Mindelinsite promove conferência sobre Fake News, Jornalismo e Política: Desmistificar o conceito e apurar as consequências das “notícias falsas”

Nunca como agora fazer jornalismo com verdade foi tão relevante para o esclarecimento público. É com este propósito que o Mindelinsite realiza esta quarta-feira, 22, uma conferência intitulada “Fake News, Jornalismo e Política”, a ter lugar no salão sociocultural da Escola Salesiana em São Vicente. Com esta iniciativa, este website, que surgiu há pouco mais de dois anos, cumpre um dos seus objectivos que é de contribuir para o combate serrado à iliteracia mediática no país, elucidando sobretudo os jovens, os grandes utilizadores e difusores das notícias nas redes sociais.  

Para o director do Mindelinsite, este é um momento propício para realizar esta actividade, que já estava nos planos desta publicação, tendo em conta o início da pré-campanha e da campanha eleitoral. É neste contexto que se elegeu as “Fake News”, um tema da actualidade, como um dos assuntos desta conferência. “Este é um tema que está a suscitar muito debate e que acaba por dizer respeito a toda a sociedade, principalmente aos utilizadores das redes sociais. Entendemos que o momento é propício para se tentar esclarecer este conceito e separar as águas”, explica Joaquim “Kimzé” Brito.

É que, a seu ver, há uma tendência para se responsabilizar o jornalismo por este fenómeno, quando a realidade mostra que a maior parte dos emissores deste género de informações são páginas criadas por pessoas afectas a partidos políticos ou interesses económicos. Estes, utilizando técnicas do jornalismo, tentam passar informações falsas misturadas com outras verdadeiras, de forma intencional e que apelam à emoção das pessoas.

Para agravar ainda mais o quadro, há pessoas que partilham tudo o que está na internet, sem uma análise crítica. “Há uma proliferação cada vez maior de informações falsas. Mas há também pessoas ligadas à classe política ou à esfera do poder que classificam determinadas notícias de fake quando as mesmas não as agradam. No fundo, querem tentar mostrar que existem órgãos em Cabo Verde a prestar este tipo de serviço.”

Mas os jornalistas não estão completamente ilibados de responsabilidades. Kimzé Brito admite que há situações em que um jornalista ou um órgão não consegue recolher as informações como deve ser, ou então faz um tratamento inadequado de um assunto, o que pode despoletar críticas. Nesses casos, podem aparecer pessoas a tentar descredibilizar o profissional ou a empresa de comunicação social onde trabalha, pura e simplesmente carimbando a notícia de “fake”.

Daí a relevância desta conferência, quando não seja para clarificar posições. “Sabemos que este é um fenómeno a nível global, mas temos de saber qual é a incidência deste fenómeno em Cabo Verde; qual a apreciação que se tem das fake news e se é um assunto que incomoda. Também é preciso saber distinguir o que caracteriza uma fake e direcionar este tipo de informação, sobretudo para os jovens, que são os maiores utilizadores das redes sociais no país e principais agentes de reprodução destas notícias.”

São estas preocupações que justificam os painéis “Fake ou Fast News”, que vai estar a cargo do professor e coordenador do curso de Jornalismo da Uni-CV, João Almeida, e “Consequências sociais, económicas e políticas das Fake News”, que serão analisadas pela analista Rosário Luz. Para Almeida, esta conferência reveste-se de uma “grande relevância” porque, diz, muita gente anda a confundir o conceito das “fake” – que na verdade são uma estratégia – com boatos jornalísticos. “É preciso mostrar que se trata de uma estratégia sorrateira, mas tão sorrateira, que temos websites e blogues com cara revestida de órgãos de informação e que disseminam informações copiadas e plagiadas de órgãos de comunicação social. As pessoas não sabem que há diferenças e uma delas é que os jornais tradicionais têm a sua linha editorial e regem por regras legais bem claras. Do mesmo modo, o jornalista deve respeitar um código de ética e deontologia”,realça esse professor, lembrando que há responsabilidades nomeadamente criminais para um jornalista ou órgão, quando elas não se aplicam para aqueles que disseminam as chamadas fake news. Além disso, relembra que quem critica um produto final sequer sabe em que condições o jornalista trabalhou para fazer a notícia.

O público-alvo desta conferência são jovens, estudantes pré-universitários e universitários, mas também jornalistas e profissionais da comunicação social. “Precisamos saber qual é o nosso papel neste fenómeno porque estamos a ser atraídos para o centro de um redemoinho”, salienta Kimzé Brito, para quem essa prática deve provocar a intervenção de outras autoridades, nomeadamente a entidade reguladora, a policiais e o MP, tendo em conta que muitas vezes as tais fakes ofendem a imagem das pessoas, de organizações e transmitem mensagens de ódio.

Conhecida por suas posições firmes, a conferencista Rosário Luz defende que a informação em Cabo Verde é estatizada e partidarizada. Aponta, como exemplo, o jornal A Semana que, afirma, prioriza neste momento o interesse partidário em detrimento da informação, e o online O País, que apelida de folhetim do Governo. “O mercado é mau e as pessoas não conseguem ter publicidade fora de um partido, de uma empresa amiga ou do Estado. Por outro lado, um jornal físico que é produzido na Praia chega em São Vicente com notícias requentadas. Portanto, os problemas estruturais que a comunicação social enfrenta são enormes. Por causa disso, quando se lê um jornal, muitas vezes, está-se a ver apenas a opinião de um partido ou do Governo, e não uma formação isenta e objectiva”, critica.

Diante deste quadro, Rosário Luz não tem dúvidas de que uma conferência como esta, que vai abarcar os desafios do jornalismo, ganha relevância porque traz pessoas que não rezam pelas cartilhas dos partidos políticos ou do Governo. “São fundamentais para o esclarecimento do público”, considera.

A conferência acontece amanhã na escola salesiana, no período da manhã.

Constança de Pina

Sair da versão mobile