As críticas de José Maria Neves sobre o espectro sóciopolitico vivido em Cabo Verde – marcado, segundo o PR, pela crispação política, desprezo pela cooperação institucional e campanha permanente – provocou a reação imediata do MpD. Luís Carlos Silva, secretário-geral do partido do governo, trouxe à baila os 15 anos do partido único – “que impôs um pensamento único estatizado” – e afirmou que o posicionamento de José Maria Neves foi influenciado pela ideologia política do ex-líder do PAICV.
O secretário-geral do MpD afirmou ontem, em resposta à comunicação feita pelo Presidente da República, que a excessiva partidarização do espaço público é um problema antigo em Cabo Verde e resulta, em grande medida, do percurso histórico-político e dos governos implementados particularmente pelo PAICV, força política que foi liderada por José Maria Neves: o Partido-Estado, no pós-independência e depois, já em democracia, um modelo baseado num grande centralismo político, económico e social no país.
“Em ambos os casos, o resultado foi a perpectuaçao de uma excessiva partidarização do espaço público”, salientou Luís Carlos Silva. Segundo este porta-voz, o Movimento para a Democracia, ao contrário daquilo que deixa perceber o posicionamento do PR, tem feito um “forte trabalho” para libertar a sociedade cabo-verdiana dessa partidarização da coisa pública. Foi com este objectivo que, diz, o MpD apresentou a iniciativa legislativa para impor uma série de incompatibilidades entre os cargos executivos nos partidos e no governo. “Infelizmente, na altura, o PAICV não entendeu o alcance e a importância da iniciativa e acabou por chumbá-la”, constacta.
O PR, prosseguiu Luís Carlos Silva na conferência de imprensa, chegou a criticar algumas opções de políticas do governo, mas que, na sua lógica, se assenta na visão ideológica de José Maria Neves. E enfatizou com frontalidade: “o governo tem de governar com base no seu programa sufragado pelo povo”.
Um programa que, segundo a citada fonte, está estrutura numa visão alternativa de políticas fundamentadas na liberdade económica, economia de mercado e onde o sector privado assume quota-parte do processo de desenvolvimento. Isto, acrescenta, sem nunca descurar a política social e o necessário serviço público para mitigar os problemas estruturais de Cabo Verde, como a insularidade e o facto de ser um país arquipélago.
Sobre a suspensão temporária da nova tarifa do transporte de carga, Luís Carlos Silva diz entender que é importante garantir a sustentabilidade do sector, mas também garantir que os preços aplicados sejam justos e acessíveis para todos. Deste modo, assume que a suspensão da tarifa é uma “medida prudente”, que permite uma reavaliação do impacto do aumento dos preços na economia e vida das pessoas. “Estamos confiantes de que, em diálogo com todas as partes interessadas, será possível chegar a um acordo que permita o transporte de carga justo e acessível para todos os cabo-verdianos”, afirmou.
O dirigente do MpD estranhou que José Maria Neves tenha lançado críticas sobre o espectro sociopolítico em Cabo Verde sem nunca ter falado dos tempos difíceis e complexos que o país enfrenta. Na sua perspectiva é “claro e cristalino” que o acréscimo de dificuldades e de complexidade que Cabo Verde enfrenta é o “novo normal” resultado das crises enfrentadas e que, diz, são as maiores de todos os tempos. Para concluir, reafirmou que Cabo Verde tem sido resiliente e feito um bom combate às adversidades.
Uma prova disso, segundo o secretário do MpD, são os dados da execução financeira de 2022 e que estão a ser corroborados com a execução de janeiro, que conseguiu um facto histórico: pela primeira vez houve um saldo positivo nas contas públicas, apesar do aumento das despesas, com um saldo positivo de 159 mil contos.