Internautas preocupados com alegada tentativa de imposição da variante de Santiago em Cabo Verde

A notícia do agendado lançamento em março de uma tradução da Constituição da República na variante de Santiago suscitou mais de uma centena de comentários e críticas no Facebook do Mindelinsite de pessoas que se mostram preocupadas com uma alegada tentativa de imposição em C. Verde dessa vertente linguística sobre as restantes variações do crioulo. A obra, escrita pelo linguista Manuel Veiga, ex-ministro da Cultura do Governo liderado por José Maria Neves e que presidiu a equipa autora do ALUPEC, é vista por alguns internautas como mais prova dessa suposta “estratégia cozinhada” na Capital do país.

Parte expressiva dos internautas considera essa iniciativa patrocinada pela Presidência da República como um alerta para as restantes ilhas e há quem tenha deixado claro que não vai ler essa tradução. Outros relembram que Cabo Verde é um país rico pelas variantes faladas em todas as ilhas habitadas, diversidade que, dizem, deve ser protegida e não sufocada ou colocada em risco. E apontam o dedo acusador ao poder central, apesar de a Presidência da República ter mostrado disponibilidade para financiar trabalhos idênticos nas outras variantes.

“Dnher na CV tá largod. CV 10 ilhas – 9 habitadas, cada um q’c Criol e ê exatamente esse diversidade das ilhas qta fazê nôs bnit. Uvi gente de Sintanton a Brava q1 forma xpecial de falá ê música pá nôs uvid. Cada um d’nôs tá expressá d’nôs manera”, enfatiza, por exemplo, Shandoka Brigham.

“Espero que (a Constituição) seja traduzida nas outras variantes. Pouco a pouco vão nos impondo uma língua. É a ditadura a todos níveis”, diz, por outro lado, Celeste Dapaz.

Em relação ao ensino na língua materna, um internauta questiona sobre os impactos a médio prazo se a variante de Santiago passar a ser a imposta nas escolas a crianças e adolescentes. Há quem também pergunte qual será o crioulo a ser usado numa turma composta por alunos de diferentes ilhas e se os professores vão ser obrigados a dominar todas as variantes para poderem esclarecer dúvidas colocadas pelos estudantes.

Até hoje de manhã, a publicação registava 130 reações, quase todas expressando preocupação sobre o futuro da diversidade linguística em C. Verde, por considerarem haver uma clara estratégia de se impor a variante de Santiago sobre as demais. Verdade ou delírio, este jornal digital tem constatado nos diversos emails que recebe das instituições e organizações públicas uma opção sistemática, ou institucionalizada, do uso do crioulo de Santiago quando lançam serviços e campanhas a nível nacional com slogans na língua cabo-verdiana.  

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