O Presidente da República considerou hoje numa comunicação ao país que o espectro político nacional tem sido caracterizado pela crispação e o desprezo pela cooperação institucional, o diálogo e a conciliação. Segundo José Maria Neves, reina um clima preocupante e persistente de excessiva partidarização do espaço público e assiste-se a uma disputa política permanente que sufoca a sociedade.
“Este ambiente, diz o Chefe de Estado, é permeável ao clientelismo e ao medo, com as pessoas a serem escolhidas para cargos públicos e promovidas menos pelo mérito e mais pelas suas relações de amizade ou sua lealdade a partidos.” Neves é contundente e revela que alguns serviços contratualizados têm tido uma qualidade decepcionante, com reclamações generalizadas pela aparente falta de competência na garantia dos mesmos. Situação que, diz, tem originado reações e alertas da sociedade às mais altas autoridades política e religiosas.
Segundo José M. Neves, ele próprio e outros cidadãos já experimentaram esses constrangimentos. Aliás, diz o PR, não é por acaso que Cabo Verde vem perdendo competitividade em vários sectores “precisamente porque as decisões são tomadas de forma enviesada e descurando contributos não negligenciáveis de outras sensibilidades políticas e sociais”.
Segundo Neves, a verdade tem sido asfixiada no país em nome de uma “verdade oficial” e de um “pensamento único”. O PR lembra que nunca é excessivo sublinhar que a ninguém é reservada a exclusividade da verdade. “Pelo contrário, e sobretudo nestes tempos de comunicação escorregadia e verdades alternativas, urge que os poderes públicos deem permanentes provas de serenidade e firme defesa das regras e valores da sociedade democrática, desde logo os atinentes à livre expressão do pensamento”, exprime.
Na sua perspectiva, regista-se um ambiente de campanha permanente, o que é “extremamente corrosiso para o interesse nacional”. Segundo Neves, em período de campanha essa tensão é tolerada, mas, lembra, não é o caso. Logo, afirma, o eleitoralismo e o “curto-prazismo” têm de ser rejeitados.
Neves enfatiza ainda que tem verificado a tomada de decisões cujo propósito e lógica não se entende, principalmente quando tudo levava a crer que medidas anunciadas seriam aplicadas. “…, mas eis que as instituições pu]úblicas recuam e se apequenam. Essas mesmas decisões, que são tomadas num dia para se recuar no dia seguinte, sinalizam que as mesmas não foram suficientemente amadurecidas”, considera Neves, para quem não se pode assistir a discursos contraditórios e descoordenações a nível da formulação de políticas, deixando claro que Cabo Verde não pode dar-se ao luxo do experimentar como método de gestão pública.
Preocupado com o cenário descrito, o PR pede uma “profunda análise” para se arrepiar caminho e encetar “mudanças radicais” e um trabalho com mais sentido de Estado. Afirma que, como PR, é seu dever indeclinável apelar ao consenso e sublinhou que a crispação política é um vírus que leva à polarização, populismo, extremismo e à intolerância.