Seis dias depois de anunciar a sua candidatura à Presidência da República de Cabo Verde, José Maria Neves fez uma publicação no seu Facebook a criticar a forma como estão a decorrer campanhas eleitorais no país em tempos de pandemia da Covid-19. JMN cita ainda um estudo publicado pela revista científica The Lancet que revela que Cabo Verde teve uma taxa mais elevada de incidência de casos por 100 mil habitantes em toda a África.
Diz José Maria Neves que a situação está a agravar-se nas principais ilhas do arquipélago, o que indicia que Cabo Verde possa estar a entrar em uma nova vaga mais grave porque mais mortífera, caso medidas restritivas urgentes não forem tomadas. Apesar disso, as campanhas eleitorais decorrem como se o país não estivesse em plena pandemia, com grandes aglomerações e desfiles pelas principais artérias das cidades.
“Quantos vírus não estão a ser transportados alegremente de um lado para o outro? Quantas pessoas não estão a ser contaminadas em cada arruada ou ajuntamento? Quantos ainda morrerão por descuido nosso?”, interroga o ex-PM, para quem é preciso dar mais poderes às autoridades sanitárias para imporem restrições de cumprimento obrigatório a todos. “É que podemos ganhar as eleições e perder o país!”, adverte.
A preocupação de JMN já tinha sido explicita por altura da apresentação pública da sua candidatura, na passada sexta-feira. Para além das medidas sanitárias – poucas pessoas para se garantir o distanciamento, máscaras, álcool gel e transmissão online, no seu discurso o candidato afirmou que se está a viver tempos difíceis e exigentes que exigem cuidados especiais.
“Esta pandemia que ainda nos atormenta, e não sabemos quando termina, tem-nos mostrado quão vulneráveis somos. É enorme o seu impacto nas nossas vidas”, lembrou o antigo PM, para quem “a perda de empregos, a destruição de empresas, o aumento da pobreza e das desigualdades são fenómenos que provocam devastação social, económica e sanitária”.
Sobre a sua candidatura, explicou que foi precedida de “uma enorme reflexão e partilha entre o candidato, ou pré-candidato, e personalidades da sociedade civil, partidos políticos, sindicatos e diferentes organizações da sociedade civil“. Quanto ao possível apoio do PAICV, frisou que “as candidaturas presidenciais são todas elas candidaturas cidadãs, da sociedade civil. Nos termos da Constituição, são supra-partidárias protagonizadas por grupos de cidadãos e o Presidente da República deve colocar-se acima dos partidos para poder ser árbitro e moderador do sistema político”.
No discurso, Neves revelou ainda a pretensão de despartidarizar o espaço público, uma ideia que defendeu enquanto PM e que pretende recuperar. Sobre este particular, recordou que em 2015 foi aprovada uma legislação para despartidarizar a administração pública. “Criámos uma agência independente para a promoção de concursos e avaliação dos funcionários públicos. A lei foi discutida no último trimestre de 2015, foi aprovada e publicada após promulgação pelo Presidente da República em Março de 2016. Infelizmente, a nova maioria logo que assumiu revogou esta lei”, rematou.