Estão a aumentar as vozes nas redes sociais que exigem ao Governo para declarar o deputado português André Ventura “persona non grata” em C. Verde. O motivo prende-se com o posicionamento público do presidente do partido da extrema-direita Chega, que pediu louvores ao agente que assassinou o cabo-verdiano Odair Moniz na segunda-feira com dois disparos e, pelos vistos, sem motivo plausível. Declaração esta que foi depois reforçada por Pedro Pinto, líder parlamentar do Chega, que afirmou na quarta-feira num debate parlamentar que, se as forças de segurança “disparassem mais a matar, o país (Portugal) estava mais na ordem”.
As palavras de Pedro Pinto refletem as declarações proferidas anteriormente por Ricardo Lopes Reis, dirigente da Juventude do Chega, para quem a morte de Odair Moniz representa apenas “Menos um criminoso… Menos um eleitor do Bloco”. Estas revelações demonstram que a cupula do Chega está alinhada nos seus pronunciamentos.
A intervenção de Pedro Pinto despoletou críticas de grupos cívicos, que já anunciaram a intenção de avançar com um processo-crime, que tem ainda como alvo o próprio André Ventura. Por outro lado, os restantes partidos portugueses condenaram as palavras de Pedro Pinto, que foram consideradas pelo vice-presidente da bancada do PS “gravemente atentatórias ao Estado de direito e dos direitos fundamentais dos cidadãos”. Este enfatizou, ainda, que foram proferidas num momento de grande tensão social em Portugal, com sucessivos actos de revolta nas ruas movidos pela comunidade cabo-verdiana devido a morte de Odair Moniz.
Está, aliás, marcada para amanhã, sábado, uma manifestação convocada pelo movimento Vida Justa para reclamar justiça pelo assassinato de Odair Moniz, que começa no Marquês de Pombal e segue para a Assembleia da República, em Lisboa. “Sem Justiça não há paz” é o lema do protesto, que serve para trazer à baila outros casos similares cometidos pela PSP contra os emigrantes. Por isso, os manifestantes pretendem exigir um basta à violência e à impunidade policial nos bairros.
Em resposta a esta mobilização, o Chega convocou uma manifestação “em defesa da Polícia” para o mesmo dia, à mesma hora, a partir da Praça do Município e com destino também à Assembleia da República. O presidente do partido, André Ventura, nega que seja uma contramanifestação, mas disse à imprensa que quem condena a atuação policial não pode ser o único a fazer valer a sua posição. A grande questão é o que pode acontecer se os dois movimentos antagónicos se encontrarem durante as respectivas manifestações.
Ulisses C. Silva condena “discursos incendiários”
Ontem, quinta-feira, o Primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva assumiu posição sobre o caso Odair Moniz e repudiou “veementemente” os “discursos incendiários” proferidos por certos actores políticos, em particular o do deputado André Ventura. “Sem generalizar para toda a política portuguesa, destaco em particular as declarações do presidente do Chega, que foram absolutamente irresponsáveis. Num momento tão delicado e ainda em fase de investigação, não se pode atirar culpas especialmente contra comunidades, imigrantes ou a imigração cabo-verdiana”, disse Ulisses Correia e Silva, para quem é essencial aguardar pelo apuramento completo dos factos e confiar na investigação criminal, que, diz, será a responsável por trazer a verdade à tona.
O “premier” cabo-verdiano diz estar a acompanhar de perto os recentes acontecimentos em Portugal, numa referência ao caso Odair Moniz. Segundo Ulisses Correia e Silva, Cabo Verde se posicionou de imediato através da Embaixada em Portugal, numa intervenção “clara e firme”. O Chefe do Governo diz confiar na Justiça portuguesa e nas suas instituições e que espera a necessária celeridade no apuramento dos factos. Correia e Silva admite que este é um momento que afeta tanto Cabo Verde como as comunidades na diáspora, visto que a vítima tinha nacionalidade cabo-verdiana e portuguesa.
No comunicado, o chefe do Executivo informa que enviou uma carta de condolências à família de Odair Moniz. Ao mesmo tempo faz um apelo à tranquilidade e que os tumultos não venham a agravar ainda mais a situação e criar um ambiente explosivo, que possa fugir ao controlo.
Várias pessoas têm usado as redes sociais, em particular o Facebook, para exigir ao Governo que declare André Ventura “persona non grata” em C. Verde.