O deputado João do Carmo afirmou hoje que o ministro Abraão Vicente não pode afirmar que o Governo vai chumbar as contas da Cabo Verde Interilhas pelo simples facto de essa atribuição ser da competência da Assembleia Geral da transportadora marítima. O parlamentar eleito pelo PAICV, que falava em nome da Comissão Política Nacional, lembra que o Excutivo não pertence a esse órgão por não ser acionista da CVI.
“Ou o governante não sabe o que diz, e isso é muito grave, ou sabe e faz isso de propósito para alimentar o mal-estar e enganar as pessoas, o que é também grave”, realçou o deputado em conferência de imprensa realizada esta manhã na cidade do Mindelo.
Confrontado pelos jornalistas se aquilo que o ministro do Mar quis dizer é que as contas da CVI são diferentes de as feitas pelo Governo, por isso não serão aceites, João do Carmo deixou claro que cabe ao governante dar esse esclarecimento. “Independente da suposição das declarações claras do ministro, entendemos que o Estado deve ser pessoa de bem e que não deve escolher a rua e a comunicação social para tratar um assunto do género com uma empresa que detém monopólio dos transportes marítimos. Deve usar a classe e a diplomacia já que o Governo disse várias vezes que a relação com a empesa é de excelência.”
O certo, volta a insistir o deputado, é que o ministro Abraão Vicente assegurou que o Palácio da Várzea não irá aprovar as contas da CVI, quando o Governo não tem essa competência. Logo, para ele, trata-se de um erro grave.
Na perspectiva desse porta-voz da Comissão Política Nacional do PAICV, há uma clara dissonância entre as declarações do ministro das Finanças e o do Mar. Segundo João do Carmo, enquanto Olavo Correia diz que o Governo vai honrar os compromissos para com os parceiros, Abraão Vicente, por seu lado, não reconhece a existência de nenhuma dívida do Estado para com a CVI. Isto quando, lembre-se, o grupo ETE chegou a afirmar num comunicado remetido à imprensa que o Estado tinha uma dívida de 9,5 milhões de euros para com a CVI.
Isto deixa entender, segundo a citada fonte, que há um desnorte do Executivo no sector dos transportes marítimos. João do Carmos afirma que paira no ar mais uma contenda neste domínio evidenciada pela “guerra campal” declarada pelo ministro do Mar, “que fala grosso e promete pôr os parceiros na concessão no seu devido lugar”. “Pelo tom do ministro as coisas não vão claramente bem e fica anunciado mais uma privatização falhada e mais um verdadeiro fiasco”, frisa João do Carmo, enfatizando que essa situação ocorreu também na área dos transportes aéreos.
Para João do Carmo, o Governo decidiu aplicar ao sector dos transportes a receita genérica para os males que, diligentemente, traz sempre na pasta, seja qual for o diagnóstico: privatizar como dogma. Foi assim com a TACV que, segundo ele, deixa para trás um pesado lastro de prejuízos e ainda não encontrou o rumo certo, e também com as viagens marítimas. E, na sua perspectiva, os cabo-verdianos é que vão continuar a pagar as contas do imbróglio entre a CVI e o Governo.
Em declaração aos jornais, Abraao Vicente enfatizou que a equipa do Ministerio do Mar tem estado a fazer um esforço de cooperação, “porque não é so pagar as indemnizações, mas também fazer a competente validação”. O governante, conforme a Inforpress, adiantou que a comissão de acompanhamento da concessão está a fazer as avaliações e recomenda a não aprovação das contas de 2021, por enquanto. Por outras palavras, o não pagamento do valor reivindicado pela CVI.