O deputado João do Carmo afirmou esta manhã que a “exigência” feita na semana passada pelo ministro do Mar para o aeroporto Cesária Évora passar a receber voos nocturnos uma mera “declaração política” de Abraão Vicente, que visa apenas enganar a população da ilha de S. Vicente e a região Norte do arquipélago. “A declaração serve apenas para enganar os mindelenses, volto a repetir, já que, se formos ver na prática, a ocupação desse aeroporto internacional durante o dia é ínfima. Pode-se claramente passar a ocupar a infraestrutura durante o dia para depois virmos dizer que a solução para o aumento dos voos seja agora no período da noite”, reagiu, deste modo, o parlamentar eleito pelo PAICV, enfatizando que a pista do aeroporto tem estado praticamente às moscas durante o dia, apesar de ser uma infraestrutura de categoria internacional construída no tempo do governo de José Maria Neves.
Nas palavras de João do Carmo, o executivo do PAICV teve uma visão clara em relação a S. Vicente e construiu o aeroporto Cesária Évora para receber ligações internacionais. A seu ver, cabe aos outros governos sucessivos a utilização correcta dessa pista, neste caso dinamizar o aeroporto com mais viagens vindas de outros países directamente para Mindelo. “Quando tivermos voos suficientes que ultrapassam a capacidade diurna, vamos dar prioridade a voos nocturnos”, defende o deputado, que manifestou esta posição durante uma conferência de imprensa, que visou abordar alguns problemas que afectam a ilha de S. Vicente e a região Norte.
Um deles tem a ver com os preços das passagens aéreas praticadas pela TACV nas viagens com destino a S. Vicente e que, segundo João do Carmo, são mais caros que os para as ilhas de Santiago e Sal. Isto quando, diz, a procura por S. Vicente está em alta. “Entendemos o porquê de tanta procura para esta ilha, contudo, a solução é aumentar a oferta em vez de aumentar o preço das passagens”, defende do Carmo, para quem é difícil entender como a companhia aérea aplica uma tarifa “bem superior” nas viagens para S. Vicente, quando o tempo de voo para Sal e Santiago é o mesmo. Quanto ao facto de o custo do combustível Jet ser mais caro em S. Vicente, esse parlamentar afirma que está aí outra coisa que não compreende. Para ele, esta matéria é da competência do Executivo e cabe-lhe encontrar uma solução.
Ainda no tocante às viagens, João do Carmo trouxe à baila as dificuldades que os mindelenses e os residentes na região Norte continuam a enfrentar no tocante aos pedidos de visto para a União Europeia. Dos contactos no terreno feitos com a colega Josina Freitas constataram que as críticas sobre este item são generalizadas. Explica que o serviço deixou de se deslocar à cidade do Mindelo e neste momento só há marcação para entrevista ou recolha de dados a partir de setembro, mas os interessados terão que se deslocar ao Centro Comum de Vistos na cidade da Praia. Para ele, tudo isso bloqueia os planos de viagem das pessoas residentes fora da ilha de Santiago, situação que, na sua perspectiva, é até inconstitucional. Isto na medida em que delimita grandemente a liberdade de deslocação dos cabo-verdianos, que ficam sujeitas às regras do CCV.
“Há muita gente em quase desespero, que precisa viajar, mas que nem sequer pode ir fazer uma marcação na cidade da Praia”, salienta o parlamentar, para quem o Governo deve usar as relações de Cabo Verde com a União Europeia para ver uma solução para o problema.
Ao nível social, João do Carmo estranhou como ainda as casas do complexo Portelinha, construídas com o apoio da China, ainda estão vazias, enquanto os moradores continuam a residir em casinhas de tambor. Segundo o deputado, após um show-off dado pelo Governo com a inauguração do complexo habitacional, não se compreende como os apartamentos permanecem fechados meses depois.
“A desculpa é a seleção dos beneficiários, mas tiveram todo o tempo para fazer a seleção e a escolha, enquanto a obra estava em curso”, critica esse porta-voz, que diz esperar um processo transparente na atribuição das moradias. Assegura, aliás, que os deputados do PAICV vão continuar a acompanhar esse processo e, se apurarem irregularidades, elas serão denunciadas.
Baía das Gatas abandonadas após “selfie” de Ulisses Correia e Silva
E por falar em “show-off”, João do Carmo acusa o Governo de ter feito uma obra de cosmética na Baía das Gatas para depois abandonar aquela que é uma das zonas balneares mais importantes de Cabo Verde. Segundo o deputado, Ulisses Correia e Silva deu-se ao trabalho de se deslocar da Capital para Baía das Gatas só para fazer “selfies” e incentivar a sua comitiva a fazer a mesma coisa, mas para aproveitar o período da campanha legislativa. Três anos após o início dos trabalhos, diz, a emblemática estância encontra-se num estado lastimável, feia aos olhos dos cabo-verdianos e dos turistas, devido a um trabalho de péssima qualidade feito até agora. Além do mais, lembra, o orçamento inicial dessa obra foi reduzido.
De positivo, o deputado regista, no entanto, a “alegria” dos mindelenses com a retoma das viagens pelo navio Nôs Mar d’Canal entre S. Vicente e Santo Anão, o que, nas palavras de João do Carmo, dá razão aos deputados do PAICV. Pedido para ser mais específico, explica que houve um grande imbróglio no concurso para os transportes marítimos, tendo o PAICV evidenciado um conjunto de erros cometidos pelo Governo nessa matéria. O partido, acrescenta, defendeu na altura que se deveria priorizar os armadores nacionais por entender que esta classe tem todas as condições de assumir o funcionamento desse mercado, faltando apenas o aval do Estado e o apoio financeiro para investimento, o que veio a acontecer com Mar d’Canal.