JHA nega interferência nas eleições regionais do PAICV em S. Vicente: “Tenho uma boa relação com o presidente reeleito”

Janira Hoppfer Almada afirmou ontem à noite na cidade do Mindelo que tem uma “boa relação” com Alcides Graça e negou quaisquer interferências da sua parte nas recentes eleições para escolha do presidente da comissão política regional do PAICV em S. Vicente e que culminaram com a recondução desse jurista ao cargo. Confrontada por Mindelinsite acerca dos rumores de que terá apoiado o candidato Nilton César e feito campanha com a suposta intenção de fazer cair Alcides Graça do poder, a líder do partido da estrela negra afirmou que jamais ouviu tais informações. “(…) pelo contrário, as notícias publicamente veiculadas e o próprio presidente actual disse que não houve interferências. Estranho que o jornalista não tenha visto essa notícia e ouvido apenas os rumores”, reagiu Janira Almada, que se deslocou a S. Vicente para o acto de encerramento da sua campanha para a liderança nacional do seu partido, cuja votação acontece amanhã.

Abordada pela imprensa, a candidata à sua própria sucessão deixou claro que o mais importante para o PAICV neste momento é reforçar a luta e resgatar Cabo Verde da má governação do actual Governo. Na sua percepção, será possível construir um país para todos, mas neste momento o Estado existe apenas para alguns. “Há decisões que colocam em causa o futuro colectivo no domínio dos transportes, da saúde, do sistema educativo porque o actual Governo ainda não percebeu que é preciso que o país avance e dê um salto para outro nível de desenvolvimento”, critica JHA, para quem o Executivo liderado por Ulisses Correia e Silva já perdeu a oportunidade de fazer reformas e mudar o rumo dos acontecimentos. Isto porque o último Orçamento do Estado já foi aprovado e falta apenas um ano para as eleições. E, pelas contas do PAICV, será impossível cumprir as grandes promessas feitas pelo MpD nas campanhas eleitorais de criação dos 45 mil postos de trabalho, crescimento da economia a uma média anual de 7 por cento, actualização salarial todos os anos na Função Pública, aumento das pensões sociais… Se tudo isso fosse realmente efectivado, diz, o Governo não estaria a reduzir o investimento no sector da saúde, a congelar os salários dos empregados públicos, etc.

Para JHA, é possível tornar a economia de Cabo Verde mais competitiva, modernizar a agricultura, aproveitar o potencial do mar, fazer uma nova abordagem das secas, mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Adicionalmente, acrescenta, é possível adoptar uma política dos transportes mais consentânea com a realidade arquipelágica do país, travar uma verdadeira luta contra a corrupção, fazer do combate à criminalidade uma prioridade, tudo isso suportado por um pacto que ultrapasse os mandatos.

Campanha à esquerda, governar à direita

Mediante esse cenário negativo que traça do mandato do actual Governo, Janira Almada foi confrontada com uma sondagem que atribui a vitória do MpD tanto nas autárquicas como nas legislativas. Pedido pelo Mindelinsite para comentar essa informação, assegurou que não teve acesso a tais dados. “Os que tenho são diferentes”, assegura. “Inclusivamente tenho pedido ao primeiro-ministro no Parlamento que fale das sondagens”, frisa essa também deputada. Segundo Hoppfer Almada, aquilo que o PAICV sente no terreno é uma recuperação e confiança crescente no partido fruto da sua oposição “construtiva” e “responsável”. Além disso, prossegue, as pessoas já se deram conta que as promessas de campanha do MpD jamais serão concretizadas.   

Questionada se o PAICV estaria deste modo no poder se as eleições fossem agora, Janira Almada preferiu responder que o seu partido está preparado para gerir o país de forma muito mais eficiente do que a actual maioria. Como enfatiza, o PAICV tem uma visão diferente para o sector dos transportes, da economia marítima, social, da saúde, da educação e combate á corrupção.

 “O que aconteceu é que a actual maioria fez uma campanha á esquerda, mas é um partido centro-direita. Fez propostas à esquerda, mas na prática governa à direita. Logo, entre o prometido e o realizado não há correspondência”, diz JHA, para quem a insatisfação gerada no seio dos cabo-verdianos é algo facilmente perceptível. “Não estou a dar uma visão negativa do país, mas sim uma perspectiva realista.”

Perguntada se o cenário de crispação interna no PAICV não estará a beneficiar o Governo, Janira H. Almada realçou que é momento de se parar com essa ideia de que todos devem ter a mesma opinião dentro de uma organização. Como diz, não conhece nenhuma liderança que não tenha sido criticada, logo, as opiniões diferentes devem ser naturalizadas dentro do próprio PAICV.

Janira H. Almada fez essas declarações às vésperas da sua recondução a mais um mandato à frente dos destinos do PAICV. Candidata única à sua sucessão, após a polémica desistência de José Sanches, será reconfirmada no cargo amanhã, dia do escrutínio interno.

Kim-Zé Brito

Sair da versão mobile