Enapor surpreendida com decisão unilateral do comandante do Seven Seas Voyager de abortar atracação

A Enapor foi surpreendida com a decisão unilateral do comandante do navio de cruzeiro Seven Seas Voyager de abortar a atracação, que era aguardado com expetativa para a festa de inauguração do Terminal de Cruzeiros de São Vicente, alegadamente devido ao vento. De acordo com o piloto da empresa, o Comandante César Graça, todas as condições estavam reunidas para receber o navio e os rebocadores Monte Cara e Cabo Verde a postos, mas foram informados, após insistência, de que o navio de cruzeiro seguiria viagem para o próximo porto, no caso das Canárias. 

Em conferência de imprensa no Mindelo, César Graça garante que estava tudo pronto, inclusive vestiu o seu fato de gala para o grande evento. Neste sentido, desde cedo encetou comunicação com o navio, cumpriu o check list e preencheu os últimos itens no porto com anemômetro para medir a velocidade e direção do vento. “Fizemos as medições e contactamos a logística dos rebocadores Monte Cara e Cabo Verde. Demos por concluído o check List e informei ao navio que podia aproximar-se para fazer o embarque do piloto para atracação. A lancha zarpar do porto e, no caminho, combinado o porto de atracação, que poderia ser a estibordo ou bombordo, ou seja, à direita ou à esquerda,”, esclarece. 

Na sequência, prossegue, o comandante do cruzeiro decidiu que o embarque do piloto seria no lado esquerdo, o que, no entender de Graça, tiraria algum brilho à festa preparada pela Enapor porque o navio ficaria com a cara para o mar e não para a cidade. Mesmo assim, frisa, a decisão do comandante prevaleceu. Continuaram a aproximar-se, mas não chegaram a embarcar porque, quando estavam a cerca de 50 metros do cruzeiro, foram informados via rádio que iria abortar a manobra. “Perguntamos os motivos e o comandante respondeu que a velocidade do vento estaria demasiado. Explicamos que, do nosso ponto de vista, poderiam atracar. Mas aqui se trata de duas competências diferentes.”

César Graça ainda insistiu e, segundo ele, o comandante reuniu a sua equipa que faz a avaliação das manobras, mas decidiram abortar a manobra em definitivo e seguir viagem para o porto mais próximo, no caso nas Canárias. Instado pelos jornalistas se estavam reunidas as condições técnicas para realizar a operação em segurança, o piloto repete que são dois comandantes que se reconhecem, cada um com a sua competência, mas respeita a decisão do colega.  

“O que posso dizer é que a logística estava montante, estávamos prontos. Dentro de 3/4 minutos a lancha de pilotos atracaria no costado do navio e eu subiria para o ponto do comando para, conjuntamente, atracarmos o cruzeiro. As condições do porto aqui são excelentes e as defensas marítimas – equipamentos instalados em portos e cais para proteger embarcações e estruturas portuárias durante a atracação – estão dentro parâmetros internacionais. Penso que estavam reunidas praticamente todas as condições.

Em jeito de esclarecimento, este piloto da Enapor revela que o maior cruzeiro do mundo é Icon of the Seas, da Royal Caribbean, com 365 metros de comprimento. E o cais do terminal é desenhado para navios deste gabarito. O cumprimento do nosso cais é maior que três campos de futebol ligados, e está preparado mesmo em termos de calado.”

Alega que esta não era a primeira viagem do navio à Cabo Verde, embora possa estar com outro comandante. “Eventualmente, poderia ser a primeira vez do comandante. Mas não posso precisar porque não consegui subir a bordo e nem ver as pessoas”, pontua, acrescentando que a Enapor teria todo o prazer em receber o cruzeiro e tinha tudo preparado. A título pessoal, diz, seria a sua manobra número seis mil, e teria um sabor especial porque coincidiria com a inauguração do terminal.  

Este sublinha que, possivelmente, o navio está equipado com VDR (Voyage Data Recorder), que é uma espécie de caixa preta que regista todas as informações a bordo mas que só pode ser consultado com autorização das autoridades. Já a assessoria de comunicação da Enapor informou que o comandante deverá enviar um relatório com esclarecimentos, que poderão ser disponibilizados mais tarde. 

Sair da versão mobile