O líder regional do PAICV expressou esta manhã a desilusão do partido pela forma como o Governo tem tratado a crise política instalada na CMSV e que, nas suas palavras, tem tendência de agravamento. Segundo Adilson Jesus, não obstante todo o imbróglio, o poder central, que tem a tutela da legalidade sobre as autarquias locais, parece não estar preocupado com o impasse por que passa o município de São Vicente e tem agido com descaso perante o assunto. É que, diz, o Executivo decidiu enviar dois técnicos para a CMSV, mas apenas para auscultar os actores políticos, sem que essa missão tenha consequências administrativas, jurídicas e políticas.
“Perante uma situação muito grave e que poderá em última instância levar à realização de eleições antecipadas no município de S. Vicente, situação que ninguém deseja, o Governo simplesmente finge agir, enviando dois técnicos da administração central, sendo um do ministério das Finanças e outro do ministério da Coesão Territorial para ‘auscultar’ os eleitos municipais e estruturas da autarquia, sem um mandato de inspeção oficial”, critica o presidente da comissão política do PAICV na cidade do Mindelo.
O mandato dos dois técnicos, conforme a citada fonte, era apenas para ouvir os actores políticos e ainda “realizar uma ação de averiguação sobre a sessão do dia 2 de janeiro”, um dos principais pontos da discórdia entre os vereadores da UCID e do PAICV e edil Augusto Neves e que veio agudizar o confronto político entre as partes.
Todos, diz Adilson Jesus, estavam à espera que fossem enviados inspetores para realizarem uma auditoria oficial, como está a acontecer na Câmara da Praia e, que estes pudessem produzir um relatório oficial que ajudasse a tutela a intervir com maior propriedade. Tal como feita a missão técnica enviada à CMSV, que, segundo Jesus, veio apenas averiguar e auscultar, não haverá nenhuma consequência jurídica, administrativa ou política.
“Aliás, somos de opinião que a primeira ação do Governo da República deveria ser política”, pontua Adilson Jesus em conferência de imprensa, para quem o próprio Ulisses Correia e Silva e a ministra da Coesão Territorial deveriam deslocar-se a São Vicente e sentarem-se à mesa com o Presidente da CMSV e todos os vereadores para resolverem a referida situação.
Segundo Adilson Jesus, o PAICV não entende a incoerência do Governo, que, tendo já declarado a situação de emergência social e económica em Cabo Verde, permite que a crise na CMSV piore e possa chegar ao ponto de eleições antecipadas. A acontecer, este escrutínio, lembra, irá sorver recursos dos contribuintes que poderiam ser utilizados para acudir as famílias mais carenciadas.
“Como é possível que o Governo se sinta num total a vontade para ir pedir aos parceiros internacionais que concedam a Cabo Verde recursos dos seus contribuintes para fazer face aos problemas do país e este não tenha em atenção a situação de São Vicente, evitando assim que se vá gastar mais recursos em eleições que podem ainda ser evitadas”, desabafa Adilson Jesus.
O PAICV, acrescenta esse porta-voz, estranha também a postura do MpD, tanto em S. Vicente como a nível nacional, partido que, diz, continua surdo e mudo perante o impasse que se está a passar na CMSV. “Nem sempre o silêncio é de ouro”, salienta o político, que apelou para que os problemas pessoais, ideológicas e partidárias sejam colocados de lado para o bem da ilha de S. Vicente. É que, lembra, o município está em situação de ingovernabilidade e, a seu ver, a maior responsabilidade pela crise é de Augusto Neves, enquanto presidente da CMSV.