Dia internacional da mulher celebrado com “encontro de gerações” na OMCV

A sede em São Vicente da Organização das Mulheres de Cabo Verde acolheu esta manhã um encontro de gerações, onde foram discutidos os problemas sociais de antes e agora. O evento, enquadrado no programa do dia internacional das mulheres e dos 40 anos da OMCV, contou com a presença de mulheres de diferentes partes da ilha, mas também de fundadores e pessoas que estiveram desde os primeiros tempos ligados à instituição.

Uma das participantes foi uma das fundadoras da OMCV, a ex-combatente pela independência nacional, Maria das Dores Silveira, que ressaltou que são 40 anos da fundação da OMCV e outros tantos anos de trabalho, uma vez que esta “energia” começou em 1974. Ressalta que desde aquela época que se discutem os direitos das mulheres, desde o desenvolvimento, a emancipação e a formação de quadros femininos.

De acordo com Silveira, no início o foco era só as mulheres, mas no decorrer dos anos tiveram que aproximar os homens da instituição, uma vez que, com a criação do PMI-PF, para planeamento familiar, muitos homens não encararam com agrado a iniciativa. “Explicamos para eles a importância do planeamento para a mulher, para a família e para toda a sociedade e todos os anos dizíamos que a data deveria ser comemorada por todos, não só por mulheres, porque os benefícios são para a sociedade. A partir do momento em que uma mulher evolui, que passa a contribuir e preocupar com outros assuntos, que passa a ter mais formação, a ter opinião, a participar da vida política, por exemplo, é motivo de orgulho, inclusive para os maridos”, diz.

Esta acredita que ao nível internacional a mulher se tem encontrado, graças ao suporte também dos governos que têm políticas implementadas neste aspecto, diferente do que tem observado em Cabo Verde. “O empoderamento que se fala não reside apenas no facto de o direito ao trabalho, a remuneração igualitária também conta e isso ainda não acontece no nosso país e em muitos outros onde a discrepância salarial é gritante”, lamenta Maria das Dores Silveira, também ex-vereadora da CM de São Vicente.

Desta forma aponta que deveria haver outras ONG’s, mas também pessoas a trabalhar na base de alguns problemas, a auxiliarem as mulheres  a resolverem problemas de saúde, mas também na emancipação, motivação e na valorização de si mesma.

De acordo com Silveira, enfrentaram ao longo dos anos vários poderes, como a igreja, os maridos por exemplo, para a implementação da lei do aborto, para que as mulheres não continuassem a abortar na clandestinidade e evitar problemas para as suas saúde. No entanto tem informações que ainda acontecem abortos clandestinos no país.

Explica que era necessário ser o Estado a disponibilizar meios para prestar esse serviço à sociedade, por se tratar de uma questão de saúde pública, para que a vida das meninas e das mulheres não fossem colocadas em causa.

Por isso ressalta que a questão financeira das mulheres é importante, mas que ainda faltam outras fundamentais que outras ONGs deveriam assegurar.

Maria Silveira enumera haver necessidade de serviços sociais, do trabalho afundo nas comunidades, nas escolas, com os homens para a mudança de mentalidades e a descoberta da raiz para muitos males da sociedade

Para a delegada da OMCV, Fátima Balbina Lima, o dia da mulher é todos os dias, entretanto frisa que este dia é mais para reflexão e de chamada de atenção dos seus direitos e da luta pela igualdade. “Por isso no nosso lema ‘OMCV quarenta anos a empoderar a mulher’, quisemos promover um encontro com as gerações para troca de experiências e perceber se 8 de Março tem cumprido os objetivos pelos quais o dia foi criado, o que é preciso fazer mais e ver o que juntos podemos trabalhar pelas que ainda passam por dificuldades.”

Acrescenta que se aborda questões sobre mulheres em todas as esferas da sociedade, mas que se esquece daquelas que estão nas suas comunidades e por isso diz que essa reflexão é especialmente para elas. Balbina acredita que a descrença por este dia reside no facto das mulheres não sentirem avanços nas suas vidas, e das condições continuarem igual e desta forma que a luta deve ser todos os dias. “É preciso estar dentro das comunidades para ver o que é necessário fazer, não só da alimentação, tem que se ver as outras carências. É necessário deixar que sejam elas a falar das suas dores e não as instituições”, diz.

Falar de 8 março, para esta dirigente, é falar de empoderamento, desenvolvimento, educação, cultura, emprego estável e segurança social.

A jovem Romina Brito, de Fonte Francês e que participa de um evento sobre a mulher pela primeira vez, acredita que a mulher conseguiu ao longo dos anos muitos avanços. No entanto, que o poder público não costuma se dirigir às comunidades como deveria para falar de questões relacionadas com a mulher. A razão de ser a primeira vez a estar neste tipo de evento reside nos facto de desconhecimento que aconteciam. O que mudou foi o seu trabalho como voluntária na OMCV e ter assim recebido um convite para estar presente.

Para esta costureira, em lay-off, é preciso dar mais chance às mulheres para que melhorem de vida. “Trabalho numa fábrica e neste momento eu e algumas colegas estamos paradas e, se pedirmos ajuda para podermos por exemplo trabalhar em casa, temos que esperar muito e muitas vezes não recebemos resposta”, diz. A OMCV foi das poucas instituições que as acolheu e aprendem enquanto fazem voluntariado.

Dentro da sua zona, expõe que não há oferta de nada e nem se ouve falar em direitos e destaca que a sua ida à OMCV foi importante para a sua vida pessoal e carreira profissional. “Nestes dias aprendi muito, já vi muita coisa, como cortar. Já sei cozer uma calça de uniforme escolar, já faço muitas coisas de bebés e só tenho a agradecer à OMCV”, conclui a jovem.

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