Os candeeiros de iluminação pública retirados da cidade da Praia, onde foram substituídos por lâmpadas LED, chegaram esta terça-feira ao Porto Grande do Mindelo, supostamente para serem distribuídos para as ilhas do Norte: Santo Antão, São Vicente e São Nicolau. O desembarque desses candeeiros foi acompanhado com descrença e descontentamento por algumas testemunhas e pessoas que entretanto ficaram a par do assunto. Ao Mindelinsite, estas deixaram claro que, se as lâmpadas a vapor, mercúrio e sódio já não servem à Capital do país, por causa do elevado nível de consumo energético, também não servem nas restantes ilhas.
Ao todo foram duas paletes de candeeiros desembarcadas pelo navio Praia d´Aguada em São Vicente, vindas da ilha de Santiago. As paletes vieram envolvidas em sacos de plástico pretos mas, mesmo assim, algumas pessoas que estavam presentes no Porto Grande na hora da descarga conseguiram fotografar os candeeiros, que estão com uma cor amarelada, provocada supostamente pelo desgaste do tempo e por exposição ao sol e ao vento, e ainda estão sujas (ver foto).
Para um mindelense que preferiu não se identificar, é ultrajante que se tire aquilo que já não serve a uma ilha e levar para outra. “Será que somos a lixeira de Santiago? É um desrespeito aquilo que o Governo está a fazer. Pagamos os mesmos impostos e a mesma conta de electricidade. Então porque decidem retirar candeeiros que já não servem por causa do alto consumo para trazer para São Vicente? Se há um projecto para substituir os candeeiros antigos por lâmpadas de baixo consumo, este deve contemplar todas as ilhas”, questiona esta nossa fonte. Esta entende ainda que, se há um projecto de introdução de lâmpadas LED estas devem começar pelas zonas que vão ser agora iluminadas e não tirando esses objectos das grandes cidades e despejar em locais menos privilegiados.
Tentamos ouvir a versão da Electra sobre esta matéria através da sua direcção de marketing, mas esta não confirma se estas lâmpadas são as descartadas da cidade da Praia e se vão ser colocadas em São Vicente. Esse departamento limitou-se a informar que, “dentro da agenda normal da Direcção de Distribuição Norte, está em curso o processo corrente de manutenção/reposição de candeeiros de iluminação pública, pelo que não há qualquer dado novo/relevante a considerar”.
Recorde-se que a cidade da Praia substituiu as lâmpadas de iluminação pública por candeeiros de baixo consumo, no quadro de um projecto de melhoria da eficiência, reforço e extensão da iluminação pública. Projecto que também abarca a cidade de Santa Maria, no Sal. Nesta primeira fase, estava prevista a colocação de 10 mil lâmpadas LEDs nas duas urbes.
Na altura, o presidente do Conselho de Administração da Electra garantiu que seriam trocadas cerca de 8 mil lâmpadas e cem luminárias por lâmpadas LED. Seriam ainda adicionadas mais de 1200 lâmpadas para reforçar a iluminação pública. Alcindo Mota explicou ainda que a contribuição dos utentes cobre apenas cerca de 60% do consumo efectivo, que este projecto é de âmbito nacional e que deverá chegar aos restantes municípios no próximo ano.
Já o ministro da Energia, Alexandre Monteiro, na abertura da conferência Internacional sobre energias renováveis, promovida pelo Governo em 2018 no âmbito do Programa de Apoio ao Sector de Energias Renováveis financiado pela Cooperação Luxemburguesa, explicou que a implementação das lâmpadas LED reduzirá o consumo em 55 por cento. Segundo o governante, Cabo Verde está a fazer uma “aposta clara” nas energias renováveis. O propósito, disse Alexandre Monteiro, é dotar o país de “mais energia renovável e com menos custos”, com a finalidade de atingir o máximo de penetração possível das renováveis, no horizonte 2030.
Constânça de Pina