola do Mar, como parte integrante do Campus do Mar, está vocacionada para o ensino técnico-profissional, com o intuito de formar técnicos nos domínios do mar, desde as pescas, transportes marítimos, gestão portuária, construção e reparação naval…
Para o ministro, compete ao novo conselho de administração, em coordenação com outras entidades, a criação de “todas as condições” para dotar os sectores dos transportes marítimos e actividades portuárias, das pescas e aquicultura, construção naval, etc., de recursos humanos capacitados e competitivos a nível internacional.
O novo conselho de administração tem um mandato de 3 anos e substitui a equipa antes composta por Antonio Fernandes, Lidia Lima e o Cte Manuel Vicente.