O deputado do MpD Emanuel Barbosa defendeu, na sua página do Facebook, a retirada da imagem do revolucionário Amílcar Cabral das instituições do Estado em Cabo Verde. Barbosa fundamenta que Cabral “nunca foi” e não é uma figura do Estado, pelo que não se justifica a permanência das suas fotos em espaços públicos, ao lado, por exemplo, da fotografia do Presidente da República.
O seu posicionamento surge depois de este ter visto a foto de Amílcar Cabral na sala vip do Aeroporto Internacional Aristides Pereira, na Boa Vista, ao lado das figuras de Jorge Carlos Fonseca e de Cesária Évora. Para este deputado, tal constitui uma estratégia subjacente de instalar nas pessoas a ideia de que Cabral foi uma figura do Estado e da República. “Sabemos todos que não. Pois morreu antes da independência, isto é, antes da criação do Estado de Cabo Verde, primeiro autoritário, depois, o de agora, democrático.”
Pelas razões apresentadas, Barbosa considera inaceitável que as fotos de Amílcar Cabral estejam afixadas em estabelecimentos do Estado. “Quanto muito é um Herói Nacional, uma figura nacional, como Leitão da Graça, Mascarenhas Monteiro, entre tantos outros, que se assumiram sempre como cabo-verdianos por cujos interesses se bateram”, explica.
Daí, para este deputado, considerar Amílcar Cabral uma figura do Estado constitui “um exagero”, além de ser uma leitura falsificada da história, uma vez que as figuras do Estado estão todas plasmadas na Constituição. “Cabo Verde hoje dispensa tutelas mitológicas e políticas, próprias de regimes de partido único.”
Esta declaração suscitou várias reações no Facebook, alguns concordando e outros defendendo a importância que teve a luta de Cabral para a história de Cabo Verde. “Há certas pessoas em Cabo Verde que pretendem apagar a história com uma borracha. As tentativas da década de 90 pelos vistos resultara em zero. Basta regressarem ao poder para começar a saga de ataques à historia de Cabo Verde e aos seus autores”, considerou José Sanches. “Amílcar Cabral não é figura do Estado, mas sim figura da humanidade. É a figura cimeira da nossa história, se este MpD, que se identifica com a extrema direita, o queira apagar da história de Cabo Verde são outros quinhentos”, defendeu Alexandre Nuno Pires.
“A política deve, em todo o momento, ser feita com elevação. Um eleito pelo povo cabo-verdiano deve, a todo o momento, ser reconhecedor e promotor do legado de Cabral. Legado esse que ultrapassa as nossas fronteiras e é o mesmo que orientou a nossa independência e lhe permite ser deputado”, frisou Rively Duarte. Para Irene Évora, a mensagem de Barbosa constitui uma “vergonha nacional”. Ela pergunta ao deputado se foi a Bubista ver quadros nas paredes do aeroporto ou ouvir as preocupações dos residentes. Sem papa na língua, Évora diz que Barbosa foi descansar as pernas na ilha das dunas, recarregar baterias para voltar ao Parlamento e fazer aquilo que melhor os deputados sabem fazer: nada vezes nada.
Segundo Júlio Monteiro, deste modo, deveria-se retirar a foto de Amílcar Cabral do aeroporto e colocar um de Emanuel Barbosa. “Deputado palerma!”, atira o internauta. Por outro lado, Maika Lobo, que diz compreender as declarações de Emanuel Barbosa, considera um exagero comparar a figura de Amílcar Cabral aos “respeitados” José Leitão da Graça e Mascarenhas Monteiro. “Na vida e no mundo cada um tem o seu lugar na história. E não podemos baralhar estes lugares.”
Natalina Andrade (Estagiária)