Pouco mais de mês depois da inauguração do remodelado Centro Nacional deArte, Artesanato e Design, 30 de julho, o Governo surpreendeu o meio artístico mindelense e cabo-verdiano e deu por finda a comissão de serviço do seu director, Irlando Ferreira, conformo uma resolução do Conselho de Ministro, assinada pelo Primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, publicado ontem no Boletim Oficial.
A resolução é sucinta: “É dada por finda a comissão de serviço de Irlando Jorge Delgado Ferreira, no cargo de Director do Centro Nacional de Arte e Design (CNAD)”, diz, para acrescentar logo de seguida que esta entra em vigor no dia seguinte a sua publicação e produz efeitos a partir do dia 01 de setembro. Não foi no entanto possível ouvir qualquer reação de Irlando, que não atendeu o telefone.
Certo é que teor “seco” desta resolução surpreendeu o meio artístico, onde Irlando Ferreira era bem quisto, que reagiu usando a imagem colorida utilizada para divulgar o CNAD, agora pintada de preto, para dizer “Aqui jaz a cultura”. Estes marcaram ainda para a próxima sexta-feira, 9, uma manifestação, a partir das 18 horas. “Após a demissão de Irlando Ferreira do cargo de Director do CNAD, as pessoas do sector da cultura e sociedade reivindicam justiça e democracia”, escrevem no facebook, onde aproveitam para sugerir que os participantes se vestem de preto em protesto.
O novo CNAD, refira-se, foi inaugurado no dia 30 de julho, numa cerimónia presidida pelo Primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva. Na ocasião, Irlando Ferreira afirmou que o projecto arquitetônico arrojado nasceu das aspirações para o futuro e destacou três elementos no novo CNAD: arquitectura, curadoria e identidade visual. A obra custou 120 mil contos e foi financiada pelo Fundo do Turismo.
“O projecto arquitectónico amplia e restaura o edifício antigo e cria um edifício completamente novo. Tivemos um trabalho fundamental a nível da curadoria, que parte do acervo do CNAD, e fizemos um trabalho que vai pegar na criação cabo-verdiana, lá na sua origem até aos dias de hoje. Também tivemos essa preocupação de trabalhar uma identidade visual completamente nova e que fizesse um discurso abrangente, tendo em conta todas as vertentes do CNAD”, explicava.
A fachada metálica colorida, prosseguia, reflete o diálogo entre Vasco Martins e os arquitectos responsáveis pelo projecto, que se traduziu na criação de uma partitura. “As cores que estão patentes na fachada não estão aleatórias. São uma partitura musical composta pelo Vasco Martins. Transforma a nossa forma de ver esse diálogo entre a música e as artes visuais, porque codificar a música, ao mesmo tempo trazendo uma linguagem plástica, é o que dá corpo e sentido ao CNAD”, destacava, realçando que os espaços que compõem o edifício têm como propósito “homenagear e reconhecer o trabalho feito pelos fundadores do CNAD até os dias de hoje”.
Já o Primeiro-ministro afirmava que o novo CNAD simbolizava a resiliência, a crença e a ambição de Cabo Verde e um tributo ao espírito urbano e vanguardista do Mindelo, que posicional São Vicente e Cabo Verde como uma plataforma cultural e de inovação de referência, com valorização das industrias criativas. Para Ulisses Correia e Silva, o novo centro é “um novo farol das artes e para os criadores cabo-verdianos” e espelha a ambição do país para participar nos grandes diálogos internacionais de vanguarda, inovação e na investigação colaborativa.
“O valor cultural, arquitetônico e económico que o CNAD representa vai aumentar seguramente a notoriedade internacional de Mindelo. Contribui para posicionar CV e SV como uma plataforma cultural e de inovação de referência, com a valorização das industrias criativas para atração de eventos nacionais e internacionais, que por sua vez dinamizam a economia da ilha, para além de aumentar o valor dos eventos culturais que já existem em São Vicente”, assegurava.
A título de exemplo, prometia realizar no Mindelo uma feira internacional de propriedade intelectual em parceria com a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI). Correia e Silva destacava igualmente o facto do CNAD fazer parte de um processo de certificação do artesanato nacional. Surpreendentemente, o Governo demite agora o director que liderava este processo.