Polícia Marítima suspende trabalhos de limpeza do “tanquinho de Matiota”: Populares indignados

A Polícia Marítima acaba de ordenar a suspensão dos trabalhos de recuperação do “tanquinho da Matiota”, em curso há duas semanas, por iniciativa de António Pedro Silva, antigo presidente da Associação para Defesa dos Consumidores. O argumento apresentado, de acordo com este entrevistado Mindelinsite, é ausência de uma autorização do Instituto Marítimo e Portuário (IMP), mas alguns populares afirmam que a PM terá agido por pressão do presidente da Câmara de São Vicente, Augusto Neves. 

“A PM chegou aqui ordenou a suspensão dos trabalhos. Pedimos então meia hora para desmobilizar e retirar as máquinas. Exigiram uma autorização do IMP para realizar esta limpeza, o que é incompreensível tendo em conta que se trata de uma iniciativa popular cujo propósito é devolver o tanquinho à população desta ilha”, desabafou Silva, que prometeu diligenciar esta autorização o mais rápido possível.

“Se for possível, vamos solicitar esta autorização ainda hoje ou o mais tardar na segunda-feira. O curioso é que várias pessoas que aqui estão aqui garantem que o próprio presidente da CMSV estava por detrás da PM, possivelmente, se sentiu incomodado com este trabalho e pressionou as autoridades para interver”, pontua.

António Pedro Silva diz compreender esta atitude do presidente, caso se confirmar, tendo em conta que, diz, este tipo de acção popular pode colocar em causa outros interesses, inclusive porque, pelas informações que circulam, a zona encontra-se completamente loteada para ser vendida, não obstante ser um espaço público. “Vamos suspender os trabalhos agora, logo hoje que recebemos apoio de máquinas de um empresário da ilha e vamos apresentar um pedido formal junto das autoridades.”

Indignação 

Mas esta decisão da PM indignou sobretudo alguns populares que se encontravam no local para dar a sua contribuição. É o caso de Hércules Loyola, que respondeu ao apelo lançado por António Pedro Silva para ajudar a recuperar o tanquinho, que considera um espaço com muita história em S. Vicente. “Estamos a falar de um espaço que é benéfico para a ilha porque possibilita às pessoas mais velhas e também às crianças tomarem o seu banho em segurança. Estamos aqui em uma iniciativa popular mas, ao que parece, há interesses políticos por detrás disso.”

Para Loyola, esta actuação da PM foi claramente manipulada por outros interesses, mas este promete resistir porquanto, afirma, trata-se de um espaço publico. “Se eu quiser continuar a tirar pedra a pedra, ninguém poderá me impedir. Estou aqui em beneficio do povo de São Vicente e não de uns poucos privilegiados”, assegura este cidadão, que se mostra por isso indignado, até porque, diz, as próprias autoridades deveriam estar envolvidas, com recursos financeiros e humanos. 

Ao contrário, optaram por agir como se estivessem perante criminosos que estão a fazer uma acção cívica.  “É como se tivéssemos encontrado um lugar sujo em que a CMSV é responsável pela limpeza e tomássemos a iniciativa de limpar. Estamos aqui, com os nossos recursos a limpar para devolver o tanquinho de Matiota a esta ilha”, desabafa Loyala, que diz esperar que a população se indigne com esta actuação da PM e decida, por livre iniciativa, deslocar-se ao local para ajudar na retirada das pedras. 

Matiota com o “tanquim” e o trampolim ao fundo

Igual entendimento tem o ex-emigrante nos EUA, Rui Almada, que em 2018 integrou um grupo de cidadãos que tiveram a iniciativa de tentar recuperar este importante espaço. Na altura, diz, apresentaram um projecto na CMSV, mas foram travados. “O projecto foi retido na Câmara, mas o presidente aproveitou durante a campanha eleitoral e colocou uma tábua aqui para enganar o povo. Ele afirmou ainda que tem projectos para a zona da Matiota, mas não há nada de concreto. Era apenas para ganhar votos.”

Duas semanas após o inicio dos trabalhos, refere, foram hoje surpreendidos pela Polícia Marítima, que chegou ao local acompanhado do presidente Augusto Neves. “O edil chegou aqui junto com a polícia, mas sequer permaneceu no local. Mas deram a ordem de suspensão dos trabalhos, ele partiu. Gust devida dar a cara e falar alguma coisa para os presentes sobre os projectos para o local”, ironiza este ex-emigrante, que ficou indignado sobretudo com a alegada atitude do presidente.

Os próximos passos, segundo este cidadão, é divulgar esta decisão nas redes sociais e tentar mobilizar a população, sobretudo para exigir que a CMSV divulgue os projectos existentes para a antiga piscina da praia da Matiota. 

De referir que, só na semana passada, foi retirada do local cerca de seis toneladas de areia, com apoio da população. Hoje as expectativas eram maiores, tendo em conta o apoio pela primeira vez de uma máquina para ajudar a avançar a limpeza mais rapidamente. 

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