Celso Ribeiro, vice-presidente da bancada parlamentar do MpD, vai substituir Paulo Veiga na direcção do Grupo Parlamentar, por indicação da Comissão Política, na reunião realizada na sexta-feira. Esta mudança no xadrez interno do partido foi anunciada pelo ainda presidente, em conferência de imprensa. Este garantiu ainda que, nas jornadas parlamentares de segunda-feira, Celso Ribeiro obteve o apoio de todos os colegas deputados. “Tivemos uma maioria de deputados presentes, se não me engano 31 de 38”, detalhou.
A nova liderança do grupo parlamentar “ventoinha” deverá ser confirmada nas eleições a serem realizadas na primeira semana de Outubro, referiu Veiga, justificando a sua demissão com problemas de articulação entre a bancada do MpD e o Governo. Disse Paulo Veiga que o líder parlamentar – de acordo com os estatutos do partido e do regimento interno, feito pelos deputados – é quem faz a articulação no sistema MpD. “Tem assento na comissão política, por inerência do cargo, para fazer a articulação entre as orientações políticas que a CP emana para com os deputados que foram eleitos pelas listas do MpD.”
Para além disso, frisou, o líder parlamentar tem a função de fazer a articulação com os membros do Governo, que o grupo suporta e defende. “Isto não aparece do nada. Tenho feito este trabalho com muita dificuldade, especialmente em relação aos membros do Governo. Como sabem, em outubro do ano passado chumbámos uma proposta de uma resolução para que o Estado celebrasse o centenário de Amílcar Cabral. Porquê? Porque, de acordo com a nossa Constituição, e no nosso entendimento, A. Cabral nunca foi Estadista. Então, não pode haver uma celebração acima dos Estadistas, como é o caso do Presidente Aristides Pereira, que fez um centenário e teve uma comemoração. Na nossa opinião, A. Cabral é, sim, um herói nacional, é, sim, alguém importante para a história de Cabo Verde, mas nunca o pai da nação, pois a nação tem 562 anos e o Amílcar Cabral está a comemorar o seu centenário”.
Paulo Veiga deixa claro que o motivo para a sua demissão não é o que tem sido veiculado na imprensa e nas redes sociais, mas sim porque o grupo tomou uma posição. Enfatiza, entretanto, que o governo, com toda a legitimidade, pode rejeitar esta posição.
“Estamos a falar no 12º selo emitido em nome de Amílcar Cabral. Portanto, por respeito e articulação, o Governo deveria comunicar-me o que se passava, os acordos que as instituições como os Correios de Cabo Verde e os Correios de Portugal fizeram. Qual a minha surpresa e dos meus colegas de ver aquilo acontecer da forma como aconteceu. Portanto, há aqui um problema de articulação e eu considerei uma falta de respeito para comigo”, acrescentou, pontuando que precisam ser sérios e firmes na forma como fazem a política.
“Faço política com rigor. Muitas pessoas dizem que isto prejudica o MpD. Acho que ajuda porque mostra que somos um partido democrático. Tenho os meus princípios e não estou de acordo. Não estou em guerra com os membros do Governo, nem com a Comissão Política ou os colegas deputados. Simplesmente, acho que já não tenho condições para continuar a ser líder neste momento porque tomou-se uma posição totalmente contrária. Continuar é fingir que nada aconteceu.”
Este garantiu que sua a decisão resulta de um acumular de situações e, citando uma gíria futebolística, lembrou que não se substitui toda a equipa, apenas um jogador ou o treinador. Pelo que, antes de ser substituído, preferiu demitir-se e dar oportunidade ao partido de escolher um novo líder e talvez melhorar a articulação, que, diz, é muito importante, especialmente em ano eleitoral.
Paulo Veiga aproveitou a oportunidade para anunciar que não é candidato ao cargo de vice-presidente da Assembleia Nacional e prometeu continuar a liderar a bancada do MpD até que sejam realizadas as eleições para a escolha de uma nova direcção, o que deverá acontecer na primeira semana de Outubro.