Cinco beneficiários do programa de empreendedorismo da The Tony Elumelu Foundation relataram na tarde de ontem as suas experiências e responderam às questões de uma plateia constituída na sua maioria por jovens, que lotaram o auditório Onésimo Silveira da Uni-Mindelo para participar no encontro promovido por essa instituição de filantropia em África virada para a iniciativa jovem, em parceria com o Governo. O Secretário de Estado Adjunto Carlos Monteiro aproveitou este encontro, que antecedeu a abertura na manhã de hoje do Fórum Nacional da Juventude em S. Vicente para instigar os empreendedores nacionais a aproveitarem esta oportunidade ímpar.
Coube a Vânia Ferro, focal point da The Tony Elumeu Foundation, apresentar esta instituição e falar do empreendedorismo enquanto força para combater a pobreza e alavancar a economia de um país. De acordo com esta jovem, Tony Elumelu, com a sua atitude inquieta e proactiva e de olhos postos e acreditando nas potencialidades de África, criou a fundação em 2010. “Tal como Tony teve a sorte de ser identificado, desde 2015 está a sinalizar jovens, mulheres e homens africanos que, com a sua criatividade e inovação, estão a solucionar problemas de mercado, produtos e serviços com treinamento, mentoria, financiamento e trabalho em rede, com a promessa de acesso a oportunidades para a próxima geração”, frisou.
E um dos jovens empreendedores identificados em Cabo Verde foi Anderson Fidalga, um cubano-caboverdiano, licenciado em Comunicação Social e com o MBA em Gestão e Marketing, que se viu confrontado com o desemprego no regresso ao país, após concluir a sua formação. Para driblar o desemprego, decidiu empreender e hoje fala com orgulho da sua empresa Marcas Lda. Segundo Anderson Fidalga, descobriu o programa da fundação por acaso, enquanto estava no Facebook a tentar angariar clientes.
Descoberta por acaso
“Alguém partilhou a plataforma e decidi entrar para ver em que consistia. Quando vi que preconizava capacitar empreendedores em toda a África pensei: isso não é para mim, até porque tinha apenas uma ideia de negócio. Decidi fazer a minha inscrição, apesar de não levar muita fé. Passei três noite a fazer um plano de negócios. Até que um dia recebi um email a dizer que o nosso projecto tinha sido aprovado. Fiquei em êxtase. Mas, mais importante que o dinheiro que rebemos – um financiamento de 5 mil dólares -, foi a jornada que tivemos com os mentores que nos treinaram e ajudaram a concretizar a nossa ideia. Tony Elumelu Foundation foi um divisor de águas para nós”, relata Anderson Fidalga.
Na mesma linha seguiu Rosalina Lima, que é natural de Santo Antão e licenciada em Gestão e Organização de Empresas. Esta jovem, formada na área de empreendedorismo e gestão de negócios, mostrou ter uma visão clara daquilo que é preciso para se ser um empreendedor de sucesso. “Para mim, empreendedorismo tem de ser um casamento entre o empreendedor e a sua ideia de negócios. Não se pode empreender apenas pelo dinheiro. É preciso ter um propósito, ter uma grande motivação. Sempre fui optimista e encontrei o apoio que precisava na Fundação Tony Elumelu. Recebi um treinamento de 12 semanas, que foi muito importante. Hoje sou sócia-gerente da Nature Babosa, uma linha de cosmético que está a ter grande aceitação no país. E tenho uma rede de contactos lá fora, através da fundação.”
Da ilha do Maio veio o Samir da Cruz Silva, também ele empreendedor da Tony Elumelu e hoje mentor deste programa. Para este jovem – que é ainda formador e consultor acreditado da ProEmpresa, com trabalhos de consultoria em Cabo Verde e em vários países africanos, como São Tomé e Príncipe, Nigéria, Tanzânia e Congo – a formação e o treinamento proporcionados por esta instituição são, sem sombra de dúvida, mais importantes do que o dinheiro porque dão aos empreendedores ferramentas para a vida.
Aproveitar as oportunidades
Foi esta a mensagem que o SE Adjunto do Ministro do Estado tentou também passar aos presentes. Para Carlos Monteiro, esta é uma oportunidade que os jovens empreendedores nacionais não podem perder, principalmente tendo em conta a problemática do financiamento ao empreendedorismo jovem em Cabo Verde. “Quando o Sr Tony Elumelu aceitou o convite do Primeiro-ministro para estar presente no Fórum Nacional da Juventude, que arranca na manhã de hoje, ele mostrou interesse em promover um evento paralelo para dirigir directamente aos empreendedores de Cabo Verde, de São Vicente em particular”, explica Monteiro, realçando que este interesse foi acolhido de bom agrado e, inclusive, o Governo ajudou a montar o evento na Universidade do Mindelo.
“Há nove anos que a Fundação Elumelu tem vindo a fazer um trabalho de empoderamento da juventude africana e Cabo Verde não podia ficar de fora. Se calhar, vêm o nosso país como uma porta de entrada para a massificação da sua presença nos países que falam português. Os empreendedores de São Vicente e de Cabo Verde devem, pois, aproveitar o engajamento desta fundação. Estamos a falar de uma das maiores instituições de filantropia em África, focalizada no empreendedorismo jovem. Cabo Verde precisa começar a aproveitar as oportunidades”, insistiu o SE Adjunto do Ministro do Estado, acrescentando que o papel do Governo, neste caso, é facilitar e criar caminhos para estas instituições.
Esta fundação, que se propõe identificar 10 mil startups e empreendedores em África que possuam ideias com potencial para o sucesso, capacitar as empresas via treinamento, mentoria, acesso a financiamento, informações e participação na sua rede de ex-alunos por todo o continente e ainda criar empresas que possam geral pelo menos um milhão de novos empregos, foi apresentada por um dos seus membros. Da Nigéria, veio também um testemunho de uma empreendedora da fundação, que exaltou as qualidades dos seus colegas cabo-verdianos que, afirmou, com pouco têm conseguido fazer muito.
Constânça de Pina