Estivadores negam descarregar barco de peixe da UE atracado no Porto Grande

Um grupo de estivadores requisitados pela Enapor para fazer a descarga de uma embarcação de pesca da União Europeia recusou determinantemente a trabalhar esta segunda-feira no cais internacional do Porto Grande. Esses profissionais alegam que se trata de uma medida de precaução, tendo em conta que, afirmam, as autoridades sanitárias, a Polícia Marítima e a agência que representa a embarcação aqui em Cabo Verde em nenhum momento estiveram no navio para fazer vistoria e saber se há algum caso de covid-19 a bordo.

Ao Mindelinsite, estes estivadores revelaram que chegaram ao Porto Grande para  mais um dia de trabalho por volta das 8 horas da manhã. Mas, como sempre acontece, ficaram a aguardar a vistoria das autoridades sanitárias e policiais antes de iniciarem a descarga, o que nunca aconteceu. “Desde que foi decretado o estado de emergência trabalhamos normalmente, apenas com alguma protecção, como luvas e máscaras. Hoje ficamos com receio porque as autoridades, designadamente a Delegacia de Saúde, a Polícia Marítima, o responsável dos atuneiros e o agente que representa o navio recusaram subir a bordo da embarcação”, relatam.

Perante esta situação, prosseguem as nossas fontes, vários estivadores começaram a recuar, para descontentamento das autoridades e do agente responsável, que exigia que estes procedessem a descarga. “Se ninguém queria entrar no barco, não entendo porque estão a exigir que sejamos nós a fazer isso. Sabendo que, nesse tipo de trabalho, utilizamos apenas uma luva de lã, que não oferece nenhum tipo de protecção. Se houver alguma propagação, significa que vou contaminar e levar a doença para casa”, desabafa um dos estivadores, que se mostrava particularmente revoltado com a insistência das autoridades de saúde para fazerem a descarga. 

“O pessoal da Delegacia de Saúde ficava a insistir que podíamos entrar no navio porque não havia problema. Mas este caso está muito estranho. Primeiro porque costumam atracar os navios no caís número 2, mas optaram pelo número 1, que fica lá ao fundo. As autoridades sanitárias e policias nunca subiram a bordo. Então porquê nós?”, indaga uma dessas fontes, que prefere ficar sem trabalhar e proteger a sua saúde e a dos familiares. Este estivador diz que não sobe ao enquanto não tiver certeza de que está tudo normal.

Estamos a passar sérias dificuldades, mas não vamos colocar a nossa vida em risco por causa de um dia de trabalho. Não compensa. Prefiro ficar sem trabalhar a ficar doente. Infelizmente, alguns colegas vão trabalhar por necessidade. Foram convocados 80 estivadores para fazer esta descarga, mas duvido que mais de uma dezena venha aceitar trabalhar nestas condições. Há muita desconfiança, até porque durante o estado de emergência não tiveram todos os cuidados que estão a ter agora”, acrescenta a mesma fonte.

Curiosamente, prossegue outra fonte, agora que o estado de emergência terminou é que as autoridades decidiram implementar estes procedimentos de segurança por dois dias consecutivos, designadamente com palestras e níveis de cuidados elevados. Foram, aliás, todos estes cuidados que fizeram com que estes estivadores ficassem ainda com mais medo.

Tentamos ouvir o Delegado de Saúde de São Vicente, Elísio Silva, mas este limitou-se a dizer que desconhece esta situação, resposta que repetiu perante a nossa insistência. Também não foi possível ouvir a Enapor, pelo que prometemos voltar a este assunto, caso se mostrar pertinente. 

Constânça de Pina

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