O coordenador da Comissão Politica Concelhia do MpD em São Vicente não vai estar presente na XIII Convenção Nacional do partido, que arranca esta noite na Praia e tem em agenda a revisão dos Estatutos. Esta informação foi avançada à imprensa por Armindo Gomes, para quem não houve transparência na feitura das listas. Contesta, sobretudo, a sua colocação no 12º lugar, num processo não transparente e que viola os Estatutos do MpD. Critica ainda a decisão de se apresentar uma lista única numa aparente “paz podre”, que excluiu muitos militantes e diz que, se as eleições internas fosse hoje, não apoiaria a candidatura de Ulisses Correia e Silva à liderança do partido.
De acordo com este politico, esta situação é um reflexo das recentes eleições internas do MpD que não foram o desejável e deixaram sequelas. Primeiro porque, diz, muitos militantes não compreenderam as razões para se misturar a escolha da liderança do partido com a do cabeça-de-lista de S. Vicente à convenção. Com isso, diz, muitos se sentiram excluídos e não se reviram nesta lista apelidada de Lista U, liderada por Augusto Neves. “Os militantes nunca souberam a composição desta lista, que foi apresentada simultaneamente com a candidatura de Ulisses Correia e Silva à liderança do MpD. Apenas as pessoas que, efetivamente, estiveram na apresentação conhecem a composição desta lista. Os demais militantes, simpatizantes e amigos do partido estão completamente a leste”, explica.
Armindo Gomes admite que aceitou fazer parte desta lista porque comprometeu-se com o então candidato. Infelizmente, desabafa, as eleições tiveram a abstenção como tónica dominante e muitas reclamações dos militantes, que agora subscreve. “A Comissão Política Concelhia foi preterida na organização de todo o processo. E foi porque não íamos admitir recomendações do Gabinete de Apoio ao Processo Eleitoral que, um dia antes das eleições, determinou que as pessoas que tinham cartão de militante podiam votar, em manifesta violação das leis: dos Estatutos, dos princípios e do Código Eleitoral, este último o documento que auxilia o partido nas eleições internas”, sublinha, realçando que os Estatutos do MpD recomendam e remete para o Código Eleitoral as lacunas no regulamento.
“São princípios básicos de qualquer processo eleitoral partidário: só vota quem está recenseado. O partido e o Gabinete de Apoio sabiam que a CP e o seu presidente não iriam aceitar esta deliberação porque fomos vitimas desta mesma tramoia em 2017. Cinco anos depois, em 2022, houve eleições e ganhamos, embora estas também não tenham sido transparentes. Mas, a partir do momento que ganhamos através do sufrágio dos militantes, sentimos legitimados e com autoridade par agir em conformidade com os Estatutos. Foram estes propósitos que não foram respeitados na eleição do presidente do partido e nem na eleição para a Convenção, que inicia esta sexta-feira.”
Marginalização
Apesar da promessa e do apoio ao então candidato à liderança do MpD, Armindo Gomes afirma que tanto ele como a CP foram marginalizados nas eleições internas, contrariando a afirmação feita ontem por Ulisses Correia e Silva, que garantiu que houve um forte debate interno. “Não houve debate, não houve transparência e os militantes sabem disso e não estão satisfeitos. Caso o partido tiver dúvidas, que faça um inquérito para ver quem tem razão. Somos um partido democrático, mas não houve democracia interna, não houve participação dos militantes. Houve dados que estão em contradição com os que temos. E, quem quiser, estamos aqui para provar”, assegura.
Mas o seu descontentamento é sobretudo em relação a sua posição na lista de delegados à Convenção, elaborado por Augusto Neves, sob a batuta de Correia e Silva. “É inaceitável ocupar o 12º lugar desta lista, que por si só extravasa todo o principio da democracia. É uma hecatombe. Nem na primeira república, quando havia uma lista única, isto acontecia porque havia a opção sim ou não. Nos boletins de votos sequer havia esta opção porque era uma única, sendo que os militantes têm o direito de apresentar uma lista, se quiserem. Aliás, fui convidado para apresentar uma lista, recusei porque havia uma que as pessoas diziam era patrocinada por Ulisses Correia e Silva”, pontua, esclarecendo que as listas às convenções são apresentadas pelos militantes em cada concelho.
Tudo isso, afirma, são manobras para o afastar do partido. Aliás, garante saber que estão a preparar a sua saída. Mas, enquanto isso não acontecer, vai continuar a exigir que as leis sejam respeitadas. “Estou a-vontade porque não dependo de laços comestíveis com o partido, com o governo ou qualquer outra instituição. Sou advogado de profissão e vou honrar a tarefa que me foi atribuída pelos militantes do MpD para coordenador a Comissão Política Concelhia, mesmo contra o sistema como aconteceu em 2016. O sistema voltou agora a tentar impedir a minha eleição e na6o conseguiu. Sou, legitimamente, o presidente da Comissão Política Concelhia e vou continuar a trabalhar.”
De costas voltadas
Questionado se a CP do MpD São Vicente está em ruptura com o partido, Armindo Gomes deixa claro que está de costas voltadas co ma liderança, facto que foi dito directamente ao presidente do MpD. “Apoiamos a candidatura do Ulisses Correia e Silva à liderança do partido porque concordamos com a gestão que faz do país. Mas não concordamos com a forma como dirige o MpD. Podem falar de ruptura ou chamar o que quiserem, mas não pactuo com a violação dos Estatutos. Augusto Neves não foi eleito pelos militantes. Ele é membro da Direção Nacional, eleito em uma convenção em 2020. “
Confrontado se existe condições para continuar como coordenador da CP do partido em São Vicente, este garante que está tranquilo e vai continuar a trabalhar. Isto porque, afirma, o partido pertence aos militantes e não à cúpula, que é formado por um grupo de aristocratas que querem apoderar-se do partido e que se utilizam do MpD. “Sem o partido não conseguem governar. Querem é ser governantes, mas não querem ser militantes. Nós somos militantes do MpD. Prestamos um serviço voluntário. Não pretendemos ser governantes. Não estou em ruptura com ninguém, mas sim com a violação dos princípios do partido. E manterei aqui enquanto a minha legitimidade democrática for sustentada. “
Brigas internas
Para este dirigente local, as brigas no partido são frequentes. A título de exemplo, diz que Augusto Neves e Maria Santos nunca se entenderam durante a gestão desta, mas agora estão numa lista única. Igualmente, o deputado Vander Gomes e o Domingos Ressureição nunca estiveram em sintonia. Uma união conseguida pelo presidente do partido, mas que romper a qualquer momento. “Correia e Silva me garantiu que estaria no terceiro lugar nesta lista e aceitei. Mas a questão não é a posição porque, sendo uma lista única, estaria na Convenção. Mas preferi não ir porque o processo não foi transparente.”
Perguntado se se sentiu humilhado com o 12 º lugar da lista, Armindo Gomes alegou que Augusto Neves não lhe pode desrespeitar porque não tem moral cívica e nem política para tal. “Não me sinto desrespeitado por uma pessoa que não reconheço nele esta capacidade. Tentou, só que ele que me desculpe mas não dou trela. Sou o presidente da Comissão Política Concelhia. Não aceito violações das regras, quando não há transparência e nem seriedade. Aceitei, mesmo assim, integrar esta lista em nome da unidade podre que se instalou no seio do partido, mas que daqui a pouco já se sabe o que vai acontecer. Enquanto não houve transparência, rigor e seriedade as pessoas vão se associar apenas por conveniência pessoal. Não vendo a minha consciência. Não me vendo”, conclui.