Os mindelenses estão indignados com a decisão do Governo de disponibilizar 17 mil contos para financiar as bancadas do Carnaval na Praia, integrados num conjunto de projectos para o município da Praia, financiados pelo Fundo de Turismo, que ultrapassam os 140 mil contos. A notícia não é nova, até porque está publicada no Boletim Oficial nº 60 de 20 de Setembro (I Série), mas que passou despercebida para a maioria dos cabo-verdianos.
“Quem explica esta manobra de atribuição de 17.000.000$00 do Fundo do Turismo (fora do Orçamento de Estado), às bancadas de carnaval da Praia se as bancadas já tinham sido feitas no ano passado?! Alguma explicação ???”, pergunta o presidente do Sokols 2017, Salvador Mascarenhas. Já para o comentarista Júlio Goto, residente em Oslo, está-se perante mais uma “roubalheira”. Há quem diga também que esta foi a forma que o Governo encontrou para financiar o Carnaval da Praia, sem melindrar as restantes ilhas, principalmente a de São Vicente, palco da maior festa do Rei Momo de Cabo Verde.
Entretanto, em São Vicente, ainda não existe uma bancada oficial para se ver o desfile. Até o ano passado, havia uma bancada na Rua de Lisboa para receber convidados da Câmara, na sua maioria políticos, uma extensão ao lado do Palácio do Povo, cujos assentos eram pagos. Em 2018, entretanto, surgiu uma iniciativa privada, que permitiu a colocação de bancadas na Praça Nova, mas foi criticada pelos mindelenses por aparentemente não oferecer muita estabilidade. Já na Praia, o vereador da Cultura anunciava a compra de bancadas pela edilidade, que custaram 13 mil contos, como um “bom investimento” para o evento.
Este facto acaba por constituir um paradoxo, tendo em conta que, como diz José Almada Dias, numa publicação na sua página no Facebook, “o carnaval do Mindelo é o maior evento cultural de Cabo Verde, que começa a ser reconhecido mundialmente. Por incrível que pareça, os grandes obstáculos à sua afirmação mundial são sobretudo endógenos: falta de oferta de alojamento e problemas de acessibilidade, fruto da ausência de visão e de políticas ao longo de décadas…”
Receitas do Fundo do Ambiente
A resolução nº 96/2018 publicada no BO sobre a repartição das receitas do Fundo do Ambiente revela que foram definidas prioridades de investimentos municipais a serem financiadas, tendo em conta o objectivo de se criar “todas as condições” para evitar a redução do fluxo turístico ou amortecer as tendências do seu crescimento traçado no âmbito do Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável-PEDS (Plataforma de Turismo), apresentado em Dezembro de 2017.
Neste sentido, decidiu-se atribuir ao município da Praia o montante de 140 mil contos para financiar vários projectos, entre os quais a bancada do Carnaval. Em relação aos demais municípios, Ribeira Grande de Santiago recebeu 39 mil contos, São Domingos 37 mil contos, São Salvador do Mundo 33 mil contos, Santa Catarina 41 mil contos, São Lourenço dos Órgãos 33 mil contos, Santa Cruz 34 mil contos, Tarrafal 50 mil contos e São Miguel 36 mil contos. Com isso, a ilha de Santiago vai receber do Fundo do Turismo um total de 477.591mil contos.
Mais modesto são as quantias destinadas às ilhas do Maio (45.620 contos), Brava (46.381 contos) e São Nicolau (73.117, dos quais 36.853 contos vão para Tarrafal e 36.264 para Ribeira Brava). Fogo receberá 107.603 contos, que será distribuído para São Filipe (40.002 contos), Santa Catarina (35.822 contos) e Mosteiros (31.779), enquanto Santo Antão será contemplada com 123.307 contos, também para os três concelhos: Porto Novo (42.760 contos), Paul (37.526 contos) e Ribeira Grande (43.021).
Valores mais robustos vão para Boa Vista, que receberá um total de 1.047.164 contos, montantes destinados a requalificar o Bairro da Boa Esperança e a instalação da rede de esgoto na ilha, enquanto que para o Sal foram orçamentados 1.172.064 contos. Todo este valor destina-se ao financiamento de seis projectos: requalificação dos bairros António Sousa (51 mil contos), Alto S. Cruz, São João e Terra Boa (851. 064 mil contos), pedonal da Rua 1º Junho – Santa Maria (70 mil contos), requalificação do bairro Holandinha (40 mil contos). E ainda: reabilitação do Pontão de Santa Maria (80 mil contos) e Frente Marítima e Calçadão de Santa Maria (80 mil contos).
Já para São Vicente, a segunda ilha do arquipélago em termos económicos, receberá apenas 104.394 mil contos para requalificar o Mercado de Peixe e a Baía das Gatas, catalogação e sinalização histórico e cultural edificado do Mindelo, requalificação urbana e ambiental desta cidade e promoção do Festival da Baía.
Constânça de Pina