Os pilotos que trabalham com a companhia BestFly Cabo Verde by TICV estão sem motivação e descontentes com os sucessivos incumprimentos por parte da empresa, denuncia o secretário permanente do Sindicato de Transportes, Telecomunicações, Hotelaria e Turismo (Sitthur). Amílcar Neves diz, por isso, entender as recentes notícias sobre a fuga de pilotos para o estrangeiro.
De acordo com este dirigente sindical, após a decisão de suspender a greve em outubro do ano passado, os pilotos esperavam que fossem cumpridos os pontos acordados, designadamente, o pagamento das horas extras relativos ao ano de 2022 e dos dias feriados, com retroativos até inicio de 2023 e ainda que as ajudas de custos sejam pagos em tempo útil. “Os pilotos não tiveram aumentos salariais, que ficou acertado a sua entrada em vigor a partir de janeiro, mas até agora nada. Esperam igualmente beneficiar de facilidades de transportes, subsídios de alimentação e de combustíveis. Enfim, os pilotos que trabalham com a BesttFly já tiveram e continuam a ter muitas perdas”, assevera.
São estas situações que, afirma Neves, contribuem para que não haja uma enorme desmotivação entre os pilotos. “Não lhes é proporcionado as condições mínimas para que queiram continuar a trabalhar para a companhia. E não há sinal de que a BestFly de que pretende cumprir pelo menos o que foi acordado no último encontro em sede da Direção Geral do trabalho”, sublinha o secretário permanente do Sitthur, que admite estar preocupado com o arrastar das discussões, sem resultados concretos.
É que, argumenta este sindicalista, neste momento a empresa tem um único aparelho a operar e, dos 15 pilotos inicialmente contratados, muitos já desligaram da BestFly. “Neste momento, não sei precisar quantos pilotos continuam a trabalhar para a companhia. É lógico que, com o surgimento de melhores oportunidades, optam por sair. E, se a situação se mantiver, acredito que em breve não teremos pilotos nacionais a trabalhar no país, ou melhor, na BestFly. Há muita instabilidade”, lamenta.
Em termos concretos, Amílcar Neves diz desconhecer qual é a real situação da empresa, ou seja, se vai sair ou continuar a operar no mercado doméstico nacional. “O que posso dizer é que, em principio, a Bestfly Cabo Verde by TICV está a operar. Tem os documentos em dia, designadamente as licenças. Mas, com apenas um avião, podem acontecer avarias. Aliás, nos últimos dias, em menos de uma semana, o aparelho ficou em terra duas vezes, obrigando ao cancelamento de vários voos. Há também a questão da entrada dos TACV no mercado dos voos domésticos. Acredito que as duas companhias vão operar numa lógica de complementaridade e nunca de exclusão. É o expectável.”
Este dirigente sindical garante que, pelo menos até agora, o Sitthur não recebeu nenhuma informação formal de que a BestFly Cabo Verde vai retirar-se do mercado. Entretanto, por via das dúvidas, o sindicato já solicitou um encontro urgente com a direcção da companhia para clarificar a situação.
De recordar que a Bestfly iniciou a actividade em Cabo Verde, nos voos domésticos, a 17 de maio de 2021, com uma concessão emergencial de seis meses, após a saída da espanhola Binter. Em Julho do mesmo ano comprou a TICV – Transportes Interilhas de Cabo Verde, sendo que o Estado detém 30% das acções da empresa, estando os restantes 70% nas mãos da BestFly. A companhia tem realizado operações aéreas com um único aparelho, o que tem criado constrangimentos nas ligações internas.