Ex-funcionário pede auditoria e promete apresentar provas de corrupção na ASA

O ex-funcionário da Aeroportos e Segurança Aérea, Armando Gonçalves, desafiou as autoridades a efectuarem uma auditoria a ASA para comprovar todas acusações feitas ao administrador Nuno Santos e ao director do Aeroporto Internacional Cesária Évora, Teófilo Figueiredo. Gonçalves, que reagia ao comunicado da ASA e à conferência de imprensa de Figueiredo, diz-se tranquilo e promete apresentar provas no seu “devido tempo”.

Para este ex-funcionário da ASA, tanto o comunicado da empresa como a conferência de imprensa, são tentativas claras de desviar a atenção das pessoas das denúncias de corrupção na ASA. “Atacam-me com inverdades, demonstrando claramente o desespero, o descontrolo e a falta de argumentos numa matéria extremamente sensível, que exigiria apresentação de provas, contrapondo as minhas afirmações públicas”, responde.

Ao contrário, frisa, confrontados com os actos praticados, se acham no direito de denegrir a sua imagem e bom nome. “Há mais de dez anos que vêm fazendo das suas, enquanto director do AICE e director da Direcção de Engenharia e Manutenção de Infraestruturas Aeroportuárias (DEMIA). Durante este período, os dois fizeram contratos de obras/projectos sem concursos, com valores astronómicos e aprovaram sem nenhuma objeção os valores apresentados pelos fornecedores. No entanto, para aquisição de valores irrisórios, pedem três propostas ´por questão de transparência`”, argumenta.

Cita, como exemplo de projectos alegadamente envolvidos em corrupção, o WSBP (eficiência energética), o de rega gota-a-gota, o de requalificação do pavimento da pista e o de manutenção da cobertura do AICE. Entre os antigos, refere o INECO – Projecto de reabilitação da torre de controle da infraestrutura, de entre outros. “Falo concretamente em tráfico de influência, requisições directas de obras, ou seja, sem concurso público, não obstante os valores elevados. Há casos de obras que ultrapassaram os 20 mil contos.”  

Chantagem

Relativamente a tentativa de chantagem referida pela ASA e retomada por Figueiredo, segundo Gonçalves, não passa de folclore para iludir a opinião pública. “Fiz sim uma proposta de prestação de serviço de manutenção para o AICE, depois de uma conversa telefónica (gravada) com o PCA. Este pediu-me para enviar uma proposta para atenuar a minha saída, depois de uma comunicação via SMS, onde informei-lhe da minha intenção de denunciar actos de corrupção que vinham sendo praticados na ASA”, confessa.

Estranha por isso a conotação da sua proposta com chantagem porque há outras empresas que prestam o mesmo serviço nos outros aeroportos, inclusivo por valores superiores. “A minha empresa apresentou uma proposta de prestação de serviço de manutenção no valor de 580 mil escudos. No da Boa Vista, por exemplo, um cidadão estrangeiro presta o mesmo serviço por 900 mil escudos mensal. Então, não vejo onde está a chantagem”, pontua.

Conflito com Nuno Santos

Instado por que só agora decidiu falar de alegadas irregularidades, sendo que trabalhou 22 anos na ASA, este explica que a empresa tem um Código de Conduta e não podia fazer denúncias, sob pena de sofrer processos disciplinares, o que aconteceu por duas vezes apenas por discordar de decisões da direcção. Esta é, aliás, a razão do conflito com o administrador.

“Enquanto director do AICE, o Nuno levantou-me processos disciplinares e pediu a minha exoneração do cargo de chefe de departamento, que vinha exercendo há 10 anos. O então PCA, Mário Paixão, deu-me razão, mas o Nuno insistiu e manteve, passando por cima do PCA. Entrou como administrador e o seu primeiro acto foi a minha destituição do cargo. Já não havia ambiente para continuar. Por isso, pedi para negociar a minha saída.”

Quanto aos emails apresentados pelo director do AICE, Gonçalves diz desconhecer os conteúdos dos mesmos, mas desafia Figueiredo a apresenta-los na justiça e a provar que foi ele que os escreveu e enviou. “Posso dizer também que neste momento estou a receber chamadas anónimas com ameaças e tentativas de intimidação. Igualmente estão a tentar invadir o meu email pessoal para apagar documentos. Estão em total desespero”, denuncia.

Em jeito de remate, este admite que dificilmente estaria a fazer estas denúncias se a sua proposta tivesse sido aceita porque também está a defender os seus interesses, após ter sido descartado de forma deselegante. “Fui perseguido e por isso saí da empresa depois de 22 anos de serviço. Trabalhei durante 10 anos como chefe de serviço e fui descartado de forma desumana do cargo por estes dois indivíduos. Não posso ser prejudicado e ficar calado”, conclui.

Constânça de Pina

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