Os deputados do PAICV, João do Carmo e Josina Freitas, fizeram esta manhã um retrato negativo do Estado da Nação em vários sectores, reproduzindo o sentimento dos mindelenses nos encontros e audições mas também espalhado nas redes sociais em páginas bem identificadas que reflectem a sociedade civil sanvicentina. Para João do Carmo, a desculpa da pandemia da Covid-19 e da guerra na Ucrânia que vem sendo utilizada para para justificar a ineficiência das medidas e o incumprimento não cola, porquanto, em fevereiro de 2020, a situação era idêntica ao actual.
De acordo com este eleito nacional tambarina, dos contactos com as pessoas em São Vicente puderam perceber que, efectivamente, fazem uma leitura negativa do Estado da Nação. “O povo de SV não esquece da declaração do Governo, feita em 2016, que iria travar o desenvolvimento desta ilha; o povo de SV sente-se altamente injustificado pelo alto preço diferenciado na ligação aérea SV-Lisboa; o povo de SV sente-se sufocado todas as vezes que procura os serviços do HBS; os jovens de SV sentem-se desesperados pela falta de emprego; as pessoas com baixa renda não têm apoio das instituições públicas; o numero de casas de lata aumenta diariamente”, descreve.
Diz ainda Do Carmo que a Zona Económica Especial Marítima é uma das maiores ilusões jamais vistas na ilha; as ligações marítimas com Praia, São Nicolau, Sal e Boa Vista são um desespero e falta de respeito para com a população e a incapacidade de liderança do poder municipal para um bom andamento da gestão do município preocupa os sanvicentinos. Este aproveita para criticar o alto nível de propaganda deste Governo, associado à sua fraca capacidade de realização, e o modo como do seu ponto de vista o MpD relaciona com o Poder que, diz, entristece qualquer um.
O deputado apresentou uma avaliação partilhada nas redes sociais para mostrar as notas negativas que os sanvicentinos atribuem às instituições e empresas, caso da TACV, CV Interilhas, Correios, CV Telecom, T+, HBS, ZEEMSV, Augusto Neves e Correia e Silva. “O povo de SV reprova todas estas instituições mostradas nas redes sociais e que fizemos questão de aqui trazer. Após esta classificação feita pelo povo de SV e esta leitura do Estado da Nação, só nos resta lamentar pela forma como este país está a ser governado. Os sinais de regressão neste Cabo Verde que todos amamos estão evidentes. Acreditamos em Cabo Verde e que dias melhores virão.”
É este retrato que os deputados tambarina vão levar para o Parlamento, de acordo com Do Carmo, para quem não se pode fazer melhor leitura do Estado da Nação do que aquela feita pela sociedade civil e que vai ao encontro da apreciação e leitura do partido. Entre os vários sectores sinalizados, este eleito nacional cita, de forma particular, o problema dos transportes, um dossiê que o PAICV tem dado uma atenção pessoal desde a anterior legislatura. E hoje, enfatiza, está mais do que provado que todas as intervenções feitas sobre esta matéria dão razão ao partido. Ou seja, não houve concurso, mas sim uma adjudicação directa à uma empresa. Mais: o Governo enganou e não apoiou os armadores nacionais, rejeitou um projecto da armação cabo-verdiana que tinha viabilidade financeira e econômica.
“Ao invés, o Governo insistiu na escolha de uma empresa portuguesa e hoje temos uma situação que é um desrespeito aos cabo-verdianos em relação a ligação marítima interilhas”, confessa, referindo que Cabo Verde está a regredir em vários sectores, sendo o dos transportes o mais visível. Aliás, afirma, nunca Cabo Verde esteve nesta situação, desde a independência nacional. “O Governo da Primeira República conseguiu resolver o problema da ligação interilhas e das ilhas com o mundo. Depois que o MpD entrou no Governo, teve uma má politica para o sector dos transportes marítimos e aéreos”, declara o deputado tambarina, apontando como exemplo a recente situação da não certificação que descreve como sendo um exemplo claro de amadorismo e de mediocridade na gestão da coisa pública.
A situação de São Vicente é ainda mais grave porque mistura a governação nacional do Governo, com a gestão municipal. Segundo Do Carmo, das audições feitas, constataram que preocupa bastante o povo desta ilha o imbróglio a nível municipal porque dificulta o desenvolvimento da ilha. “A Câmara Municipal como está, São Vicente fica a perder. Os sanvicentinos estão a perder com este imbróglio político. E isto agrava ainda mais o estado das coisas nesta ilha”, afirma, realçando que o PAICV comprometeu e compromete a ajudar, mas não depende do partido o estabelecimento da normalidade na CMSV.
Sobre este particular, lembra que quem ganhou as eleições foi o MpD e cabe a este partido maior responsabilidade na resolução desta questão política, junto com o presidente da Câmara. Agora, diz, a bola está do lado do Governo, mais precisamente da tutela dos municípios, que precisa com urgência tomar uma posição política correcta em beneficio dos savicentinos e da ilha de São Vicente.