Os deputados do MpD, PAICV e UCID eleitos pelo círculo eleitoral de São Vicente usaram o Parlamento, uma vez mais, para discutir responsabilidades sobre o chumbo da lei da Regionalização, cada um lavando as suas mãos sobre o desfecho do processo. Este debate teve como pano de fundo a manifestação de 05 de Julho que movimentou toda a ilha. Para internautas mindelenses que acompanhavam o debate, tratou-se de um momento para se falar “cuntina”.
Foi uma discussão estéril protagonizada pelos deputados João do Carmo e Manuel Inocêncio (PAICV), Rui Figueiredo, Celeste Fonseca e Mircéa Delgado (MpD) e António Monteiro da UCID, que começou a partir de uma intervenção do antigo Secretário-Geral do partido “tambarina”. Ao usar da palavra, este disse que o seu partido vai trabalhar para uma ampla reforma do Estado, para a limitação de mandatos dos poderes políticos, para a votação nominal em listas fechadas, redução da estrutura do Parlamento e da Administração Pública, no sentido de permitir a libertação de recursos para se poder trabalhar as reformas e, principalmente, no reforço dos poderes dos serviços desconcentrados do Estado. São promessas que o PAICV fez em 2016 e que João do Carmo reforça agora, caso o seu partido merecer a confiança do eleitorado.
Num tom irónico, Rui Figueiredo perguntou ao deputado do PAICV se foi só isso que o seu partido prometeu, para acrescentar de imediato que, se for o caso, então do Carmo deveria ter votado a favor da Regionalização. “Não sei com que cara vai se apresentar aos saovicentinos. A sua tarefa em 2021 será muito dificultada, se estiver na lista, com o chumbo da Regionalização”, prognosticou Figueiredo.
Endossando esta declaração, Celeste Fonseca também optou por perguntar a João do Carmo se é sério que o partido tinha todas essas intenções. “O PAICV, mais uma vez, ficou pelas boas intenções. Já disse e volto a repetir que, a partir do momento em que foi uma força de bloqueio para a aprovação da Regionalização, perdeu legitimidade para vir com este tipo de discurso”.
Neste jogo de ping-pong, a bola voltou para João do Carmo e depois para Rui Figueiredo, sempre na mesma toada. Seguiu-se uma intervenção de Manuel Inocêncio, realçando que foi o MpD que vendeu ilusões às gentes de São Vicente com uma promessa de Regionalização, lembrando que este partido não poderia nunca aprovar esta proposta sozinho. “O PAICV prometeu sim um forte programa de desconcentração e regionalização, a seu tempo, na medida em que tínhamos de discutir e consensualizar uma proposta neste sentido. Apresentamos neste Parlamento uma proposta consistente de Regionalização para o país. Já o MpD sempre tratou a Regionalização como um instrumento de campanha política apresentou uma proposta ligeira”, frisou.
Respondendo, Rui Figueiredo voltou a questionar Manuel Inocêncio se é essa a sua resposta e se a proposta de Regionalização do MpD não é séria. O líder parlamentar ventoinha desafiou o deputado a assumir as suas responsabilidades, apelidando-o de principal bloqueador da Regionalização.
Entrando, no debate, o deputado da UCID foi taxativo: “não houve vontade política nem do Governo e nem do Parlamento para a aprovação da Regionalização”. Este lembrou que durante a discussão e perante o impasse, pediu a suspensão da proposta para se aprofundar as discussões, mas ninguém acatou a sugestão.
Houve ainda troca de galhardetes entre Manuel Inocêncio, Mircéa Delgado e João do Carmo, com ataques de lado a lado, o que não abona a favor da imagem dos deputados e tão pouco de Cabo Verde
Constânça de Pina