O anfiteatro do Hospital Baptista de Sousa foi palco hoje de um workshop sobre evacuações aéreas de doentes e reuniu vários profissionais de saúde. O evento tem por objetivo a troca de experiências entre as organizações e os profissionais, bem como a avaliação dos recursos adequados e disponíveis para transportar determinados pacientes.
O diretor do departamento de medicina aeronáutica, Henrique Vera Cruz, considera que a maioria das situações não são consideradas pela aeronáutica evacuações médicas. São tidas como transporte de doentes através de aviões comerciais. “A evacuação médica pressupõe que as condições apresentadas ao paciente a bordo da aeronave sejam no mínimo iguais àquelas que tinha no hospital, isto é, sem descontinuidade da assistência médica. Que seja ainda garantida a assistência por uma equipa tão qualificada como a que seguia o paciente na unidade em que estava” explica. Este considera que, nessa base, não há evacuações aeromédicas sem uma equipa médica preparada para este efeito, de acordo com a complexidade do caso, para perceber como lidar com as situações a bordo de uma aeronave.
Esse workshop serve para alertar para os aspetos destas evacuações aéreas e dar a conhecer aos profissionais da saúde a fisiologia de um voo, isto é, o que se passa no organismo de cada pessoa, no seu transporte numa aeronave. “O nosso organismo está preparado a viver em terra e não em grandes altitudes. Em qualquer aeronave, as condições de oxigénio e humidade não são as mesmas que em terra” diz Vera Cruz. De acordo com este especialista, o organismo se adapta durante um voo e, no caso de um doente, que já usa os seus recursos para se adaptar à sua condição de saúde, as suas necessidades de adaptação são maiores quando submetido a um voo. Por isso considera que é preciso conhecer para cada patologia quais as adaptações necessárias para saber providenciar melhores meios humanos e de transporte.
Evidencia que a primeira questão consiste em saber que aeronave ou que meio de transporte usar, adequado à situação clínica do paciente. Ao mesmo tempo adverte que nem sempre terá que ser aéreo. “Muitas vezes é preferível que o transporte não seja tão rápido, mas sim que se evite que o paciente chegue ao local de tratamento com o agravamento da sua patologia, devido a um meio de transporte inadequado.”
Em termos aéreos, este considera que se deve levar em conta quando é que se pode recorrer a um voo comercial comum ou a um charter e igualmente levar em conta se se aconselha levar uma equipa médica preparada. Outro ponto que assegura ser importante consiste na realização de um estudo para perceber as condições do país para ter um serviço de evacuação médica.
Abordando a situação nacional, Henrique Vera Cruz expõe que a questão ultrapassa as condições aéreas de transporte de doente, ja que em terra, em certos casos, há recursos limitados, por exemplo, nas ambulâncias. “Se formos ver bem, mesmo quando se faz um transporte dentro de Santo Antão ou em Santiago para um hospital local, a pessoa não vem num transporte adequado. As ambulâncias não estão preparadas para um serviço de evacuação de doentes, por não oferecem a garantia da continuidade do tratamento adequado do doente para a unidade dirigida”, lamenta. Este assegura ainda que o Governo tem consciência disso e que trouxe ao país especialistas para analisarem a situação pre-hospitalar em Cabo Verde e fazer um plano.
Autorizações especiais para evacuações aéreas
O diretor do departamento de medicina aeronáutica explica que muitas vezes é preciso a autorização da AAC para se realizar determinado voo em circunstâncias que nem sempre a legislação permite e que por isso exigem autorizações especiais. “Nessas alturas é preciso analizar as situações e ver se é possível dar as autorizações, no entanto esta é considerada a parte técnica. Da parte médica, há um núcleo que analisa e acompanha os casos clínicos que irá fazer parte de um grupo técnico que deverá pronunciar-se sobre cada evacuação a ser feita, da preparação do caso, antes da evacuação”, frisa.
Este tema é considerado pela diretora do HBS atual e pertinente. De acordo com Ana Brito, as dúvidas surgem todos os dias acerca das normas científicas para melhorar o transporte dos doentes.
Este encontro reuniu o Ministério da Saúde, a agência da Aviação Civil, Aeroportos e Segurança Aérea e a Força Aérea Portuguesa.
Sidneia Newton (Estagiária)