As frases no piso asfaltado e muros laterais da estrada cidade-Baía das Gatas, que rapidamente foram atribuídas aos Sokols 2017 por militantes e dirigentes locais e nacionais do MpD, afinal podem ter sido escritas por moradores do Lameirão, um dos bairros cortados por esta via, para pedir mais segurança para as suas crianças. Empunhando cartazes com os mesmos dizeres, um grupo de crianças e jovens desta localidade interceptou na tarde de ontem a carreata liderada pelo Primeiro-ministro e comitiva que saiu do Mindelo em direcção a essa estância balnear para descerrar a placa que assinala o início dos trabalhos de requalificação.
“Vítimas somos nós”, “Segurança”, “Queremos uma estrada adequada” e “Queremos lombas” foram algumas das frases exibidas nos cartazes empunhados pelos moradores do Lameirão para que os membros do Governo, o presidente da Câmara Municipal de São Vicente e os militantes do MpD pudessem ver e tirar todas as suas dúvidas. O líder do Sokols, Salvador Mascarenhas, admite que este movimento cívico foi também surpreendido por esta iniciativa popular, o que mostra que as pessoas estão conscientes e dispostas a reivindicar os seus direitos.
“Somos um movimento sério e responsável, ao contrário daquilo que querem fazer crer. Defendo São Vicente e vou defender sempre. Quando o Governo ou a Câmara fizerem uma coisa boa para a minha ilha, serei o primeiro a aplaudir. Mas, se prejudicarem São Vicente, como está a acontecer, vou reagir e reivindicar. Mas estou solidário com os moradores do Lameirão. Ao construírem esta estrada, deveriam ter garantido a sua segurança”, diz Mascarenhas, que se mostra, no entanto, satisfeito por ver que a população já despertou para a cidadania activa de forma independente e autónoma. “Quem achar que uma população que faz uns rabiscos facilmente apagados em defesa da vida das suas crianças é vandalismo, eu serei o primeiro vândalo do planeta”, acrescenta Salvador Mascarenhas.
Para Salvador Mascarenhas, os moradores apenas estão preocupados com a velocidade dos carros à porta das suas casas e decidiram mostrar o seu descontentamento, possivelmente através de frases escritas no asfalto e nos cartazes. “Os moradores estão a pedir passadeiras e lombas. Dizem que as pessoas, crianças e animais estão em perigo. Estavam a espera do Primeiro-ministro com cartazes com os mesmos dizeres pintados no chão. E estes foram rapidamente apagados pelos Bombeiros Municipais. Espero que as autoridades sejam humildes e tenham ouvido a população.”
Faltou público
Salvador Mascarenhas aproveitou para responder ao ministro da Cultura, que, através de uma publicação na sua página no facebook, criticou a ausência dos Sokols da conferência “Desenvolvimento local e regional”. De acordo com o ministro, a expectativa era de um grande debate com a sociedade civil a confrontar o Governo. “Estiveram presentes no palco para responder a todas as questões o PM, sete ministros e dois secretários de Estado. Esteve também presente o presidente da CMSV disponível para o debate. As portas estavam abertas à participação de todos, sem restrições. Era um momento de debate olhos nos olhos para apresentação de propostas para um olhar critico sobre a ilha e para o confronto de propostas, ideias e projectos”, escreve, realçando que ficou com a sensação de faltaram algumas personalidades que tinham o dever moral, cívico e porque não politico de marcarem presença e fazerem uso da palavra”, lê-se.
Poderiam, prossegue, fazer uso da palavra sem frases feitas, sem slogans gastos, sem a repetição de clichês de avaliação como o já clássico “o povo já não acredita em políticos”. Era o momento de se dar conteúdo às alternativas. Em tom irónico, este tenta justificar a ausência dos Sokols com “transito intenso”, “agenda impossível ou simplesmente o convite em papel doirado perfumando que não chegou ”. Nada como a realidade ” sem “redes nem filtros” para que a desconstrução aconteça naturalmente. O medo da desconstrução pública é o que mais amedronta o populismo”, finaliza.
Comentando este post, o presidente da direcção do Sokols lembra que este movimento cívico não é formado por apenas uma pessoa e que pelo menos dois dos seus membros estiveram presentes, inclusive questionaram o Governo. Infelizmente, as respostas, mais uma vez, não satisfizeram. “Eu não estive presente devido a compromissos profissionais. Mas o Sokols esteve presente. Agora, se não conseguiram sequer meia-sala, não podem culpabilizar o Sokols. Deveriam era tirar as suas ilações, quem sabe as pessoas estão cansadas e já não acreditam nos políticos. Ou então não querem estar presentes apenas para encher espaço “, concluiu.
Constânça de Pina