O director do gabinete do Ministro da Economia recusou receber esta manhã o abaixo-assinado com 1.500 assinaturas que o movimento cívico Sokols 2017 pretende enviar ao Primeiro-ministro sobre a questão dos voos da TACV para a ilha de S. Vicente. Ildo Rocha, que era o único representante do Governo presente nos escritórios daquele ministério na cidade do Mindelo, alegou que há normas e protocolos a serem respeitados e que, nesse caso, o documento teria de ser entregue no ministério dos Transportes na Praia, ou na representação da Chefia do Governo em São Vicente. Uma sugestão que estranhou os representantes do Sokols, uma vez que o ministro José Gonçalves tutela tanto a Economia Marítima como os Transportes. Mesmo assim, Salvador Mascarenhas e colegas tentaram contactar o Gabinete da Chefia do Governo no mesmo edifício do MEM, mas a porta estava fechada.
Inconformado com tanto bloqueio, o presidente do Sokols afirmou que, se o Governo continuar a desrespeitar a vontade do povo, terão de partir para atitudes mais radicais, por exemplo avançar com uma campanha desafiando as pessoas do Norte a não votarem nas próximas eleições. “Não haver canais para atender as pessoas é dramático”, frisou Salvador Mascarenhas.
Apesar dos acertos prévios e da presença da imprensa, que deveria testemunhar a entrega do abaixo-assinado, Ildo Rocha foi irredutível. “Não podemos receber este documento. A entrega oficial terá de ser feita em sede própria, no caso no ministério dos Transportes na Praia, não no ministério da Economia Marítima. Lamentamos, mas não podemos receber este abaixo-assinado”, declarou o director do Gabinete do MEM, quando Salvador Mascarenhas, acompanhado de outros três membros da direcção do Sokols 2017, anunciou a intenção do grupo de fazer a entrega do documento com as 1500 assinaturas a exigir do Governo a revisão da política dos transportes aéreos para a região norte do país.
A postura de Ildo Rocha foi criticada por Salvador Mascarenhas, para quem o documento não está direcionado a nenhum ministério em particular, pelo que poderia ser aceite pelo MEM enquanto estrutura do Executivo mais próximo. “Este documento é dirigido ao Primeiro-ministro. Visto que somos um país arquipelágico, com graves problemas de transporte, e porque o ministério da Economia Marítima é a autoridade de nível maior nesta ilha, não entendemos porque não pode aceitar receber este documento, que é para ser enviado para a Chefia do Governo. Desde a manifestação de 17 de Dezembro que anunciamos a nossa intenção de entregar este documento nas mãos do ministro da Economia, que infelizmente não se encontra na ilha. Teríamos todo o gosto em falar com ele pessoalmente, será que então poderíamos falar com ele por telefone?”, insistiu o presidente do Sokols, no que foi de imediato informado de que José Gonçalves estaria possivelmente nesse instante em Conselho de Ministros.
Num diálogo algo tenso, Ildo Rocha informou ao grupo que no edifício onde está instalado o ministério da Economia existe também o gabinete de Chefia do Governo, que possivelmente seria o lugar ideal para se fazer a entrega do abaixo-assinado. Entretanto, para surpresa do Sokols, a porta do gabinete estava trancada. “Parece que o Governo não está. Lamentamos esta atitude do Governo, mais precisamente dos seus órgãos nesta ilha. Esta é a vontade dos cidadãos sãovicentinos, e não só. Os governos representam os cidadãos. Insistem em dizer que são funcionários do povo, mas na prática não é isso que se verifica”, ironiza Mascarenhas, que recusa enviar o documento para a cidade da Praia já que, diz, para além de acarretar mais custos e tempo, há uma forte possibilidade de extravio.
Para este activista, isso mostra que a ideia e o discurso propalado sobre a descentralização são vazios, o que o leva a questionar a presença do ministério da Economia em São Vicente. “Penso que esta transferência do ministério para esta ilha foi apenas para enganar as pessoas. Assim Cabo Verde não avança. É por isso que estamos a bater pela autonomia de São Vicente. De qualquer forma vamos insistir até entregar o documento. São 1.500 assinaturas de pessoas recolhidas durante a manifestação de 17 de Dezembro e também através da internet dos quatro cantos do mundo. Estas pessoas querem ver mudanças na política dos transportes. Infelizmente, ninguém se dignou receber o abaixo-assinado, escudando-se em protocolos e directivas de que a entrega terá de ser feita directamente na Praia”, lamenta Mascarenhas, que aproveita, uma vez mais, para chamar a atenção dos políticos para ouvirem os cidadãos.
Enquanto isso, promete continuar a lutar, até porque acredita que, algum dia o gabinete da Chefia do Governo vai estar com as portas abertas, ou então o ministro virá a São Vicente. “Iremos entregar este documento de qualquer forma, nem que tenhamos de parar algum governante no meio da rua. Agora, ficou claro que não temos Governo em São Vicente. Ao contrário, o centralismo está cada vez mais aprofundado não obstante os discursos e, com isso, as ilhas do Norte estão a ser severamente penalizadas, sobretudo a nível económico.”
Perante este cenário, o movimento cívico Sokols 2017 perspectiva acções mais radicais que passam, por exemplo, por fazer campanhas em S. Vicente contra o voto nas próximas eleições.
Constânça de Pina