A Comissão Política Regional do PAICV em São Vicente considera que a situação que os Bombeiros Municipais vivem nesta ilha é degradante e não dignifica nem a corporação e nem o município. Esta informação foi avançada na manhã de hoje à imprensa pelo presidente deste órgão local do maior partido de oposição, Alcides Graça, na sequência de uma visita efectuada ontem a esta corporação dos bombeiros em São Vicente.
“Temos um quadro crítico em que há uma grande insuficiência de efectiva, falta equipamentos e os que existem estão obsoletos, e o combustível é racionalizado. É caso para dizer que, nestas condições e por mais que queira fazer, a corporação não consegue responder as necessidades da ilha”, diz Graça, para quem não foi com surpresa que se verificou, mais uma vez, que a corporação não conseguiu responder a um pedido de ajuda de um munícipe para combater um incêndio de pequena dimensão em uma casa, localizada a 200 metros do quartel. “Desta vez, não foi por falta de combustível, mas sim por falta de pessoal”, pontua.
Para este dirigente partidário local, não se pode naturalizar esta aberração, pelo que aproveita para questionar se o incêndio em causa fosse de média ou grande proporções como seria, para responder que São Vicente está completamente desprotegido. “Uma ilha com mais de 80 mil pessoas não pode ter uma corporação com onze bombeiros profissionais, um profissional para mais sete mil habitantes”, refere, lembrando que os bombeiros trabalham por turnos e que a cooperação faz quatro, sendo três de três efectivos e um de dois. Com isso, se houver duas solicitações em simultâneo, uma ficará sem assistência por falta de pessoal, perspectiva.
E esta situação, a ser ver, não é por falta de recursos, tendo em conta que a Câmara conseguiu guardar 200 mil contos para executar obras eleitoralistas em 2020. “Uma Câmara que paga salários a centenas de trabalhadores que fazem absolutamente nada não tem falta de dinheiro; uma CM que desperdiça muitos recursos em coisas importantes, mas que, do meu ponto de vista, não são prioritários é porque não tem falta de dinheiro. Governar é saber definir prioridades porque, certamente, não haverá recurso para tudo. Acho que a segurança de uma ilha, a assistência eficaz e eficiente a todos que dela necessita deve ocupar o topo da hierarquia das prioridades”, constata Graça.
Diante da situação, o PAICV exige como prioridade a aquisição de uma motosserra e uma motobomba, um autotanque de combate a incêndio porque, de acordo com o presidente do CPR, aquele que existe é velho e obsoleto e não oferece garantia pois tem mais de 30 anos. Exige ainda a aquisição de uma ambulância nova e equipada para prestar os primeiros socorros, a contratação faseada de mais 13 bombeiros profissionais para permitir quatro turnos de seis efectivos, de 8 horas cada. Do Governo, pede que que coloque no topo das prioridades para a próxima sessão legislativa o Estatuto dos Bombeiros. Lembra que o Ministro de Administração Interna havia prometido o Estatuto para Junho de 2017, isto é há mais de dois anos.
Instado a explicar os tais 200 mil contos que alega estarem “guardados” para obras eleitoralistas, Graça refere que estes provêm de um empréstimo inscrito no orçamento municipal para 2019 e que ainda não utilizou. Este dinheiro, recorda-se, tinha como destino a asfaltagem do troço de estrada cidade/Ribeirinha e das interligações das zonas que ainda não têm todo o perímetro asfaltado. Deixa claro que concorda com a obra, só estranha o facto de ainda não se ter utilizado a verba. “Esta verba já deveria estar desbloqueada a a ser utilizada para o destino que foi dado no orçamento.”
Já quando confrontado com a promessa de reforço de efectivos feita ontem pelo vereador que responde pela Protecção Civil, com o resgate de cinco efectivos que estavam cedidos à ASA – Aeroportos e Segurança Aérea, Graça diz que ainda são insuficientes. Cita, a titulo de exemplo, a década de 1997/8 havia em São Vicente 23 efectivos para uma população inferior. A agravar a situação, refere, pelo menos cinco dos 11 bombeiros profissionais estão na fase de aposentação, pelo que já não fazem serviço de turno.
Constânça de Pina