O jovem Odair Lopes agendou para esta sexta-feira às 11 horas uma manifestação que visa levantar a voz contra o “tratamento” dispensado aos emigrantes pelos serviços públicos em S. Vicente e ainda demonstrar a sua revolta sobre a prática continuada de centralização de poderes na cidade da Praia. Para este jovem, S. Vicente continua a ser uma ilha prejudicada pelo centralismo, que, diz, já provocou a transferência da sede de empresas para a Capital e de quadros competentes nas mais diversas áreas. “Acima de tudo, o poder central tem esvaziado S. Vicente da sua riqueza intelectual, com vários quadros ‘forçados’ a ir trabalhar na cidade da Praia, caso queiram fazer uma carreira profissional”, enfatiza esse emigrante residente em Luxemburgo, para quem essa política não é boa para Cabo Verde, muito em particular para S. Vicente, sua ilha natal.
Apesar de viver em Luxemburgo, Odair Lopes é um cidadão atento à realidade cabo-verdiana, o que lhe permite ter uma opinião fundamentada. Porém, a sua indignação aumentou este ano devido aos problemas enfrentados para receber as cargas que enviou para a cidade do Mindelo, onde está a gozar férias. Essa situação levou-o inclusivamente a escrever uma carta aberta ao presidente da Câmara de S. Vicente e ao ministro das Comunidades. A missiva foi ainda enviada para os emails do edil Augusto Neves e do ministro Jorge Santos, mas, segundo o autor, sequer mereceu uma resposta. “Sinceramente não estava à espera disso. O surpreendente seria se reagissem”, comenta.
A ideia inicial de Odair Lopes era canalizar a manifestação contra os serviços públicos – como Enapor, Alfândega e agências – que, na sua opinião, têm estado a prestar atendimentos danosos aos emigrantes. Entretanto, passou a conversar com os amigos residentes e chegou à conclusão que a situação afecta ainda mais quem vive na ilha de S. Vicente. “Constatei que S. Vicente está a enfrentar problemas estruturais e abrangentes. Por exemplo, como é possível os mindelenses pagarem o dobro do preço de uma passagem aérea internacional em relação a quem vive na cidade da Praia para o mesmo destino?”, ilustra. Para este filho de S. Vicente, vir para a ilha de férias tornou-se um luxo devido a uma política de preços praticado por uma companhia estrangeira.
Dai, como é conhecido, pretendia fazer a concentração em frente a autarquia de S. Vicente, mas foi informado que a lei impede a realização de protestos a menos de cem metros da CMSV. Deste modo decidiu ficar na praça Dom Luiz, para ele um lugar ideal. O jovem vai munir-se de cartazes e está disposto a manifestar a sua indignação mesmo sozinho. Mas sente que outras pessoas vão se juntar a essa iniciativa por concordarem com o seu ponto de vista.