Os deputados municipais do PAICV-São Vicente denunciaram hoje a ausência de rede de esgoto na Faculdade de Educação e Desporto (FAED) da Universidade de Cabo Verde e a recusa sistemática da Câmara de São Vicente em autorizar a realização do procedimento, ainda que às custas da própria instituição de ensino. Por conta da situação, diz o porta-voz, neste momento o esgoto está a escorrer a céu aberto. Entretanto, a FAED, que tentou fazer a ligação sem autorização, foi autuada a pagar uma multa no valor de um milhão de escudos em 30 dias.
Esta informação foi avançada à imprensa pelo líder da bancada do PAICV, Nilton Medida, e reforçada por Albertino Martins, vice-presidente da FAED – Pólo do Mindelo, no término de uma visita à instituição. Segundo este eleito municipal, desde a inauguração a faculdade nunca esteve ligada à rede de esgoto, quadro que se agrava paulatinamente tendo em conta o aumento da população estudantil. “Neste momento, praticamente temos um esgoto a céu aberto. O problema é que a Câmara de São Vicente não autoriza a instituição a ligar à rede pública, o que vai criar dificuldades no arranque do próximo ano lectivo. Trata-se de uma questão de insalubridade que pode fazer com que haja um problema real de saúde na FAED, mas também nas zonas circundantes”, declarou.
E é este risco real que levou o partido a fazer a denúncia pública, como forma de pressionar a CMSV a resolver este problema. Lembra Medina que se está no início do verão pelo que é urgente a resolução do problema de esgoto, tendo em conta a proliferação de mosquitos. “Esta também é nossa preocupação. A insalubridade é uma questão de saúde pública e, com o calor e as chuvas, o ambiente será propício para a proliferação de mosquitos.” O deputado aproveitou para apelar à edilidade para resolver o problema e questionou o silêncio da instituição e a não autorização para se avançar com os trabalhos. “Exigimos que a Câmara tenha uma ação institucional com a FAED, que tem tentado por diversos meios abordar a edilidade”, pontua, citando as notas trocadas entre as duas instituições, sem resposta.
O líder da bancada do PAICV garantiu, por outro lado, que a própria Delegacia de Saúde de São Vicente já alertou sobre a situação e deixou claro que aquela instituição de ensino não pode funcionar sem ligação à rede de esgoto. Lembrou que a FAED alberga atualmente mais de 600 pessoas, entre alunos, professores e funcionários, mostrando-se incrédulo com a situação, sobretudo depois de visitar a cave da faculdade, espaço que está inundado de água de esgoto. “É uma situação inaceitável. A cave representa um risco para a saúde pública e está a pôr em perigo a própria estrutura deste edifício, onde trabalham centenas de pessoas. E a cave tem a porta virada para a biblioteca. Os estudantes não conseguem estar na biblioteca porque o cheiro é nauseabundo”, acusou.
Águas negras na cave da FAED
Do lado da FAED, o vice-presidente Albertino Martins revelou que há largos meses estão a conviver com um problema grave de acumulação de águas negras na cave do edifício do Cortiço. “Chegamos a ter cerca de dois metros de água acumulada na nossa cave, que tem uma dimensão considerável e isto para nós é um motivo de preocupação. A Delegacia de Saúde alertou-nos para a resolução do problema e procuramos dialogar com a Câmara de São Vicente porque é um aspecto que nos ultrapassa. O problema é que não estamos conectados à rede pública e a CMSV não autoriza o processo”, indicou.
Em jeito de exemplo, cita pelo menos uma nota enviada ao edil mindelense, solicitando a autorização para fazer a ligação do edifício ao esgoto, inclusive às custas da própria FAED, ou seja, sem qualquer despesa para a CMSV. Mensagem esta ainda sem resposta. Evocou igualmente os constrangimentos que a situação provoca à população estudantil, mas também à vizinhança, designadamente ao Bispo do Mindelo, provocados por mosquitos.
Por conta disso, a FAED contratou uma empresa de construção civil para iniciar as obras, primeiro internamente e, posteriormente, na zona pública, sem autorização da Câmara Municipal de São Vicente. “Estávamos conscientes de estar a fazer uma intervenção sem autorização da Câmara, mas foi em desespero de causa. Cortamos o passeio e fizemos toda a ligação de tubagem, mas, quando chegamos ao asfalto onde iríamos dar à boca de esgoto, fomos autuados com uma coima de um milhão de escudos para serem pagos no prazo de 30 dias,” informa Albertino Martins.
Diante da intransigência da CMSV, e para tentar minimizar o problema, revelou, a Faculdade de Educação está a pagar uma empresa privada para retirar a água da cave, com custos superiores aos 100 contos. Trata-se, disse, de uma despesa incomportável para a instituição, que considera este expediente apenas um “paliativo”. Para Albertino Martins, a solução definitiva deste sufoco passa pela ligação dos dois edifícios – o Cortiço e o novo prédio – à rede pública de esgoto.