Os 99 anos da primeira travessia aérea do Atlântico Sul foram evocados hoje em São Vicente com a deposição de um ramo de flores no local onde o hidroavião pilotado por Gago Coutinho e Sacadura Cabral fez a amaragem. A cerimónia, que marca o início das comemorações do centenário desta importante efeméride, foi testemunhada por representantes de diversas instituições sediadas no Mindelo, nomeadamente o Ministério da Economia Marítima, a Universidade Técnica do Atlântico, Centro Cultural do Mindelo, Comando da 1ª Região Militar, de entre outros. No próximo dia 17, este acto será repetido na cidade da Praia para assinalar a passagem do hidroavião por Santiago.
Carlos Monteiro, ponto focal da organização das comemorações, agradeceu os presentes e fez um breve historial desta turbulenta e ousada travessia, que começou em Lisboa no dia 30 de março, passou por Las Palmas, Gando, S. Vicente e Santiago (Cabo Verde), Penedos, Fernando de Noronha, Recife, Salvador da Bahia, Porto Seguro, Vitória e Rio de Janeiro (Brasil). “Fizeram esta travessia em um hidroavião com o cockpit aberto. Fizeram os cálculos dos ventos, já antevendo as adversidades enormes. Percorreram uma distância de 8.346 quilómetros, dos quais 3.487 só no Brasil, a uma velocidade média de 134 quilómetros por hora”, detalhou.
O feito destes dois “monstros” foi saudado não só pelo Governo português, mas também pela congénere da França, reinos de Espanha, Roménia, Inglaterra, de entre outros.
“A deposição deste ramo de flores marca o arranque das comemorações do centenário desta travessia aérea, começando agora e aqui em S. Vicente, no dia em que completa 99 anos da passagem por esta ilha, e projetando-o até o próximo ano”, afirmou Carlos Monteiro, realçando ainda o facto da travessia aérea do Atlântico ter sido feita na altura para celebrar o centenário da independência do Brasil. “Na altura, foi feito o decreto 3.500, publicado no Diário da República, que atribuía um prémio de 20 mil escudos – era muito dinheiro em 1922 – a um português ou brasileiro que fizesse esta travessia. O Ministério da Marinha garantia ainda algum apoio até no máximo de 200 contos para ajudar a equipa.”
Entusiasmados, afirma, Gago Coutinho e Sacadura Cabral abraçaram este projecto, que foi um sucesso. Infelizmente, dois anos depois Sacadura veio a falecer precocemente, aos 42 anos, por ironia do destino num avião que fazia a rota Holanda-Portugal. “O corpo de Sacadura e de um mecânico que o acompanhava desapareceram no mar e nunca foram encontrados”, acrescentou. Já Gago Coutinho morreu em 1959, no ano em que completou 90 anos.
As comemorações do centenário da travessia do Atlântico Sul estão a cargo da Associação Lusitânia 100, presidida pelo engenheiro eletrotécnico João Moura. Trata-se de uma entidade sem fins lucrativos, criada para compilar e divulgar os dados técnicos, históricos e científicos desta efeméride.
Há ainda uma equipa constituída pelo sociólogo e jornalista Ildo Rocha em Portugal, Carlos Monteiro em S. Vicente, a jornalista e escritora Iara Santos na ilha de Santiago, a advogada Dirce Évora (Canárias-Espanha) e a antropóloga Gláucia Nogueira (Brasil). “Temos um plano que prevê uma série de actividades que vão ser feitas ao longo deste ano, sendo esta a primeira aqui em S. Vicente, como já foi feita em Portugal, na réplica do hidroavião em Torre de Belém, e vai ser feita no dia 17 na Praia”, concluiu Monteiro.