PAICV denuncia “exclusão” dos protagonistas da luta de libertação e critica escolha do “25 de Abril” para arranque das festividades da Independência

O PAICV considerou “desconfortável” a escolha propositada do dia 25 de Abril, data ligada fundamentalmente a Portugal – o país colonizador – para o início oficial das festividades alusivas aos 50 anos da Independência de Cabo Verde e acusou a comissão organizadora de tentar reescrever a história ao expurgar da efeméride os protagonistas da luta de libertação nacional. Adilson Graça, presidente da Comissão Política do referido partido em S. Vicente, revelou que nenhuma das figuras ligadas a esse marco indelével da história do arquipélago – como o Comandante Pedro Pires, Olívio Pires, Silvino da Luz, Luís Fonseca e outras – foi convidada para o evento, apesar de estarem vivos e alguns deles residirem em S. Vicente, o que, nas suas palavras, constitui uma afronta e uma vergonha nacional.

Além disso, fez notar que sequer o nome de Amílcar Cabral, o obreiro da libertação da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, foi mencionado tanto pelo Primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva como por Augusto Neves, edil da Câmara de S. Vicente, nos seus discursos. “Em toda a parte do mundo se celebra Cabral e nós, por cá, insistimos em querer mata-lo todas as vezes que, por imposição, força e grandeza dos seus feitos devêssemos celebrar e ovacionar esta figura central da história cabo-verdiana”, frisou o político.

Perante tais factos, disse hoje na cidade do Mindelo, o PAICV não pode ficar calado e fingir que nada de anormal se passou, que foram apenas “gafes políticos” dos líderes do Governo central e do poder local mindelense. Na sua análise, todos esses actos foram deliberados e conscientes, numa “vã tentativa de se reescrever a história e levar ao esquecimento dos protagonistas cabo-verdianos ligados à Independência”.

Questionado se, na sua leitura, houve uma partidarização da efeméride, pelo facto de essas figuras estarem ligadas ao PAICV, Graça responde positivamente. “Estamos perante uma partidarização, mas, o pior, é sentirmos que se quer mudar a história, pois não é normal que num evento sobre a Independência não sejam convidadas as pessoas ligadas à mesma e que não seja sequer feita menção à luta armada de libertação.”

Adilson Graça fez questão de clarificar que o PAICV nada tem contra o 25 de Abril e Portugal, por se tratar de uma data também importante para o processo de independência de Cabo Verde e dado ao nível das relações diplomáticas entretanto estabelecidas entre Praia e Lisboa. Aliás, realçou o discurso do Embaixador de Portugal, que, diz, foi o único a enaltecer a figura de Amílcar Cabral no acto oficial de abertura das comemorações, realizado no pátio do CNAD, em S. Vicente. “Não fosse o Embaixador de Portugal a salvar o dia, este acto serviria apenas para celebrar o 25 de Abril.”

Adilson Graça lembrou que o 25 de Abril está associado ao antigo país colonizador e, no seu entendimento, a escolha desta data parece evidenciar uma tentativa de se abafar o 5 de Julho. O político relembrou que há um leque variado de marcos nacionais que poderiam ser escolhidos para o arranque oficial das festividades, como o 13 de Janeiro, 20 de Janeiro e até locais como o 22 de Janeiro ou 14 de Abril… Para Adilson Graça, se a postura da comissão organizadora não for denunciada, a estratégia de “limpeza da história” vai continuar a galgar terreno.

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