O Presidente da Republica lançou hoje no Mindelo um forte apelo, na abertura oficial da Cabo Verde Ocean Week, para que esta semana seja uma oportunidade para o inicio da construção de um novo pacto em prol da gestão sustentável dos oceanos e do crescimento da economia azul. José Maria Neves foi ainda mais além e desafiou os participantes a criarem um ambiente favorável à diversificação e ao robustecimento da economia marítima nestas ilhas atlânticas que, afirma, tanto almejam encontrar a ancoragem necessária para um mergulho neste imenso mar de oportunidades e em assentar os pilares desta autoestrada rumo a um futuro de progresso para todos.
O Chefe de Estado, que começou a sua intervenção pedindo desculpas pelo atraso, resultante de constrangimentos que ainda restringem o desenvolvimento do país, afirmou que é sua convicção de que a Cabo Verde está reservado um caminho largo no que ao mar, aos oceanos e às oportunidades que estas engendram dizem respeito. Neste sentido, falou das muitas alternativas oferecidas por estes para alavancar a economia, ressaltando que o país tem ao seu dispor quase 200 vezes mais mar do que terra. E ainda com possibilidades de crescimento do território marítimo casos as pretensões de alargamento da plataforma continental venham a ser concretizadas.
“A economia marítima, associada ao vasto leque de actividades turístico-recreativas, das industrias marítima-portuária, dos transportes e da reparado naval, a pesca declarada, legal e regulamentada, a segurança marítima, a investigação orientada para a exploração inteligente e sustentável dos recursos marinhos, abre caminho a adoção de politicas de conservação, valorização e protecção do patrimônio costeiro e marítimo para o conhecimento das grandes mudanças climáticas em curso e seus impactos sobre os oceanos, a instalação de mecanismos de prevenção através de sistemas de alertas prévios de fenômenos marítimos extremos, em parceria com Centros de Investigação, universidades e agencias especializadas, a formação de marítimos capitalizando os conhecimentos acumulados ao longo da nossa historia.”
A estes juntou ainda o bankering e o turismo, sendo que este, disse JMN, tem sido o motor da economia de Cabo Verde, ainda que a sua contribuição para o crescimento do PIB não tenha ainda a devida tradução estatística. Neste sentido, entende JMN que cabe ao Estado e ao sector privado, empreendedor, inovador e realizador aproveitar este interregno imposto pela pandemia da Covid-19 para, nesta nova etapa, fazer mais e melhor, para que o potencial ainda por explorar no sector do turismo seja aproveitado com maior efectividade. Lembrou, entretanto, que o mar extenso também impõe responsabilidades ao Estado, Aliás, frisou, nas ultimas décadas cresceram as preocupações sobretudo por conta das praticas ilícitas no mar, da pesca ilegal, do trafico de substancias raras e de humanos por via marítima, DA pirataria, DAS pilhagens dos recursos de profundidade e do subsolo marítimo.
“São desafios que também geram novas oportunidades para Cabo Verde, desde que compreendidas e transformadas em áreas de especialização e de prestação de serviço no Atlântico Médio. Entretanto, requerem uma forte agenda diplomática e de cooperação multilateral e bilateral pois o combate eficaz destas novas ameaças requerem muita coordenação e conjugação de esforços de varias estados, organismos e agencias, multilaterais, regionais e internacionais.”
Plástico na profundeza do planeta
Para o Ministro do Mar, que fez o seu discurso antes do Presidente da República, a CVOW já é uma marca internacional que, a partir do Mindelo, coloca a grandeza dos oceanos no centro das atenções e celebra o mar com reflexões imprescindíveis para o desenvolvimento, exploração e gestão sustentável para as gerações vindouras. ”Iniciamos hoje uma semana de muito trabalho, cultura e entretenimento em torno do mar e da economia azul, através desta quarta edição da CVOW, sob o lema nosso oceano, nossa riqueza bem-estar, que faz da cidade do Mindelo palco de todos os oceanos”, disse Paulo Veiga, para quem este certame reveste-se de muita importância para Cabo Verde.
“Por isso, o Governo, estando fortemente engajado na causa da proteção dos nossos mares e do nosso oceano, na preservação da vida e biodiversidade marinha, na procura de soluções para um mar sem lixo e de estratégias de conservação, organiza todos os anos, através do Ministério do Mar, este evento, que conta com a participação de personalidades internacionais e nacionais, incluindo ministros, embaixadores, altos enviados das Nações Unidas e de outras organizações internacionais, parceiros de Cabo Verde”, pontua. Mas conta também, diz, com a experiência de cientistas nacionais e internacionais, especialistas nas diversas matérias ligadas ao mar, participante em painéis e workshops, versando sobre temas de interesse para a comunidade cientifica e publico em geral.
Segundo o governante, a principal preocupação neste momento é a poluição dos oceanos, incluindo o plástico, que deve merecer uma atenção especial, medidas acertavas e coerência na assunção de responsabilidades. Sobre este particular, alertou para a presença do plástico no mais profundo do planeta, situado em 11 mil metros de profundidade, onde o homem não é capaz de chegar. “Tal descoberta constitui a maior e preocupante prova da dimensão do problema e diz-nos que é chegado o momento de se conscientizar e fazer o possível para reverter esta situação, sempre ciente de que tudo o que for feito agora será pouco diante da urgência do problema.”
São Vicente e o mar
Enquanto anfitrião, o presidente da Camara de S. Vicente fez um breve “passeio” pela historia da ilha, intrinsicamente ligada ao mar, desde aluguer de carroças, botes de pescas, dos ship chandler, das grandes casas comerciais hoje extintas, dos negociantes da baía, trabalhadores do porto e carregadeiras, estivadores, de entre outros, para dar as boas-vindas a quarta edição do CVOW Uma história rica e de sucesso que ainda desperta nostalgia. “Estamos em uma terra de marinheiros, local perfeito para mais um ano do Ocean Week”, disse o autarca Augusto César Neves, acrescentando que “temos uma missão importante se quisermos dar corpo a visão de Cabo Verde como uma nação economicamente sustentável, também pela geografia e pela sua grande região marítima de que dispõe”.
Voltando ao presente, o edil acredita que ainda se pode reviver esta época áurea de São Vicente, com investimentos estruturantes, caso do terminal de cruzeiros, com incentivos e/ou o estabelecimento de parcerias com empresas. Esta pode ser uma forma de promover um maior contacto com o mar. Igualmente importante será a realização de eventos náuticos nacionais e internacionais de relevo como forma de promoção e divulgação de modalidades náuticas. Mas adverte que é necessário estimular uma maior ligação entre as praticas náuticas e as escolas, no que se refere a educação física e actividades do tempo livre, conscientizando as camadas mais jovens para a importância do mar.
Estiveram presentes na cerimónia oficial de abertura do CVOW, para além dos intervenientes, deputados da naça6o, presidente da AMSV e da Camara do Paul, Bispo do Mindelo, embaixadores da Espanha e da França, representantes de organismos internacionais, reitora da UTA, da Geomar e conferencistas convidados.