Lili Caneças no Ocean Summit: “Não há neutralidade possível. Ou somos parte da solução ou seremos parte do problema” 

A embaixadora da Fundação Carlos Albertino Veiga, Lili Caneças, conhecida personalidade da TV portuguesa, desafiou os participantes da segunda edição do Ocean Summit, evento promovido no quadro do CVOW 2025 com foco na literacia do oceano e na aproximação entre a ciência, educação e comunidade costeira, a se envolverem nas questões do mar. “Não há neutralidade possível. Ou somos parte da solução ou seremos parte do problema,” instigou. 

Lili Caneças começou a sua intervenção revelando que é filha de um Comandante da Marinha de Guerra no tempo que quer servir o país era uma honra, os barcos não estavam encostados nos portos e havia dinheiro para pagar às Forças Armadas. “Quando eu era bebê, o meu pai atirou-me para o mar, ou morria ou aprendia a nadar. Como não morri, devo ter aprendido a nadar sozinha.Portanto, antes de caminhar, antes de andar, já sabia nadar.A minha relação com os oceanos, com os mares,foi sempre tão grande que viajei pelo mundo inteiropara conhecer os oceanos e mergulhar”, declarou.

Nesta sua primeira vez em Cabo Verde, defendeu que há lugares onde o mar é apenas horizonte e há outros onde é destino, é origem, é espelho e é caverna. E é este mar que hoje chama, desafia e convoca para sermos embaixadores de um futuro melhor. “Desde cedo aprendi que o mar não é apenas uma força da natureza, é uma lição de vida. Um mar que nos ensina a respeitar, a esperar, a resistir e a recomeçar. Ensina-nos que nenhuma onda se vence sozinha. Hoje, aqui no Mindelo, no coração do Atlântico, estamos reunidos para algo maior que nós mesmos.Estamos reunidos para ajudar a salvar o oceano e com isso estaremos a lutar para salvar o futuro”, pontuou.

“O futuro é uma responsabilidade presente que nos liga às gerações futuras e nos responsabiliza.O mar uniu os continentes, aproximou os povos, inspirou as artes, alimentou as nações e deu rumo à humanidade. Esse mesmo mar sempre nos deu tanto e começa agora a pedir ajuda.As suas águas estão mais quentes, as suas correntes mais imprevisíveis, os seus silêncios mais pesados.Não há neutralidade possível, meus senhores. Ou somos partes da solução ou seremos parte do problema”, instigou. Por isso, este Ocean Summit não é apenas uma conferência, é um ponto de viragem. “É o momento em que olhamos para o mar nos olhos e dizemos que estamos aqui e não vamos desistir de ti”, prometeu.

Lili Caneças afirmou ainda que, como mulher, acredita que o sucesso também se traduz num abraçar de causas que transcendem o ego e tocam o essencial. E poucas causas são tão universais, tão humanas e tão urgentes como esta, sobretudo porque a sustentabilidade não é uma moda, é uma forma de amor. “Como todas as mulheres, o mar guarda dentro de si o poder da regeneração.O nosso papel é dar-lhe tempo, espaço e respeito para renascer.Que este encontro seja mais do que palavras. Que cada ideia aqui nascida se transforme em ação.Que cada compromisso se traduza em mudança.E cada um de nós ao regressar a casa,leva consigo a certeza de que cada gesto conta”, considerou, garantindo que C. Verde é o palco perfeito para este compromisso: um país pequeno em terra, mas gigante em mar e em alma.

Do lado do Governo, J. Santos explicou que este CVOW celebra o mar e que este Ocean Summit permitiu reunir pessoas que, no dia a dia, lidam com o mar, desde pescadores, mas também aqueles que têm na sua mesa o produto do mar. “O mar somos nós, como diz o presidente da Fundação Albertino Veiga, o meu amigo Paulo Veiga. CabVerde nasce com o mar. É mar. Os cabo-verdianos são fruto do cruzamento de civilizações através do mar, dos descobrimentos. Somos um povo em paz com a nossa história.”

O MM destacou a ligação umbilical, familiar mas também cultural e histórica com Portugal, frisando que existe uma área em que C. Verde pode dividir a sua soberania é o mar. Divisão que tem a ver com Portugal e  Europa, mas também com a América do Sul e do Norte, e com o continente africano. “Estará Cabo Verde a ganhar, estará Portugal a ganhar, a Europa, o continente africano e o continente americano do Norte e do Sul”. Aproveitou para parabenizar a Fundação Carlos Albertino Veiga por organizar o evento e permitir que haja debate sobre o mar porque, frisou, Governar o mar não é só tomar decisões políticas, é estar com as público, com os pescadores, os cientistas, investigadores e pessoas que no dia-a-dia lidam com o mar. 

Após os discursos de praxes, a Marinha Portuguesa presenteou o ministro Jorge Santos com uma Carta Hidrografia, elaborada com apoio de instituições cabo-verdianas, e um exemplar do livro “Guardião do Mar” sobre os 125 anos do Aquário Vasco da Gama, embalado em um saco feito de redes de pesca reciclado, produto cuja venda é alocada para projetos de sustentabilidade em Portugal. 

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