O Hospital Baptista de Sousa descreve o caso da menina Sharon Lopes como dos mais complicados e agressivos que se tem deparado e assegura que os profissionais tudo fizeram para salvar a sua vida, desde o momento que deu entrada no estabelecimento público de saúde. A doença da criança, como deixa entender a direcção do HBS, terá mobilizado todo o mundo.
O responsável pela ala da Pediatria, José Luis, assegura que, ao dar entrada no hospital há dois meses, a situação da criança de 4 anos foi logo considerada de urgência, pelo que foi de imediato levada para o bloco operatório. Na sequência da intervenção cirúrgica, frisa o médico, foi-lhe encontrado um tumor “já com alguma complicação” no intestino. “Após análises, constatou-se que o tumor era maligno. A cirurgia evoluiu bem no pós-operatório, mas mesmo assim foi feita a Junta com a máxima urgência para evacuação, porque o resultado dos exames mostrou ser um tumor agressivo, e ficamos a aguardar o resultado até agora”, sublinha.
Como o tumor era agressivo, evoluiu rapidamente e obrigou a criança regressar ao hospital há duas semanas. As análises, conforme o médico, indicaram que a criança apresentava metástases por vários órgãos. Segundo este profissional de saúde, a doença espalhou-se para os rins, partes do intestino e posteriormente apareceram problemas pulmonares, que juntos levaram ao fatídico desfecho.
De acordo com a diretora do hospital, este é dos casos mais difíceis que os técnicos de saúde enfrentam. “São casos raros, com evolução rápida e agressiva e que deu entrada no hospital num estado já bastante grave. Desta forma lamentamos a perda desta criança. É uma vida de quatro anos que todos nós perdemos e para a família não há consolo possível”, diz Ana Brito.
De acordo com esta responsável, tudo leva um tempo, desde o diagnóstico ao tratamento. No entanto, ao saberem do estado da paciente de quatro anos, foi feito logo um pedido de evacuação para a criança. Questionada se a melhor opção de evacuação para o exterior, neste caso, seria Portugal, responde a diretora do hospital que os acordos é que determinam qual a melhor solução. “Cabo Verde tem acordo com Portugal, não temos outra solução. É em Portugal que temos conseguido salvar a vida às pessoas e minimizar o sofrimento dos pacientes”.
Assegura que dentro do hospital tudo o que era possível foi feito pela vida de Sharon e que o caso mobilizou todos os seus profissionais de saúde. Conforme Ana Brito, foi feita uma revisão extensa do caso e conversaram com a família.
Ana Brito resume estes dias em que Sharon esteve internada como “complicados”, como “em todos os outros casos graves que chegam ao hospital”. Nesta entrevista, para além do responsável pela ala da Pediatria e da diretora do HBS, esteve presente a diretora clínica substituta, Karina Mascarenhas.
Profissionais da saúde “também são humanos”
Este incidente deixou a família enlutada revoltada, tendo o avô da menina exigido a demissão do ministro da Saúde. Paralelamente, suscitou uma avalanche de críticas ao sistema de evacuação nas redes sociais. Entretanto, o Director Nacional da Saúde afirmou que não faz sentido pedir a demissão da tutela da Saúde, pois Artur Correia garante que o ministro fez “tudo” ao seu alcance para acelerar o processo da criança.
Correia diz compreender o estado emocional da família, amigos e relembrou que os profissionais da área da saúde são também humanos. “As pessoas que estão a escrever no Facebook não têm mais sentimento que nós, aqui no Ministério da Saúde. E não faz sentido pedir a cabeça do ministro porque ele fez tudo o que podia para conseguir uma evacuação mais célere, de acordo com o sistema e a legislação vigente”, reagiu Artur Correia em conferência de imprensa, acrescentando que a criança foi examinada pela Junta de Saúde de Barlavento no dia 13 de Junho, o relatório foi submetido à tutela no mesmo dia, que o homologou no dia seguinte. Desde então, prossegue Correia, o Ministério da Saúde fez esforços redobrados junto das autoridades portuguesas para acelerar o processo.
Segundo Correia, o sistema de evacuações em vigor há mais de 20 anos precisa ser aperfeiçoado e adaptado. Aliás, refere, a situação foi recentemente analisada com Portugal, único país para onde Cabo Verde envia doentes para tratamento. O ministério, acrescenta Correia, reconhece que o processo de evacuação precisa ser aperfeiçoado e admite também a necessidade de Cabo Verde encontrar outras alternativas, como estabelecer protocolos com outros países e acordos com hospitais privados estrangeiros.
Dados avançados por Artur Correia indicam que Cabo Verde devia enviar cerca de 300 doentes por ano para tratamento em Portugal, mas que na realidade manda o dobro. Este ano, prossegue, foram transferidos 200 pacientes e que 60 estão em lista de espera.
O caso teve repercussões na própria imprensa portuguesa, que relatou o sucedido e deu enfoque à decisão da DNS de abrir um inquérito sobre a morte da menina, após dois meses à espera de evacuação para Portugal.
Sidneia Newton (Estagiária)